A recente decisão governamental de abandonar a localização da OTA escolhida há dez anos para o novo aeroporto internacional de Lisboa, optando pela escolha preliminar de Alcochete foi tomada com base num estudo do LNEC, sendo portanto uma decisão política sustentada tecnicamente.
Curiosamente, o primeiro estudo desenvolvido para a localização do novo aeroporto de Lisboa datado de 1972, já propunha um local próximo da zona agora escolhida, prevendo-se até mesmo nessa altura a transferência do campo de tiro de Alcochete.
Dá a impressão que se andou a tergiversar durante 35 anos, o que transmite muito má imagem da capacidade de planeamento do país.
No entanto, a decisão agora tomada tem alguns aspectos que necessitam de melhor explicação para ser bem compreendida e aceite pela generalidade dos portugueses.
Claro que o trabalho do LNEC está bem feito e é inteiramente credível.
Claro que constitui uma importantíssima ferramenta para suporte de decisão política.
Mas a leitura do estudo do LNEC, permite verificar que o referido estudo concluiu que Alcochete é melhor que a Ota em quatro dos sete factores críticos de decisão:
1.-Segurança; 2.-Eficiência e capacidade das operações de tráfego aéreo; 3.-Sustentabilidade dos recursos naturais e riscos; 4.-Compatibilidade e desenvolvimento económico e social e avaliação financeira.
A OTA é melhor nos outros três critérios: 1.-conservação da natureza e biodiversidade; 2.-Sistemas de transportes terrestres e acessibilidades; 3.-Ordenamento do território.
Aquando da apresentação da decisão governamental, a justificação apresentada foi genérica, sendo apenas apresentada como a melhor técnica e economicamente. Não foram explicitados os pesos relativos dos critérios, isto é, por exemplo, o ordenamento do território é menos ou mais importante em termos estratégicos nacionais do que o desenvolvimento económico? Os critérios mais vantajosos para Alcochete estão genericamente relacionados com a vertente aeronáutica, enquanto as vantagens da OTA têm mais a ver com a organização e estrutura do país. O que é mais importante em termos estratégicos?
Tudo isto deveria ser devidamente justificado e explicado, atendendo a que se trata de um investimento gigantesco com grandes implicações no funcionamento, capacidade e competitividade do país.
Parece-me muito mais importante analisar estes aspectos do que discutir a localização do novo aeroporto em termos puramente regionais ou partidários.
Se é evidente que a OTA seria muito mais vantajosa para os habitantes da região Centro que vão apanhar avião a Lisboa do que Alcochete, o essencial é que o novo aeroporto internacional de Lisboa seja o que melhor serve o país em termos estratégicos nacionais. Por outro lado, devemos ter consciência de que a localização na Ota traria muito maior pressão da região metropolitana de Lisboa sobre a região Centro, o que talvez nos traga algumas vantagens.
Publicado no DC em 14 Janeiro 2008