Que o mundo está a atravessar uma fase particularmente difícil parece ser uma verdade incontornável.
Ao aquecimento global provocado pela poluição exagerada vem adicionar-se a crise energética, consequência do súbito aumento dos preços dos combustíveis.
Não se sabe verdadeiramente se este aumento é ditado pelas leis do mercado e pela subida do consumo em países emergentes ou por pura especulação internacional no comércio dos combustíveis. O que interessa para todos nós é que este aumento vai provavelmente continuar e, acima de tudo, que os preços nunca mais vão descer.
Esta situação vem colocar várias e importantes questões sobre mudanças de estilos de vida, sobre o financiamento dos orçamentos nacionais e sobre estratégias nacionais de políticas energéticas. O futuro está-nos a entrar em casa sem bater à porta nem pedir licença.
Há países que vão claramente à frente nestas matérias e é necessário seguir o caminho mostrado com a maior rapidez.
Na Alemanha, por exemplo, (ver Revista TIME de 28/4/08) os edifícios do Parlamento em Berlim foram adaptados para utilizar o mais possível a luz e a circulação de ar naturais. A electricidade e o aquecimento são fornecidos por geradores de biofuel localizados no piso térreo. O calor em excesso é armazenado em grandes caves para aquecer os edifícios durante o Inverno, usando o sistema inverso para arrefecer os edifícios no Verão. O sistema ainda está a ser aperfeiçoado para que no fim deste ano os edifícios do Reichstag usem apenas energia renovável.
A Alemanha instituiu um programa para responder às alterações climáticas, a chamada “feed-in law” que prevê subsídios aos cidadãos e empresas que produzam a sua própria energia por fontes renováveis, possibilitando a venda do excesso produzido à rede nacional. Isto sem indicar acções específicas, possibilitando aos cidadãos escolher a sua própria fonte de energia.
O resultado tem sido brutal: desde 1990, as emissões de gás na Alemanha desceram mais de 18% sem prejudicar a sua capacidade industrial.
Tendo Portugal condições climáticas excepcionais, podíamos seguir os bons exemplos, com vantagens adicionais.
Em termos locais, edifícios públicos como por exemplo instalações municipais, hospitalares e escolares de diversos níveis incluindo as universitárias, tinham toda a vantagem em adoptar sistemas de energia renovável, usando mesmo verbas do QREN para o efeito. Faz todo o sentido que a Universidade coloque ao dispor dos diversos organismos toda a capacidade de conhecimento que possui nesta área.
Por outro lado, o Governo deveria optar rapidamente por subsidiar todas as instalações de sistema de produção de energia renovável, o que incompreensivelmente não sucede hoje em dia. Trata-se de uma despesa que é um verdadeiro investimento, sendo muito mais reprodutiva em termos económicos do que muitas das obras públicas que andam a ser preparadas, como é o caso de novas auto-estradas numa época de combustíveis caríssimos.
Publicado no Diário de Coimbra em 16 de Junho de 2008