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sexta-feira, 30 de julho de 2010
Fim do "i" (para mim, claro)
segunda-feira, 26 de julho de 2010
GRANDE MÚSICA
Embora haja quem discorde, quanto a mim existe mesmo a "grande música". Para além de muitos outros compositores, basta ouvir Mahler para se saber imediatamente que isso é verdade. Todos nós teremos certamente trechos musicais que nos acompanham quase desde sempre. Pela minha parte há dois compositores que desde há muitos anos trago permanentemente no carro, primeiro através das cassetes, depois pelos CDs e agora através do leitor de MP3.São eles Bach e Mahler, concretamente através da Cantata BWV 106 conhecida por "Actus Tragicus" e os Concertos Brandeburgueses do primeiro e pelo "Adagietto" da quinta sinfonia, pelo canto do quarto andamento da quarta sinfonia e por toda a primeira sinfonia de Mahler. Não poderei dizer nunca que estas músicas serão suficientes para a satisfação da minha necessidade musical, mas que me acompanham sempre, isso é verdade.
Como não sou especialista, não identifico claramente as razões interiores à estrutura interna das músicas que me levam a gostar mais de umas ou de outras. Mas é um facto que desde que me foi dado ouvir Mahler fiquei instantaneamente rendido à sua música.
Se levou a sua leitura desta crónica até este ponto, o leitor perguntar-se-á provavelmente por que razão estarei para aqui a partilhar gostos pessoais de música. Acontece que a música é uma forma de arte muito própria e completamente diferente das outras. A música entra-nos pelos ouvidos, invade-nos o cérebro e podemos "fechar" todos os outros sentidos, que a música continua. A música "vive" assim completamente dentro de nós e provoca-nos sentimentos íntimos e pessoais como provavelmente nenhuma outra forma de arte. Não há pois outra maneira de abordar este tema senão através da partilha de alguns dos nossos gostos.
Fez no início deste mês 150 anos que nasceu Gustav Mahler. Morreu novo, com 50 anos, e a sua carreira musical verdadeiramente excepcional desenvolveu-se essencialmente como maestro. Era um maestro perfeccionista até ao limite e de uma exigência extrema dos seus músicos, que costumava dizer: "na vida, faço todas as concessões; na arte, não faço nenhuma".
Viveu num período particularmente conturbado da História, que foi a transição do século XIX para o século XX. Nasceu também numa zona particularmente exposta a conflitos sociais, étnicos e políticos: a Boémia. Tendo nascido pobre e judeu e sofrido com todas as dificuldades inerentes a essa condição, tornou-se um maestro respeitadíssimo desde muito novo e chegou a Maestro Titular da Ópera Imperial de Viena com tudo o que isso significava à época. Dirigiu ainda a Metropolitan Opera de Nova Iorque. Com uma vida ocupadíssima como maestro, ficava-lhe pouco tempo para compor. Ainda assim, deixou-nos um legado musical que marca a História da Música de forma indelével, tendo feito a transição da música antiga e do romantismo para o modernismo do século XX com acordes dissonantes e novas sonoridades, pertencendo em simultâneo a esses mundos tão diferentes.
