sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Paizinho Krugman falou

Paizinho Krugman falou:


O que pode Passos Coelho fazer? Promover o crescimento, dizem alguns enquanto põem uma velinha a São Paul Krugman. Estimular a economia, gritam outros enquanto beijam a medalhinha de São Krugman que trazem ao peito. Adoptar medidas anti-ciclicas, berram aqueles que, de joelhos, se dirigem para a capelinha das aparições de São Krugman em pleno New York Times. Pois vai-se a ver e o próprio santinho milagreiro não anda muito convencido disso. De acordo com um post fresquinho, o todo poderoso e omnisciente acaba de comunicar aos devotos que aos países periféricos da Zona Euro que se arrastam em lenta agonia restam as seguintes soluções:



  • Implorar que a Troika torne as medidas de austeridade menos severas (importa recordar que a tábua quarta dos mandamentos das crendices e mezinhas prescreve que ali onde o mestre escreveu austeridade menos severa não deve o fiel discípulo entender coisa diferente);

  • Fazer o que for possível para estimular a competitividade (estimular a competitividade e não qualquer outra coisa - recordo a propósito a já referida tábua quarta), sendo certo que o mestre pensa não se poder fazer grande coisa;

  • Esperar que as coisas melhorem aos poucos por via da desvalorização interna (yes, I am afraid he said it again, pelo que os caríssimos apaniguados podem desde já preparar os raminhos para vergastarem as costas) ou que piorem (situação que pode preparar o contexto económico e politico para uma saída do euro).


Ah, paizinho Krugman também refere que não vê balas mágicas ou soluçõezinhas milagreiras. Rotundazinhas e pontezinhas, investimentozinho do Estado que era tão bom, viste-o nem eu. Agora ide, fieis discípulos do santinho. Ide ler. E orai e fazei penitência se a tanto vos sentirdes obrigados.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Regressa a discussão do TGV e do novo aeroporto?

PS apela ao Governo para que inverta estratégia económica: O PS considerou nesta quinta-feira que as mais recentes previsões da Comissão Europeia comprovam o caminho errado das políticas de austeridade e apelou ao Governo para que inverta a sua estratégia, apostando em medidas de crescimento e emprego.

