Em consequência, os média saltam de assunto em assunto, tratando cada um deles com uma sofreguidão impressionante e tantas vezes confrangedora, atropelando de caminho a dignidade de pessoas, instituições e até, muitas vezes, a verdade que deveria ser o seu objectivo principal.
Para não ir muito atrás no tempo, relembro aqui alguns assuntos que dominaram por completo os media durante dias sucessivos, quase parecendo que todo o nosso futuro dependia daquilo, apenas até o novo substituir o anterior. Foi assim que se discutiram os “swaps”, dando a ideia de que toda a gente percebia mesmo aquilo. A adopção de crianças por casais homossexuais parecia a certa altura o assunto crucial da sociedade portuguesa. O Tribunal Constitucional também tem o seu lugar garantido com estrela da companhia quando é chamado a tomar alguma decisão.
Os estaleiros de Viana do Castelo, após anos e anos de quase inactividade laboral apareceram de repente como assunto dramático para a economia e política nacionais quando o governo, mal ou bem, pouco interessa para aqui, tentou encontrar uma solução para o seu futuro.
Mas isso só até os média se atirarem à magna questão das praxes universitárias, não tocando minimamente no problema, esse sim importante para o país, da qualidade de ensino, ou da falta dela, em grande número de ditas universidades. A venda de mais de oitenta quadros de Miró, por uma das empresas liquidatárias do BPN, pareceu transformar todos os portugueses em especialistas de arte, podendo até levar a crer que os museus que temos têm grande dificuldade em gerir as permanentes multidões que diariamente os vão visitar.

O mais recente drama pungente do país é a saída do resgate, com ou sem programa cautelar, como se isso fosse uma questão ideológica e não uma decisão ponderada a tomar em consequência da situação económica e financeira no momento adequado, tendo apenas em conta os interesses do país.
Os portugueses são tratados como patetas pela maioria da comunicação social, com a televisão e os seus telejornais de uma hora e as suas estrelas apresentadoras e comentaristas à cabeça, eles sim que se comportam como baratas tontas. Será, talvez, sintoma de uma profunda alteração que se está a verificar na comunicação da informação aos cidadãos através da internet e que leva os meios tradicionais a tentar agarrar e tratar a informação como puro espectáculo, para se manterem á tona de água. Seja como for, tudo isto é muito desagradável para quem observa, ridículo para os seus actores do momento e acaba por retirar à comunicação social a credibilidade que lhe é essencial para sobreviver.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Fevereiro de 2014
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