A exigência e rigor extremos que praticava enquanto maestro, verificam-se com igual grau nas suas composições. Nota-se nelas um rigor e um despojamento de artificialismo tais que a sua beleza é indescritível. A complexidade e estrutura das suas obras exigem que seja interpretada por orquestras sinfónicas completas. Uma das suas sinfonias, a oitava, é mesmo conhecida pela "sinfonia dos mil" pelo número de intérpretes que exige para a sua interpretação entre orquestra, solistas e corais. Felizmente, hoje em dia temos os suportes musicais mais variados que nos permitem apreciar a música de Mahler onde e quando queremos. Estimado leitor, não deixe que a "balbúrdia musical" que hoje invade constantemente os nossos ouvidos substitua a Grande Música e ouça Mahler, que vale a pena.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
AS RESPOSTAS NECESSÁRIAS
O conhecido economista Jean Tirole deu há poucas semanas uma entrevista à revista Exame onde entre outras coisas, afirmou que Portugal deverá permanecer no euro, para o que será necessário "assegurar que o país é solvente" isto é, conseguirá pagar as suas dívidas. Mas depois disse ainda que provavelmente Portugal terá uma recessão decorrente das medidas de redução abrupta do défice (exigência alemã, como é sabido). Já nesta semana, o Banco de Portugal publicou o seu habitual Relatório de Verão onde se aponta que o crescimento da actividade económica em Portugal deverá ser este ano de 0,9% devido a um primeiro semestre favorável, mas que deverá descer já neste segundo semestre até uma previsão de 0,2% em 2011. Isto é, ou teremos estagnação ou mesmo recessão, de novo. O relatório do BP conclui ainda que "neste contexto, assume um papel primordial a implementação de alterações ao enquadramento institucional em que se desenvolve a actividade empresarial de forma a melhorar a afetação de recursos internos e a atrair projetos inovadores". Na linguagem um pouco cifrada do BP, isto significa apenas que é urgente alterar o ambiente em que se processa a actividade empresarial. Isto é, o mercado laboral português tem uma rigidez que gera demasiada contratação a prazo e elevado número de recibos verdes, com consequências nefastas no normal crescimento da economia.
A consequência desgraçada é que a produtividade da nossa economia é muito baixa comparada com a dos outros países nossos concorrentes. Note-se que isto não significa que os portugueses trabalhem poucas horas: significa é que a rentabilidade média de cada uma dessas horas é muito baixa.
Temos todos que tomar consciência de que são as empresas e os impostos sobre aquilo que produzem que pagam todo o funcionamento do país. As despesas do Estado, quer seja para as suas funções de soberania, quer seja para as funções sociais e outras que entende por bem exercer, vêm todas das receitas do Orçamento Geral do Estado (directa ou indirectamente). É a produção económica isto é, os resultados daquilo que as empresas fazem e vendem que gera impostos para pagar tudo isto. Ou devia ser, já que o Estado gasta tanto que se vê permanentemente na necessidade de pedir dinheiro emprestado para pagar apenas o seu funcionamento. Dentro da produção económica, o que propulsiona crescimento real é aquilo que é exportado, ou que evita importações. Se o nosso problema crónico é o da competitividade, fácil é concluir ser absolutamente necessário proporcionar aos empresários condições para que a sua actividade possa gerar rentabilidades a médio e longo prazo que tragam sustentação e sustentabilidade para a economia nacional.
Contrariando o negativismo em que temos vivido, na semana passada foi assinado o contrato de instalação de uma fábrica de alta tecnologia em Coimbra, mais concretamente no Coimbra Inovação Parque (iParque). Trata-se da primeira fábrica de nanomateriais em Portugal, criada pela empresa Innovnano. Tal só é possível porque o iParque está construído, porque em Coimbra há os recursos humanos qualificados que uma unidade de alta tecnologia exige e porque hoje em dia a Câmara Municipal tem vontade e é capaz de fazer esforços para atrair e apoiar a instalação de investimentos de qualidade. Trata-se de um investimento de dez milhões de euros que dará origem a 40 empregos de grande qualificação acima de licenciatura, e que gerará produtos de altíssimo valor acrescentado e com uma procura em todo o mundo com acentuado crescimento real e potencial. Ainda melhor, para além desta, outras empresas ligadas a alta tecnologia se preparam para se instalar no iParque graças aos esforços e competentíssima acção do Prof. Norberto Pires.