Desacordo ortográfico

Questões do Estado de Direito - Opinião - DNPublicar mensagem

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

GREGOS



A Grécia de hoje é o exemplo de tudo aquilo que um país não deve ser, principalmente se estiver integrado numa União em que tem responsabilidades perante os outros membros. Nos últimos dias assistimos a uma tentativa, entre nós, de apelar a sentimentos de “solidariedade”, afirmando-se que a Grécia merece todo o apoio por aquilo que a sua História representa para Europa e mesmo para a Humanidade. A Grécia antiga fazia parte do que a minha geração estudou sobre as raízes da nossa civilização, tal como o Egipto antigo e Roma. Conhecer as diferenças entre as cidades de Atenas e Esparta, a guerra do Peloponeso e Péricles, as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, apreciar a arquitectura e a escultura clássicas gregas e ler a mitologia grega fazia as nossas delícias e levava-nos a um mundo extraordinário e diferente do nosso. Mas a civilização grega foi há mais de dois mil anos e de lá para cá muito se passou. Mais recentemente, no século XX, a Grécia teve até o famoso e tristemente célebre Regime dos Coronéis, a fazer esquecer que a Grécia foi a pátria da Democracia e inventou a República. Isto é, tal como muitos países que tiveram o seu passado glorioso mais ou menos distante, a Grécia de hoje não pode ser olhada como um país especial, mas como um dos membros da União de que todos fazemos parte, tal como a Itália, a Espanha, a Holanda, a França e Portugal. Todos tivemos um passado deslumbrante e um papel importante no mundo, o que não nos livra das responsabilidades do presente.
A realidade é que o presente grego é um fardo pesadíssimo para todos os parceiros europeus. Se no ano passado Portugal se viu obrigado a pedir ajuda financeira de 78 mil milhões de euros, estando a cumprir rigorosamente e com grandes sacrifícios o plano de austeridade negociado com a Troika ainda pelo anterior governo, a Grécia já está a pedir mais 130 mil milhões de euros, depois do primeiro pacote de 110.000 milhões negociado em 2010. É obra e dá a ideia de que a Grécia é um buraco sem fundo. A Europa tem culpas nisto, claro está! Quando a Grécia foi admitida no Euro, toda a gente sabia que as suas contas públicas apresentadas à União eram falsas e mesmo assim deixou-se andar até à actual situação. Hoje, assistimos à revolta nas ruas de Atenas, com manifestações e violência a rodos. Nas últimas semanas o vandalismo andou à solta com centenas de edifícios vandalizados e muitos até incendiados. No Parlamento estabeleceu-se a confusão, havendo já dezenas de expulsões de deputados rebeldes por parte dos principais partidos, de esquerda e de direita. A desolação é geral e o estado de espírito do povo grego cada vez mais impaciente e instável, podendo mesmo esperar-se que nas eleições previstas para daqui a dois meses a revolta se manifeste também nas urnas. Se, de facto, os partidos de extrema esquerda, que criticam a austeridade mas não têm soluções nem se entendem entre si tiverem uma grande votação, será de esperar o pior; a Grécia sairá do Euro, declarará certamente a bancarrota porque deixará de pagar aos seus credores e entrará em mais um período negro da sua História. Toda a Europa e o resto do mundo sabem disto e é por esta razão que os parceiros da União, com a Alemanha à cabeça se mostram hoje em dia tão inflexíveis com a Grécia. A gravidade da situação grega é de tal ordem que um país que representa apenas 3% do PIB europeu e que ainda há oito anos organizou os Jogos Olímpicos conseguiu colocar toda a União e o Euro numa crise cujo fim não se avista.
Portugal não está neste campeonato e temos que ter consciência disso. Os negociadores da Troika têm reconhecido que estamos a cumprir o que infelizmente tivemos que acordar com eles. Mas há ainda um longo e penoso caminho a percorrer até podermos levantar a cabeça, o que só sucederá quando o Estado português se conseguir financiar por si próprio com taxas normais, sem apoio externo. Mesmo que nos vejamos todos gregos para lá chegar, como se costuma dizer.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Fevereiro de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Uma doce recordação

Discussão gravíssima com Soares levou Sócrates a pedir ajuda externa - Política - PUBLICO.PT

Quantas décadas de austeridade nos esperam?

Quantas décadas de austeridade nos esperam?:

Notícia de hoje:



Mesmo crescendo 2% ou 4% ao ano, não dá. Portugal está numa "situação crítica" e vai ter de renegociar com os credores um desconto de "33% a 50%" da sua dívida pública, diz um estudo do Instituto Kiel para a Economia Mundial, um conceituado centro de investigação da Alemanha.
A dívida da República portuguesa está hoje perto dos 200 mil milhões de euros, o que significa que, na pior das hipóteses, o Governo teria de renegociar cerca de 100 mil milhões, perto de 58% do produto interno bruto (PIB).
De acordo com os economistas David Bencek e Henning Klodt, "será inevitável um haircut radical" em Portugal, Itália e Irlanda. Por esta ordem. Na Grécia também, mas o caso é tão grave (está a caminho da bancarrota total) que é tratado à parte.
O "haircut" não é mais que um desconto substancial concedido pelos credores após negociação dos termos dos empréstimos contraídos pela República Portuguesa de modo a viabilizar o cumprimento – redução das taxas de juro, pagamento em prestações mais suaves, obter um prazo de amortização mais alargado, por exemplo.


A factura de juros a pagar por Portugal (mais de cinco mil milhões de euros ao ano, até 2015, pelo menos) é tão pesada, que a economia teria de crescer bem mais que 4% para ter músculo e aguentar todo esse endividamento.



