Passam hoje 86 anos sobre a invasão nazi à Polónia, data que assinala o início formal da Segunda Guerra Mundial dado que, dois dias depois, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha. O motivo próximo invocado por Hitler para a invasão foi a recusa polaca em entregar à Alemanha parte do seu território, a que a Alemanha nazi se achava com direito. Na realidade. Hitler apenas continuava a levar a cabo, contra a opinião dos seus próprios generais, a sua política expansionista facilitada pela assinatura, em 23 de Agosto, do “Pacto Germano-Soviético”, também conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop. Duas semanas depois, ainda no cumprimento do mesmo pacto, foi a vez de a União Soviética invadir a Polónia pelo Leste.
O expansionsmo nazi já se tinha manifestado antes com a anexação da Áustria em1938 e da Checoslováquia em1939. Os líderes europeus, com o PM inglês Neville Chamberlain à cabeça, esforçaram-se ingenuamente a tentar “apaziguar” o líder nazi nomeadamente através do Acordo de Munique. Apenas para verem Hitler violar todos os acordos e acabar a invadir a Polónia com as consequências trágicas que conhecemos que só terminaram em 1945 depois da morte de mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo.
Isto passou-se há cerca de 90 anos e devia servir de exemplo para a actualidade. Após o fim da “guerra fria” e da dissolução da União Soviética, muitos dos países subjugados pela Rússia comunista viram a oportunidade de escolher o seu caminho em liberdade. Foi o caso de vários países da Europa de Leste que acabaram mesmo por entrar na União Europeia e ainda os países bálticos.
A Ucrânia aproveitou também a oportunidade e declarou a sua independência em 1 de Dezembro de 1991. Dado que na Ucrânia estavam depositadas muitas armas nucleares da ex-União Soviética que a tornavam mesmo na terceira potência nuclear, colocou-se a questão do destino a dar àquele arsenal nuclear. Chegou-se a um acordo pelo qual a Ucrânia transferiria as armas nucleares para a Rússia a fim de serem desmanteladas. Em troca, seriam respeitadas a soberania e a integridade da Ucrânia, abstendo-se os países signatários de uso de força contra o novo país. Entre os principais signatários do “Memorando de Budapeste” contavam-se a Rússia, os EUA e o Reino Unido. Tratando-se de um memorando político não tinha força legal, mas era um compromisso internacional que levou a Ucrânia a largar mão do poderio nuclear e da correspondente garantia real de protecção.
Mas a chegada de Putin à liderança da Federação Russa alterou tudo. Para este antigo oficial KGB o fim da URSS foi a maior tragédia do sec. XX, tendo adoptado uma postura beligerante com o Ocidente e de regresso às velhas pretensões imperialistas russas. A Rússia entrou em diversas guerras desde então, na Chechénia, na Geórgia, na Síria e, principalmente, na Ucrânia que considera ser parte integrante da Rússia. Logo em 2014 anexou a Crimeia e em 2022 invadiu mesmo a Ucrânia numa guerra que dura desde então. Putin não admite que a Ucrânia tenha pretensões a integrar a União Europeia, embora seja um país soberano. Com a sua experiência pessoal das duas antigas Alemanhas comunista e ocidental ele sabe bem as consequências da vizinhança de regimes diferentes no que respeita às liberdades e quem acaba por ficar a perder com o tempo. Por isso mantém uma guerra de invasão a um país soberano levada a cabo de forma selvática e assassina.
A comparação da actual situação com a de há noventa anos é inevitável. Quer nas razões apresentadas para a guerra, quer na existência de líderes “ingénuos” que com o seu pacifismo apenas servem os interesses dos imperialistas, quer nos que no meio de tudo apenas pretendem tirar vantagens financeiras.
De novo me vejo obrigado a citar Aldous Huxley:
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)”
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Setembro de 2025