Como todos os conimbricenses sabem muito bem, a nossa Cidade tem historicamente uma relação algo tensa com a Cultura.
Por um lado, à sombra da Universidade e do seu conhecimento, muita gente acha que só por isso Coimbra é automaticamente uma cidade de Cultura. E paralelamente desdenha-se muito facilmente das manifestações culturais mais ligadas às raízes populares.
Por outro lado, acções culturais de carácter digamos assim um pouco mais elitista por obrigarem a alguma formação cultural para a sua fruição plena ficam por vezes às moscas, incluindo as cadeiras reservadas às “entidades oficiais” e convidados institucionais.
São reflexos da velha cidade de “doutores”e “futricas” que infelizmente ainda se vão por vezes manifestando.
Contra este velho e ultrapassado maniqueísmo da nossa cidade foi dado há poucas semanas um passo significativo, pelo que tenho todo o gosto em salientá-lo nestas minhas breves linhas semanais.
De facto, esse é um dos significados do Protocolo de cedência do Pavilhão de Portugal à Orquestra Clássica do Centro.
A música, nomeadamente a dita clássica, é uma das expressões culturais que mais elevam o génio humano e que de forma mais eficaz contribuem para aproximar pessoas de diferentes condições e origens.
A existência da Orquestra Clássica do Centro em Coimbra é importantíssima para colocar o nível cultural da Cidade num patamar superior e para cortar transversalmente as velhas estratificações que referi acima. É igualmente fundamental para ajudar a criar uma cultura musical na juventude da nossa terra onde a construção de um Conservatório tem encontrado tantas dificuldades.
Muitas cidades da Europa e do resto do mundo se têm afirmado a nível internacional pelas suas orquestras e pela promoção dos mais variados festivais musicais. Para que isso aconteça é necessário preparar bases que não podem deixar de passar pela existência de muitos e bons músicos e de um ambiente cultural propício.
A entrega do Pavilhão de Portugal à Orquestra Clássica do Centro pela Câmara Municipal é um passo nessa direcção pelo que não pode deixar de se salientar e aplaudir. É a manifestação do cuidado colocado pela actual Câmara na promoção da Cultura, numa das áreas que reconhecidamente mais pode beneficiar as populações a longo prazo, em especial as camadas jovens.
Os programas já apresentados pela OCC para os próximos meses, aproveitando a estrutura física que agora lhe foi entregue são a demonstração daquilo que acima escrevi.
Faço votos para que o verdadeiro herói da divulgação da cultura musical que é o Maestro Virgílio Caseiro bem como a Dra. Emília Martins sejam bem sucedidos nesta nova fase da “sua” Orquestra e que a Cidade e toda a Região Centro venham a reconhecer o seu trabalho, fornecendo muitos e assíduos espectadores para os espectáculos e restantes iniciativas que vão acontecer (ver aqui).
Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Julho de 2008