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quarta-feira, 29 de setembro de 2021
terça-feira, 28 de setembro de 2021
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Somos todos Naval Group?
Num dia destes, estava a olhar distraidamente para uma montra de uma loja de artigos electrónicos, quando a minha atenção foi atraída para uma circunstância curiosa: havia uma série de bancadas de marcas de telemóveis e as marcas tinham nomes como XIAOMI, HUAWEI, OPPO, LG, SAMSUNG. São marcas de fabricantes gigantescos de electrónica sofisticada, com algo comum: todas elas são originárias do indo-pacífico. Em consequência, não são americanas nem europeias. Por outro lado, ao andarmos nas ruas, verificamos que automóveis de marcas com nomes coreanos que ainda há poucos anos se distinguiam por um design no mínimo estranho, para ser simpático, são hoje em dia confundidos com facilidade com qualquer carro fabricado em França ou na Alemanha. Terá ajudado que o responsável principal de design da BMW tenha ido trabalhar para a KIA. Quanto à tecnologia, como hoje em dia está completamente difundida, o que dita é o preço de cada classe, não havendo praticamente diferenças entre as marcas tendo o próprio Eng. chefe da secção M da BMW sido contratado pela Hyundai. No que respeita às marcas japonesas nem se fala, já que se fazem notar pela qualidade de construção e design desde há décadas, nada ficando a dever aos carros europeus ou americanos.
Utilizei os exemplos de dois produtos importantíssimos a nível da indústria e comércio mundiais, para mostrar como o mundo está a mudar com grande rapidez, a caminho de a zona do mundo com maior importância económica ser o indo-pacífico. Aliás já o é, se contarmos com os EUA que também têm costa para o oceano Pacífico. A evolução vertiginosa da China vem acrescentar mais um player económico mas que poderá não demorar muitas décadas a ser a maior economia mundial dada a sua dimensão geográfica e populacional. Infelizmente, esta evolução é acompanhada por uma perda pela Europa do seu antigo lugar de centro económico e político do mundo.
Acontece que a importância económica nunca anda longe do poderio militar, qualquer que seja a base ideológica que sustenta as potências. A China não é excepção, nunca o foi ao longo da sua história, longa de milhares de anos. A sua actual expansão económica, quer através das exportações, quer através da aplicação dos resultados dessas actividades nos mais diversos sectores por todo o mundo, designadamente em redes estratégicas de infra-estruturas condicionadoras de toda a sociedade de que Portugal é um exemplo, tem-se feito acompanhar por um crescimento gigantesco da sua capacidade militar. Um dos vectores fundamentais da sua afirmação militar é através dos mares, nomeadamente Índico e Pacífico, o que se reflecte no desenvolvimento da sua marinha de guerra e mesmo na construção de pontos de apoio, nas contestadas ilhas artificiais.
Os possíveis conflitos com as outras potências regionais são evidentes, bastando recordar as antigas guerras com o Japão, mas também as guerras do Vietname e da Coreia, para além da disputa com Taiwan que será aniquilada no dia em perder o apoio americano. É neste contexto, num novo clima de guerra fria, que os EUA, a Austrália e o Reino Unido constituíram um embrião do que poderá vir a ser a «NATO» do Indo-Pacífico, o AUKUS, acrónimo de «Australia, United Kingdom and United States». Recorde-se que o Reino Unido possui as únicas Forças Armadas sedeadas na Europa com capacidade global, capazes de projectar força em qualquer ponto do Mundo, em particular através da sua Marinha. A aliança AUKUS perspectiva colaboração diplomática e tecnológica, desde a cibersegurança à inteligência artificial, para além da colaboração militar.
Na sequência imediata deste acordo, a Austrália abandonou uma encomenda aos estaleiros franceses da Naval Group de doze submarinos convencionais de propulsão diesel-eléctrica, no valor de várias dezenas de milhares de milhões de euros. Em vez disso, a Austrália comprará novos submarinos, mas de propulsão nuclear, ao Reino Unido, o que implica uma transferência inédita de conhecimento reservado aos utentes de energia nuclear.