Ou seja, vamos viver em austeridade até sermos velhinhos.

A censura de hoje.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

COMÉRCIO EM MUDANÇA


A crise do chamado comércio tradicional de rua não é um problema só de Coimbra, nem sequer de Portugal, mas comum a muitas cidades europeias. Se bem que haja razões económicas conjunturais ou mesmo causas locais específicas, um aspecto se sobrepõe a todos os outros, sendo necessário tomar consciência dele, para se poder fazer frente à situação, com eficácia. É hoje claro que há uma mudança generalizada de hábitos de compras. Terá a ver com a utilização mais intensiva do automóvel, com a oferta alternativa dos centros comerciais que dispõem de estacionamento próprio as mais das vezes gratuito e coberto, com o próprio surgimento e grande divulgação das lojas na internet, com o facto de praticamente todas as mulheres trabalharem, comprimindo-se os períodos que as famílias podem dedicar às compras, etc.
Na realidade, não se vê praticamente ninguém que não destaque a necessidade e as vantagens de fazer compras no comércio tradicional instalado nos centros históricos das cidades. Mas, na prática, esse comércio vê-se confinado a ter como clientes os turistas que visitam os centros históricos, bem como as pessoas que trabalham nessas zonas. É raro que os consumidores se desloquem propositadamente a essas zonas para fazer compras, ainda que se digam grandes defensores do comércio tradicional.
Dir-me-ão, com alguma razão, que o fecho das ruas de comércio tradicional ao tráfego automóvel por completo lhes retirou acessibilidade e, em consequência, muitos clientes. E ainda que a autorização de instalação de centros comerciais lhes retirou ainda muitos mais.
Mas, na realidade, foi a evolução extremamente rápida da sociedade e dos modos de vida que mudou tudo, não ficando os hábitos de compra de fora dessa mudança. É isso que é necessário ter em conta nas políticas de recuperação económica dos centros urbanos, fazendo parte da reabilitação urbana, que não é apenas física.
Da parte dos comerciantes, será necessário ir ao encontro dos clientes, não ficando passivamente à espera que passem em frente da loja e entrem. As lojas tradicionais têm que deixar de ser tão “tradicionais” na atitude, promovendo-se na internet, criando apetência pelos seus produtos, praticando preços mais acessíveis que os dos centros comerciais (que têm a desvantagem das rendas caríssimas), estando abertas todos os dias, exibindo qualidade e diferenciação no atendimento e, talvez acima de tudo, oferecendo variedade nos seus produtos que nos centros comerciais estão hoje completamente normalizados; isto inclui a possibilidade de oferecer produtos portugueses de qualidade, tradicionais ou modernos, que tão dificilmente entram no circuito das redes de lojas dos centros comerciais.
As autarquias têm um papel importantíssimo na dinamização do comércio tradicional. Desde logo, facilitando e mesmo promovendo o comércio de rua, não lhe criando dificuldades artificiais e burocráticas. Por exemplo, uma das formas de aumentar o número de habitantes nas zonas centrais é criar condições para que os comerciantes voltem a morar por cima das suas lojas, como acontecia antigamente. Depois, garantindo que é agradável fazer compras nas ruas centrais das cidades; isso significa limpeza cuidada e constante das ruas e segurança permanente e visível. Pode-se acrescentar algo que os centros comerciais praticam, que é uma constante animação de rua, que atraia clientes e faça as crianças puxarem pelos pais para esses locais. Não esquecendo a questão crucial da acessibilidade que tem tanto a ver com o estacionamento dos clientes e moradores como com o facilitar o acesso dos moradores às suas habitações situadas nos centros.
Os tempos estão difíceis para todos, mas é nestas alturas que as lideranças se podem afirmar, verificando aquilo que ao longo dos tempos tem acentuado as dificuldades, percebendo os sinais do futuro que o presente já indica e assumindo que as cidades são para os seus habitantes em cada momento e não qualquer outra coisa.