É certamente este o caminho certo. Claro que há muitas actividades económicas tradicionais que fecham, muito por causa da globalização e concorrência de países emergentes e isso é uma grande infelicidade para quem lhes dedicou tanto esforço e se vê sem empresa e sem trabalho para sustentar as suas famílias. Mas o que é essencial é que em sua substituição surjam novas actividades altamente rentáveis que contribuam para melhorar decisivamente a competitividade da economia nacional.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
TOUR
segunda-feira, 12 de julho de 2010
SEGURANÇA RODOVIÁRIA
Já por diversas vezes abordei nestas crónicas a questão da segurança rodoviária, nas suas diferentes vertentes.
A ocorrência recente de um trágico acidente na nossa cidade, num local em que as condições de segurança de circulação não são de facto as melhores leva-me, de novo, a abordar este tema.
Sabe-se que para além do comportamento dos utentes das vias, sejam eles automobilistas, motociclistas ou peões e das condições externas que se verificam em cada momento, as próprias vias são cruciais para a segurança da circulação rodoviária. Essa segurança depende de muitos factores, quase todos de ordem técnica, incluindo a manutenção dos pisos e da sinalização.
Como é evidente, a maior parte dos utentes das vias não tem formação técnica que lhes permita ter uma percepção clara das inconsistências de projecto ou de construção das vias, nem é suposto que a tenha. Por isso mesmo, as vias devem proporcionar um ambiente rodoviário que facilite a rápida percepção da envolvência, não devendo esse ambiente ser alterado radicalmente em determinados pontos. No entanto, é fácil verificar a existência de muitos locais com elevada perigosidade para os utentes, apenas por causa das condições da via.
O próprio Plano Nacional de Prevenção Rodoviária de 2003 referia já a existência de "infra-estruturas rodoviárias com deficiências de vária ordem nas diferentes fases do respectivo ciclo de vida, nomeadamente no que respeita a inconsistências a nível de projecto, a falta de qualidade na construção…". Aquele Plano apontava também para a necessidade da criação de uma entidade reguladora para a qualidade das infra-estruturas rodoviárias e da elaboração de um manual de regras obrigatórias a seguir em projecto, necessidades essas que eu próprio já referi nestas linhas, por mais que uma vez. Essas regras são necessárias e urgentes para todas as vias rodoviárias, desde as auto-estradas às ruas urbanas, a fim de proibir aquela "imaginação" e capacidade de desenrascanço tão portugueses, através da invenção de "novas soluções" que amiúde dão maus resultados e garantir uma qualidade mínima dos projectos. Dever-se-ão ainda evitar aquelas situações que todos conhecemos em que o Estado, aos seus diversos níveis, se desresponsabiliza dos erros através da simples colocação de sinalização a limitar drasticamente a velocidade: isso poderá ser uma solução provisória mas nunca definitiva, substituindo as obras de correcção dos defeitos.
Em Coimbra é fácil verificar a existência de vários locais em que as infra-estruturas viárias são por si mesmas perigosas, quer em vias de responsabilidade municipal, quer em vias cuja competência é do Instituto de Estradas, apontando-se desde logo, por exemplo, os acessos da Ponte Rainha Santa em ambas as margens (a rotunda ao pé do Hotel D. Luís é todo um programa), a nova rotunda do Almegue, a Av. Gouveia Monteiro em boa parte da sua extensão e a Avenida da Guarda Inglesa.
Em termos locais, não ficará nada mal aos municípios que elaborem uma carta de pontos negros rodoviários permitindo projectar e programar as acções de correcção necessárias. Sabe-se que algumas delas acarretarão despesas consideráveis que serão no entanto perfeitamente justificadas e mesmo necessárias face a outras bem menos prioritárias, tendo em conta a gravidade e consequências dos acidentes que aí se verificam.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 12 de Julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Tour
À partida para a 6ª etapa (hoje) entre Montargis e Guegnon com 227,5 km, a classificação dos primeiros é a seguinte:
1º - Cancellara
2º - Thomas
3º - Evans
4º - Hesjedal
5º - Chavanel
6º - Schleck
7º - Hushovd
8º - Vinokourov
9º - Contador
10º - Van Den Broeck
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Claro!
Não há mesmo volta a dar.