Como era de esperar a França reagiu com veemência à notícia, no que foi seguida por posições da União Europeia e países europeus, como aconteceu também com Portugal. No que respeita à França, a reacção é compreensível, já que foi uma empresa francesa, a Naval Group, que perdeu um contrato gigantesco. Já no que respeita à União Europeia, o que se trata é de uma fuga à realidade: os europeus vivem em segurança à sombra da protecção militar americana desde o fim da II Grande Guerra. A União Europeia não tem capacidade militar de resposta seja a que ameaça for, principalmente depois da saída do Reino Unido. Com uma sociedade envelhecida, imersa em políticas financeiras e monetárias de curto prazo, energicamente cada vez mais dependente da vizinha Rússia, este acontecimento veio mostrar que tem de mudar de vida. Assim os seus responsáveis políticos o vejam, em vez de fazerem figuras de Calimeros coitadinhos a nível internacional.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Setembro de 2021
Imagens recolhidas na Internet
domingo, 26 de setembro de 2021
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
STRESS COLECTIVO COMO NORMA
Em 13 de Agosto de 1961 a República Democrática Alemã (RDA), pertencente ao Pacto de Varsóvia, iniciou a construção de um muro à volta de Berlim Ocidental separando milhares de famílias berlinenses e fechando a cidade aos contactos exteriores. A justificação oficial comunista era de que assim se evitaria a fuga de berlinenses ao jugo capitalista, quando a realidade era exactamente o oposto. Depois do fim da II Guerra Mundial e durante os anos 50, Berlim tinha servido de porta de saída de milhares de pessoas da RDA para a RFA, em particular profissionais jovens e muitos cientistas altamente qualificados, numa autêntica «fuga de cérebros». A construção do muro significou uma grave crise política que originou uma gigantesca ponte aérea ocidental de apoio alimentar e sanitário aos moradores de Berlim Ocidental. Ficou célebre a ida do presidente americano John Kennedy a Berlim, garantindo que «somos todos berlinenses».
No final de Outubro de 1962, um oficial superior russo da marinha soviética, de que ainda hoje poucos sabem o nome, mas que se chamava Vasili Alexandrovich Arkhipov, salvou o mundo de uma catástrofe nuclear. Em plena crise dos mísseis de Cuba que colocou as vontades de John Kennedy e Nikita Kruschov frente a frente como representantes de dois mundos político-ideológicos em confronto, um submarino soviético naquela zona, com armas nucleares, ficou sem comunicações. O comandante do submarino e o oficial do partido comunista a bordo convenceram-se de que à superfície tinha começado a guerra e dispuseram-se a disparar uma arma nuclear. Apenas o sangue frio e a coragem pessoal de Arkhipov que se opôs a tal impediram o início da tragédia, literalmente salvando o mundo no último minuto.
No início da década de 80 os EUA instalaram mísseis Pershing II na RFA com capacidade de atingir a Europa de Leste até Moscovo, assim respondendo à colocação soviética dos mísseis SS-20 que colocavam toda a Europa ocidental debaixo de fogo. Esta crise europeia de mísseis ameaçava assim toda a Europa, escassos 40 anos depois da hecatombe da II Guerra Mundial, mas com uma ameaça infinitamente maior: a nuclear. Grande parte da juventude alemã ocidental, já que a de leste não podia abrir a boca, revoltou-se contra esta ameaça insuportável e chegou a defender uma rendição ao comunismo soviético, com cartazes defendendo que «antes vermelhos que mortos».
Estes foram talvez os momentos de maior perigo da chamada «guerra fria» que se seguiu à II Guerra Mundial, até ao fim do império soviético no início dos anos 90. Mas, na realidade, para quem viveu aqueles anos já com alguma consciência, havia uma permanente sensação nítida de que a qualquer momento podia haver uma circunstância estranha, um acto tresloucado, qualquer coisa que pudesse fazer explodir um conflito nuclear que colocaria praticamente toda a humanidade em risco. Relembro o filme «Dr. Strangelove» de Stanley Kubrick que abordava brilhantemente esta situação. E essa consciência produzia um medo estranho e constante associado a uma impotência stressante que frequentemente podia levar, e terá mesmo levado em muitos casos, jovens a enveredar por caminhos improváveis e de fim trágico.
