Quem viaja hoje pelo norte de Portugal, seja pelo
litoral, seja pelo interior, não pode deixar de se impressionar com a
enorme superfície ocupada pela plantação de eucaliptos. Se ainda não se pode
dizer que se trata de uma monocultura, já não anda muito longe disso. Nas
últimas dezenas de anos o eucalipto tem vindo a substituir paulatinamente o
pinheiro bravo como paisagem habitual das nossas zonas florestais.
O eucalipto
tem características que o diferenciam das outras espécies arbóreas a que
estamos habituados. Em primeiro lugar, é claramente uma espécie exótica. Isto
é, o seu plantio em larga escala traduz uma alteração profunda nos nossos
ecossistemas, o que inclui não só a área vegetal, mas também tudo o que
respeita aos animais que vivem nas florestas, desde os insectos, às aves e
mamíferos, sendo a biodiversidade prejudicada através do empobrecimento dos
ecossistemas locais. Daqui resulta que a sua monocultura é muito prejudicial
para o equilíbrio ecológico do país, com profundas implicações futuras,
inclusive económicas.
Depois,
trata-se de uma espécie que cresce muito depressa, pelo que consome muita água.
Por outro
lado, curiosamente, o eucalipto é aquela espécie vegetal que mais beneficia com
os incêndios que, desgraçadamente, todos os verões faz desaparecer boa parte
das nossas manchas florestais. Após os incêndios, os eucaliptos nascem
espontaneamente nas áreas ardidas, ocupando cada vez mais espaço que
anteriormente era de outras espécies.
Muitos
ecologistas começam hoje em dia a deixar de atacar o plantio de eucaliptos ou
mesmo a defendê-lo ainda que de forma algo tímida, mas significativa pela
mudança de posição. De facto, com o aquecimento global, o maior problema
ecológico que se põe hoje à escala global terá a ver com o excesso de anidrido
carbónico na atmosfera. Sendo assim, o aumento de área de florestas e,
fundamentalmente, a escolha de espécies de crescimento rápido que proporcionam
um grande sequestro de carbono durante o seu crescimento o que é o caso,
precisamente, do eucalipto, será uma necessidade contemporânea.
Estamos no
mesmo país em que uma árvore é protegida, e bem: o sobreiro. Só que neste caso
se vai ao extremo de fazer depender de despacho ministerial o corte de uma
pequena árvore solitária que surge no meio do caminho de uma estrada para um
serviço público de reconhecido interesse.
Como em tudo
na vida, um equilíbrio ponderado será a melhor solução que deverá respeitar
sempre a sustentabilidade, isto é, não deverá colocar o futuro em causa.
Num momento
em que se fala na liberalização do plantio de eucalipto em Portugal, é caso
para dizer: já chega; limite-se é com veemência a plantação de novos
eucaliptais. Não é preciso ser muito observador nem um grande cientista de
biologia para perceber que o eucalipto está hoje em dia prestes a ser uma
monocultura florestal em Portugal, transformando o país num gigantesco
“eucaliptal”. Não se questiona o interesse económico do eucalipto. O que já
começa a estar em causa é o próprio equilíbrio ecológico nacional e esse é um
valor que todos temos obrigação de preservar para as gerações futuras.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra
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