quarta-feira, 22 de julho de 2009

TOUR

Ainda não o referi aqui, mas está a decorrer o que considero ser o maior espectáculo do mundo: a volta à França em bicicleta.
Desde garoto que assisto ao TOUR na TV sempre que posso. Ainda me lembro do Eddy Merckx e do Bernard Hinault, para não falar do Joaquim Agostinho. Actualmente assisto um pouco em directo à hora de almoço e no fim do dia a repetição da etapa, sempre no Eurosport.
Hoje corre-se a 17ª etapa, com 4 (quatro!) subidas de 1ª categoria. Ontem o velhinho Armstrong mostrou-se um pouco, para grande admiração do Contador quando o viu recuperar e juntar-se a ele naquela subida fantástica.

AS AMORAS

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul

(Eugénio de Andrade)

Devia morrer-se de outra maneira


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
Devia morrer-se de outra maneira

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono

ainda tocada por um vento de lábios azuis... 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

(De José Gomes Ferreira)

WE CHOOSE TO GO TO THE MOON

terça-feira, 21 de julho de 2009

JUPITER ESBURACADO


O gigantesco planeta Jupiter foi furado por um cometa, tendo aparecido aos astrónomos espantados com um buraco do tamanho do nosso planeta Terra. Claro que Jupiter é fundamentalmente uma grande bola gasosa, pelo que o efeito é possível e espectacular (Imagem retirada de NASA).


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ainda o Homem na Lua

Ainda sobre os 40 anos da ida do Homem à Lua, recordando Álvaro de Campos:



O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.

O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).

FORMALIDADES LEGAIS

A imprensa de hoje informa (no caso, o Público, mas pode ser qualquer outro jornal):

"O julgamento do processo Casa Pia, que dura há quase cinco anos, tem hoje a sua primeira sessão no novo Campus da Justiça, em Lisboa, numa sessão para cumprir formalidades legais e em que os advogados não esperam "surpresas".

Surpresa era aquela vergonha terminar.

Tratar cancro sem oncologistas

O DN de hoje traz esta notícia:

"Apenas 77% das 55 unidades que tratam cancro têm oncologistas médicos, o que para a Ordem dos Médicos é inadmissível. Além disso, só 28 hospitais têm um destes profissionais na consulta multidisciplinar, onde se tomam as decisões sobre o tratamento
Há pelo menos 13 hospitais que estão a tratar doentes com cancro sem terem, sequer, um oncologista médico."


Isto sem falar das condições físicas de alguns hospitais oncológicos, em que apenas a extrema dedicação do pessoal, desde médicos a auxiliares consegue ultrapassar as lacunas gritantes. Só o facto de os utentes daquelas unidades de saúde se encontrarem em situação psicológica debilitada impede que haja uma revolta generalizada contra o que se passa. Um exemplo: na unidade de cirurgia do IPO de Coimbra, Já vi doentes na maca a descer para o piso da cirurgia no mesmo elevador onde minutos antes tinha subido um funcionário com os caixotes do lixo. Mesmo elevador este, por onde transitam as visitas que presenciam tudo isto emquanto esperam no hall dos tais elevadores que serve de sala de espera. Como é evidente, os corredores por onde se passa todo este trânsito de doentes, macas, visitas e caixotes do lixo são também os mesmos. Suponho que qualquer privado que tivesse uma unidade de saúde a trabalhar nestas condições sanitárias já estaria com um processo em cima e a unidade fechada. Esta tem todos os certificados de qualidade.

Costa aberta

Que a nossa costa está incrivelmente disponível para actividades clandestinas é um segredo de polichinelo. Aqui há tempos soube-se que a GNR voltou a ter que escalar pessoal para vigiar a costa com binóculos: a idade da pedra da vigilância. Sabe-se agora que isso acontece na sequência da avaria irrecuperável do antigo sistema e dos atrasos sucessivos de adjudicação do novo, por irregularidades do concurso realizado. Os nossos vizinhos espanhóis propõem-se ser parte da solução rápida do problema, desde que a adjudicação se faça a quem eles querem, o que implica que o nosso futuro sistema fique na dependência tecnológica do deles. Já não nos basta terem sido espanhóis os autores do desenvolvimento dos estudos do TGV para Portugal. defendendo obviamente os interesses nacionais deles,também querem mandar na nossa vigilância marítima: e nós a vê-los passar.

PASSOS DA HUMANIDADE



O ano de 1969 encerrou uma década de enormes transformações sociais e de acontecimentos que vieram a marcar impressivamente a História posterior da humanidade, para o bem e para o mal.

Foi a década da guerra do Vietname e respectiva contestação política nos EUA, do desenvolvimento da música popular e do rock com o festival de Woodstock, do surgimento de novos hábitos sociais com a democratização da moda, do aparecimento da pílula e divulgação da sua utilização com novos comportamentos sexuais, das convulsões sociais surgidas com as revoltas da juventude nas universidades americanas e do Maio de 68 em França, da Revolução Cultural chinesa e do recrudescimento da Guerra Fria.

Foi também a década da nossa guerra Colonial e das revoltas estudantis de 62 e de 69, da emigração em massa para a Europa e os “bidonvilles”, da construção da magnífica ponte suspensa em Lisboa, do assassinato de Humberto Delgado, da substituição de Salazar por Marcelo Caetano, da Ala Liberal e da breve Primavera política e dos golos de Eusébio contra a Coreia do Norte no Mundial de 66.

Foi uma década de crescimento económico generalizado como nunca se tinha visto antes na História, mesmo entre nós.

Mas um acontecimento marca esse ano de 1969, pelo seu simbolismo e significado.

Faz hoje precisamente 40 anos que o primeiro homem pisou a Lua. Ainda me lembro de ser quase criança e ficar a ver a televisão a preto e branco para correr a chamar a família quando as imagens surgissem. O comandante da Apolo XI, Neil Armstrong, depois de uma descida perfeita do módulo Eagle sobre o Mar da Tranquilidade, pisou a superfície lunar e proferiu a frase inesquecível: “Um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade”. Para além das marcas físicas das pegadas e da bandeira cravada no solo, foi esta a frase que marcou o momento para sempre.

Para nós, portugueses, a comparação com os nossos navegadores de há 500 anos é inevitável. Trata-se de feitos de exploradores que foram até onde nunca ninguém tinha ido antes. Mesmo aquele desenvolvimento tecnológico que há 40 anos nos maravilhava, aparece hoje aos nossos olhos tão frágil como as cascas de noz em que viajaram Vasco da Gama e tantos outros. Aqueles sucessos não surgiram por geração espontânea. Os descobrimentos portugueses foram fruto de uma preparação sistemática, desde a plantação das árvores que permitiram a construção das naus até ao desenvolvimento de técnicas de navegação e conhecimentos astronómicos. A Apolo XI foi o resultado de uma manifestação deliberada de vontade do Presidente Kennedy, que em 1962 estabeleceu que até ao fim da década os americanos colocariam um homem na Lua.

Provavelmente. ainda hoje muita gente não acredita que já houve homens a caminhar no solo lunar. Mas tudo isto não faz esquecer a emoção e sensação estranha que foi sair para a rua naquelas noites, olhar para o nosso satélite natural e saber que estavam lá homens a fazer nem eles sabiam bem o quê, para além de trazer umas pedras, mas com a consciência clara de representarem um marco gigantesco na História da Humanidade.


Publicado no Diário de Coimbra em 20 de Julho de 2009