Não há qualquer satisfação em escrever esta crónica, antes pelo contrário.
A actual situação económica do país, que aliás segue mais ou menos em paralelo o que se passa no resto da Europa, é de verdadeira crise. O seu significado ultrapassa em muito as simples críticas que as oposições tendem a fazer e os biombos que os situacionistas sempre criam.
Durante os últimos dias, foi possível colher na imprensa numerosos “flashes” que, no seu conjunto, dão uma ideia do que se passa, mesmo a quem não é especialista em economia:
· O Governo desceu a previsão do crescimento económico de 2008 para 1,2%, havendo especialistas que afirmam que mesmo esse valor não deverá ser alcançado, devendo ser, quando muito, de 1%.
· A OCDE prevê que a Europa cresça menos do que anteriormente previsto, enquanto os EUA vão crescer acima da previsão.
· Segundo a Comissão Europeia, a confiança económica em toda a Europa está no nível mais baixo desde Março de 2002.
· Segundo o Eurostat, o consumo das famílias, o investimento, as exportações e as importações na zona Euro contraíram-se no segundo trimestre do ano relativamente ao trimestre anterior, provocando a queda de 0,2 por cento do PIB nesse período.
· A taxa Euribor, que determina as prestações da maior parte dos empréstimos para a habitação, está ao maior nível desde 2002.
· O desemprego em Portugal fixou-se no final de Junho nos 7,5%, o que, embora sendo melhor que no mês anterior, ainda é muito mais alto que a média europeia de 6,8%.
· O INE informou que a nossa vizinha Espanha – que, recorde-se, é o nosso maior parceiro comercial – teve no segundo trimestre o pior crescimento dos últimos 15 anos.
· E por falar em Espanha, o Dr. Pina Moura, que preside à Iberdrola Portugal e foi ministro das Finanças do Eng.º Guterres, afirmou que as taxas de crescimento portuguesas nos próximos 3 anos serão “ténues ou até frágeis, podendo a situação resvalar para uma situação recessiva”, opinando que o Governo poderá “usar o Orçamento contra a crise”.
Perante este cenário, os governos de vários países apresentaram já programas específicos para fazer frente à situação, sendo a Espanha um exemplo.
A circunstância de em Portugal se irem realizar várias eleições no decorrer do próximo ano não deverá ser obstáculo a que esta crise seja encarada com muita responsabilidade quer pelo Governo, quer pelos partidos da oposição, cada qual no papel que lhe compete no sistema democrático.
Em alturas destas, a economia, em particular as pequenas e médias empresas que constituem a esmagadora maioria do tecido económico, tem que ser acarinhada e apoiada, mesmo à custa de grandes investimentos que devem ser deixados para alturas de desafogo.
Publicado no Diário de Coimbra em 8 de Setembro de 2008