Tour
1º - Cancellara
2º - Thomas
3º - Evans
4º - Hesjedal
5º - Chavanel
6º - Schleck
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Tour
1º - Cancellara
2º - Thomas
3º - Evans
4º - Hesjedal
5º - Chavanel
6º - Schleck
segunda-feira, 5 de julho de 2010
MORREU O SR. SWATCH
Na realidade é mesmo verdade que as crises trazem oportunidades dentro de si. O que é preciso é génio para detectar essas oportunidades, agarrá-las como deve ser e transformar em ouro brilhante o que parecia chumbo. A grande questão é que os mesmos dirigentes políticos que cometeram tantos disparates por essa Europa fora nos últimos anos, dificilmente serão capazes de detectar as tais oportunidades por estarem demasiado dentro dos problemas, quando não são eles próprios o problema.
Na semana passada morreu um desses génios: Nicolas Hayek. A indústria relojoeira suíça foi sempre um dos símbolos de realização técnica e de organização daquele país. Recorda-se que, apesar de não dispor de recursos naturais, a Suíça esteve sempre na vanguarda da qualidade dos seus produtos. Todos os materiais componentes dos relógios são importados pela Suíça. O mesmo sucede aliás, com o cacau com que os suíços produzem algum do melhor chocolate do mundo.
A evolução tecnológica dos anos sessenta e setenta do século passado parecia ter ditado o fim anunciado de toda a indústria relojoeira suíça. De facto, os novos relógios movidos a quartzo, bem mais baratos que os mecânicos suíços e proporcionando uma maior precisão, constituíam uma ameaça mortal para toda uma indústria histórica que parecia ultrapassada pela evolução tecnológica e comercial.
A situação da indústria relojoeira tornou-se nessa altura verdadeiramente aflitiva, com dívidas gigantescas, o que em 1980 levou um grupo de bancos suíços a contratar um consultor financeiro com formação científica profunda nas áreas da física e da matemática, com o objectivo de tentar salvar o que fosse possível daquela indústria. Em boa hora o fizeram. Nicolas Hayek pegou nas armas da ameaça e usou-as para salvar a indústria tradicional. Inventou o SWATCH, cujo nome aponta logo para relógio suíço, um relógio de quartzo tecnologicamente evoluído, com uma construção optimizada com menos cinquenta peças que os outros o que permite um preço mais favorável e, acima de tudo, com uma caixa de plástico colorido que permite todas as variações de design. Com uma campanha de marketing extremamente bem montada, colocou o mundo inteiro a comprar colecções sucessivas desses relógios baratos e bonitos, que se transformaram em objectos de culto, ultrapassando a simples funcionalidade de dar as horas. Os relógios vindos do Japão transformaram-se de repente nuns objectos feios, nada apelativos e, ainda por cima, mais caros que os Swatch.
Até hoje venderam-se mais de 500 milhões de relógios Swatch. Este gigantesco sucesso comercial serviu de locomotiva a toda a indústria relojoeira suíça, que recuperou da agonia em que se encontrava. O grupo Swatch possui hoje marcas como a Omega, a Blancpain, a Breguet, a a Glashütte e a Jacket Droz, mas também a Longines, a Tissot e a Hamilton entre outras.
Todo o resto da indústria relojoeira suíça beneficiou, fabricando e vendendo peças de enorme valor acrescentado por todo o mundo. Como entretanto já muita gente percebeu que a precisão dos relógios de quartzo é absolutamente irrelevante para o nosso dia-a-dia e que quando a pilha acaba são objectos sem qualquer utilidade, abriu-se todo um mundo de novas oportunidades para a tradicional indústria relojoeira suiça.
Nestes tempos conturbados em que vivemos, este é um sucesso a ter em conta, porque mostra que com imaginação, trabalho e profundo conhecimento da área, se podem transformar as armas do “inimigo” em vantagens próprias, permitindo sair por cima de situações que antes pareciam becos sem saída.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Julho de 2010