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As medidas do
chamado “memorando” assinado pelo governo anterior são duras e isso faz-se
sentir na vida de todos. Essas medidas visam essencialmente colocar os índices
de referência dentro dos parâmetros exigidos pela presença no Euro. Os
resultados desse esforço e sacrifício de todos começa a ver-se. Na semana
passada, Portugal colocou dívida pública a curto prazo a uma taxa inferior a 2%
e com uma procura largamente excedentária sobre a oferta. O presidente
socialista francês veio logo depois “considerar que os difíceis esforços que
Portugal está a fazer estão a dar frutos”, embora os que ainda por cá defendem
os responsáveis pela situação a que chegámos tenham logo tentado tirar
importância a essas declarações chutando para o lado com a PAC.
Mas há algo que
falta de facto fazer e isso é mesmo o mais importante. Não chegámos a este
ponto de um momento para o outro, nem a crise caiu do céu aos trambolhões.
Fomos nós que construímos o caminho que aqui nos trouxe. Torna-se absolutamente
necessário proceder a reformas profundas em toda a organização do país para
sairmos do atoleiro em que nos encontramos.
Tudo, desde as funções
do Estado até ao necessário “estado social” capturado pelas mais diversas
corporações, tem que ser revisto, avaliado e reformado. São as gerações dos
nossos filhos e netos que o exigem. É mesmo necessário e urgente um pacto inter-geracional
que proteja as futuras gerações do egoísmo e falta de solidariedade da actual
geração que sistematicamente tem colocado o seu bem-estar à frente de tudo e de
todos de uma forma social e economicamente insustentável.
Tendo
consciência disto mesmo, o Governo está a organizar conferências com diversas
personalidades de diferentes quadrantes profissionais e ideológicos para
encontrar caminhos para as reformas. A primeira decorreu há poucos dias. Porque
o objectivo é que aí se diga o que se tem a dizer com inteira liberdade, essa
conferência foi aberta à comunicação social, mas com regras estritas na
divulgação do que lá foi dito: para reproduzir as intervenções dos diversos
intervenientes, os jornalistas deveriam assegurar autorização dos próprios para
tal, com excepção dos membros do Governo, que poderiam ser citados com toda a
liberdade. O leitor teve certamente ecos desta conferência. E o que lhe chegou
não foram as participações dos intervenientes, porque a comunicação social
resolveu substituir-se à conferência como notícia. Rebelando-se de uma forma
infantil e patética contra um prática seguida em muitos países e instituições
quando o que está em causa é uma sessão discussão livre e franca de
apresentação de sugestões e propostas para a qual são definidas regras que
visam precisamente garantir essa liberdade, muitos dos jornalistas presentes
substituíram o seu trabalho por intervenção política directa. Desta forma
abandonaram e desrespeitaram os seus leitores para quem deveriam trabalhar
informando com liberdade, mas também com seriedade e respeito pela verdade.
Quando não há
pão, todos ralham e ninguém tem razão, diz o povo na sua sabedoria. Cabe a quem
tem responsabilidades acrescidas pelas suas funções sociais e políticas,
contribuir para a solução dos problemas e não ser mais um problema. A História
não perdoará a quem se colocar de fora no esforço de encontrar soluções
consensuais para construir um futuro mais digno para as gerações vindouras.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 Janeiro 2013
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 Janeiro 2013
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