Nos últimos dias foi tornado público um estudo feito em vários países, segundo o qual «oito em cada dez jovens portugueses acreditam que o futuro é assustador por causa das alterações climáticas». Nada que me admire pessoalmente, que ainda há poucos dias ouvi uma jovem altamente qualificada comentar que não quer comer mais carne, porque está a dar cabo do mundo. Segundo aquele estudo, os jovens portugueses, entre os 16 e os 25 anos, são os mais preocupados entre os jovens de dez países acreditando dois terços deles, que a humanidade está condenada e que os governos, em particular o nosso, não estão a proteger o planeta, nem as gerações futuras, sentindo-se traídos pelas gerações mais velhas.
Isto é, parece que o mundo se habituou a viver em stress e não consegue funcionar sem imaginar uma qualquer espada pendurada sobre a cabeça. Trata-se de uma nova situação de stress generalizado que se pode tornar crónico, com possíveis consequências graves a nível psicológico, principalmente nos jovens, mais influenciáveis, por estarem «em processo de desenvolvimento psicológico, físico e social».
Aos jovens preocupados de hoje, e evidentemente com razão para tal, não passa contudo pela cabeça como os jovens das décadas passadas de 60/80 sentiam aflitivamente que o seu mundo podia desaparecer de um dia para o outro num holocausto nuclear, provocando situações extremas desde um niilismo militante a terrorismo político, passando pelo pacifismo do movimento hippie.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Setembro de 2021
Imagens recolhidas na internet
segunda-feira, 13 de setembro de 2021
Netos e eleições
Uma das maiores felicidades que o andar dos anos nos pode trazer é o surgimento dos netos. Vê-los nascer e crescer transmite-nos sensações substancialmente diferentes daquelas que nos invadiram quando o mesmo sucedeu com os pais deles e nossos filhos. Os filhos são nossos descendentes directos, tudo o que lhes diz respeito tem a ver connosco. Por outro lado, o seu nascimento e crescimento ocorrem normalmente durante a nossa vida profissional completamente activa, pelo que tudo parece acontecer com naturalidade até ao momento em que eles vão à sua própria vida, como eu costumo dizer, quando voam por si. E, a partir daí, a vida dos filhos decorre ela própria paralelamente à nossa, partilhando um mundo comum, até ao momento em que a lei da vida necessariamente nos levará, como levou já os nossos pais.
Já os netos… bem, trata-se de algo completamente diferente. Em primeiro lugar, a responsabilidade do seu nascimento, tal como do crescimento e formação, já não serão da nossa responsabilidade. Podemos e devemos acompanhar, mais de perto ou mais de longe, se possível mais de perto, mas sem nunca tentar substituir o papel dos pais. Pessoalmente, tenho hoje quatro netos, duas meninas e dois meninos. A sensação de os acompanhar e de perceber como são as suas personalidades em desenvolvimento é algo que só nos pode encher de felicidade. Os pais deles nunca entenderão como olhamos para os netos e revemos tantos pormenores físicos e comportamentais deles próprios quando eram crianças e de como esses pormenores se desenvolveram até se tornarem as suas características próprias enquanto adultos. Os netos podem não ser nossos filhos, mas têm muito de nós.
Há uns anos ouvi um professor universitário de Física afirmar que não precisamos de inventar uma máquina do tempo, porque temos os nossos filhos e os filhos deles que constituem a verdadeira máquina que nos transporta para o futuro.
E aqui chegamos à palavra mágica: futuro. Com toda a probabilidade, a maior parte da vida dos netos decorrerá num tempo em que nós próprios já cá não estaremos para ver. E, no entanto, o futuro é construído hoje, tal como o próprio presente que vivemos hoje foi o futuro dos nossos pais e mesmo da nossa geração.
Em Democracia, temos a hipótese de escolher aqueles que terão a responsabilidade de construir o nosso futuro colectivo aos diversos níveis, como por exemplo ao nível local como acontecerá nas eleições das autarquias locais que ocorrerão daqui a duas escassas semanas. Ou não. Na realidade, aquilo de que mais ouvimos falar os diversos candidatos é apenas de questões que deveriam ser de automática resolução técnica e não da construção de um futuro a dez, quinze ou vinte anos, isto é, para os nossos netos. A partidarite, com o caciquismo e a falta de qualidade do pessoal político inerentes tomou conta de todos os partidos, sem excepção, o que se sente de uma forma muito intensa ao nível das autarquias locais
A capacidade de definir estratégias, de perceber o que nos trouxe até aqui e de definir caminhos de mudança é o que distingue os verdadeiros construtores de futuro de vulgares gestores do dia-a-dia. Não se pense que falo aqui de construção de «homens novos» ou algo que se pareça, que isso não existe e não passa de conversa para disfarçar ditaduras encapotadas. O que é necessário é construir uma sociedade que crie condições que permitam a todos e cada um realizar-se plenamente em igualdade de oportunidades, sem excepção, e em que cada um respeite o outro como igual.
Quando olhamos para a evolução das nossas cidades nas últimas duas ou três décadas, após a fase da construção das infra-estruturas básicas, o que vemos com mais frequência é uma falta de definição de caminhos estratégicos claros. O urbanismo e a habitação são, talvez, os maiores exemplos disso mesmo. Hoje em dia ouvimos os candidatos falar, quase sem excepção, da necessidade de resolver os «problemas da habitação», sempre através de construção nova. E nenhum deles aponta as causas desse «problema» que dura há décadas. Enquanto há centenas de milhar de habitações devolutas em Portugal, muitas mesmo sem nunca terem sido habitadas, o que falam é de mais construção, ocupando ainda mais território. As cidades competem hoje entre si, mesmo muito para além das fronteiras entre países, até porque essas fronteiras, na Europa, são já simbólicas a nível de circulação de bens e de pessoas. Sem uma visão estratégia é impossível participar nessa tremenda competição de qualidade e afirmação.
Costuma dizer-se que os fracos reis fazem fracas fortes gentes. Razão, adicionada à necessidade de construção de um futuro melhor para os nossos netos, para sermos cada vez mais exigentes com os políticos, rejeitando claramente os incapazes, mentirosos e caciques que só pensam no futuro imediato, sejam eles de que partido forem.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Setembro de 2021
Imagens de pinturas da autoria das netas Leonor e Sofia
domingo, 12 de setembro de 2021
"Os meus respeitos"
Conta-se que, quando os Jesuitas regressaram a Portugal, depois da morte do Marquês de Pombal, o Superior foi ao túmulo do Marquês. Quando lhe perguntaram se tinha ido cristãmente rezar pela alma do defunto, o Jesuita terá respondido: e ver se estava bem enterrado.
Qualquer semelhança com a realidade actual será pura coincidência, em particular na morte de Jorge Sampaio.
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
Ministros, brincalhões e às vezes
Os congressos dos partidos que ocupam o poder, em particular quando o fazem sozinhos, são sempre momentos interessantes de seguir pelo que lá é dito, pelo que fica por dizer, pela encenação e também pelas reacções posteriores que suscitam. O recente Congresso do Partido Socialista não foi excepção.
Costa fez promessas como se estivesse a vender produtos numa feira. Há quem garanta que Costa mede sempre tudo o que afirma, nunca dizendo nem menos nem mais do que pretende em cada momento. Mas, naquela circunstância, será que teve mesmo consciência do que estava a fazer ou andará já naquele distanciamento da realidade que o exercício do poder durante muito tempo por vezes produz? Para se ter uma noção do desfasamento das promessas com a realidade, digamos assim, basta atender às promessas de diminuição do IRS para as classes médias e aumento do abono de família. Em menos de uma semana, o próprio ministro das Finanças veio «explicar» aquelas medidas fazendo, na prática, um desmentido das promessas do primeiro-ministro.
O que não se disse no congresso é que Portugal está a caminhar alegremente para último país da Europa em termos de riqueza, isto é para sermos os mais pobres da União. Nem foi dito que a dívida pública cresceu 40.000 milhões desde o início da pandemia, para ser hoje de 133% do PIB. Enquanto as promessas desfilavam tal como os previsíveis compromissos com o PCP e o BE para garantir a aprovação do próximo Orçamento Geral de Estado, ficava prudentemente omitido o facto de 2.000 milhões já estarem comprometidos à partida, o que só se soube dois dias depois. O que não podia faltar era a eterna lembrança da austeridade e do desemprego nos tempos de Passos Coelho, esse malandro que os praticou por gosto, calando mais uma vez que tudo isso se deveu às políticas de Sócrates e seus governos, de que o próprio António Costa e muitos ministros de hoje faziam parte. Até houve tempo para afirmar que os «mercados» gostam deste governo, ocultando que as reduzidas taxas de juro se devem apenas às políticas actuais do BCE que já detém metade da dívida pública portuguesa e que o volume enorme desta é uma espada de Dâmocles sobre a nossa cabeça.
Já a encenação do Congresso revestiu-se de aspectos bem mais interessantes. A novela ensaiada da sucessão de António Costa no PS serviu para colocar os putativos candidatos, homens e mulheres, numa mesa à parte, como que para os colocar numa montra. E o interessante é que esses militantes se sujeitaram a isso, supostamente com agrado, com a notória excepção de Pedro Santos, que mostrou não achar graça à situação, tendo entrado mudo e saído calado do Congresso já que, como inteligente que é, sabe que é no terreno que conquista o partido e não integrado numa encenação de mau gosto. Que se saiba, apenas reagiu ao comentário de A. Costa de que a sua chegada ao Congresso com atraso se teria devido a «um furo ou adormecido». O ministro respondeu que «o secretário-geral é um brincalhão». Sendo o sec. Geral e o primeiro-ministro uma e a mesma pessoa, estamos conversados sobre o ambiente no topo do Estado.
Restam as reacções externas ao que se passou no Congresso do partido do Governo. A mais notória foi da autoria do presidente da CIP António Saraiva, usualmente tão calmo e cordato, que comparou o que se disse no Congresso à orquestra que continuava a tocar enquanto o Titanic se afundava. Conhecendo a fundo o que se passa verdadeiramente na nossa economia sufocada pelos gastos do Estado e pela dívida pública, sabe que a realidade vai desfazer todas as fantasias políticas, como aconteceu já no passado, por exemplo em 2011. Curiosamente, a comunicação social pretendeu, como mo fez o Director do Público, acalmar as ondas dizendo que nem tudo é uma maravilha nem é um desastre, salientando o meio-termo como a análise mais correcta. Só que a questão é que os sensatos a bordo do Titanic não resolveram nada: num afundamento é a tremenda realidade que se mostra, não há lugar a posições de meio termo. “Remember” Sócrates, acrescento eu.
Já Rui Rio o actual presidente do maior partido da oposição, que supostamente representa permanentemente a alternativa, decidiu falar da falta de ética por no Congresso se ter feito propaganda antes de eleições. Mas não é isso mesmo que os partidos todos fazem? Só que uns estão no poder e outros têm que fazer pela vida. O que interessa verdadeiramente em política é a substância. Vir dizer ainda que as eleições autárquicas de 2025 é que são importantes para o PSD porque mais de 60% dos eleitos socialistas têm que sair nessa altura faz algum sentido? Sim, pelos vistos até faz. O de quem se sente incapaz de convencer os eleitores e apenas espera que quem ocupa o poder se vá embora, no governo, nas câmaras e nas juntas de freguesia, numa posição política para mim completamente incompreensível.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Setembro de 2021
Fotos recolhidas na internet