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domingo, 24 de novembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
terça-feira, 19 de novembro de 2019
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
De novo, Pedro e o lobo
Há uns tempos conversava com um amigo sobre a possibilidade
de determinada personalidade política se candidatar numas eleições em que
surgiria como candidato principal. Alguém opinou que essa possibilidade estaria
arredada porque grande parte do eleitorado estaria sabedor de atitudes e
práticas da tal personagem, ao longo de anos, que o levaria a ser punido
eleitoralmente.
Mas será que aquele raciocínio é hoje adequado à nossa
realidade? Não se pense que o autor destas linhas tem a mais leve veleidade de
querer impor regras morais ou de se arvorar em pregador de ética. A intenção
deste escrito é apenas a de abordar alguns aspectos da actualidade, tentando
encontrar caminhos que nos possam evitar enganos e manipulações pela forma como
a informação é hoje tantas vezes usada para criar sensações e ambientes que
nada têm a ver com a realidade dos factos.
Os meios de comunicação social sofreram, nas últimas décadas
e sofrem ainda, alterações profundas cujas consequências ainda estamos longe de
perceber na sua totalidade. Na generalidade, os jornais começaram por misturar
opinião com informação, abrindo caminho a uma confusão que leva a tudo menos
uma informação isenta que permita aos leitores formar a sua própria opinião em
face de dados fidedignos. Lamentavelmente muitos jornalistas, felizmente não
todos, entraram no caminho fácil de misturar os seus sentimentos e opções
políticas próprias com a informação que veiculam. Em consequência da falta de
saúde financeira dos jornais, muitas redacções foram sendo preenchidas com
estagiários ou jornalistas com contratos a prazo, cuja independência é muito
frágil.
Os novos meios, baseados na internet, vieram complicar ainda
mais a transmissão livre e rigorosa dos acontecimentos, exigindo dos receptores
da mensagem uma capacidade de análise muito mais desenvolvida do que
anteriormente. Em particular nas redes sociais, tornou-se necessário ir
verificar da veracidade do que vai surgindo, mas também da data das notícias,
sendo frequente que elas voltem à superfície meses ou anos depois de se terem
verificado, o que altera por completo o seu significado. Depois, os algoritmos que
estão por trás do facebook ou do instagram detectam automaticamente aquilo que
cada um procura com mais frequência, passando a propor notícias e fontes afins,
puxando artificialmente para um ou outro lado aquilo que é apresentado a cada
utente e assim manipulando a própria realidade que cada um percepciona.
A rapidez dos novos meios leva a um atropelar contínuo das
notícias, transformando em velho aquilo que no dia anterior fora uma grande
novidade, substituindo-se uma indignação por outra e logo pela seguinte. Como
as nossas mentes não estão habituadas a esta velocidade de substituição de
recepção, tratamento e reacção, estes escândalos sucessivos deixam de ser genuínas
manifestações de repúdio para se transformarem em puro entretenimento de
massas.
Em Portugal, por uma razão ou por outra, actualmente não há
quase um dia em que não surjam notícias sobre acções policiais em gabinetes
ministeriais, autárquicos ou de empresas públicas e privadas. De muitas delas
nunca mais se ouve falar, provavelmente porque se verificou que as queixas ou
as suspeitas eram infundadas. Mas os casos que se desenvolvem até formulação de
acusação são em número suficientemente grande para que todos os dias surjam
novas ou requentadas notícias sobre os processos judiciais correspondentes. Será
quase desnecessário recordar aqui os casos de justiça de banqueiros, de
ministros e mesmo de um ex primeiro-ministro que não saem das notícias há cinco
ou mais anos.
Este sucessivo e constante martelar sobre comportamento reprovável
de representantes das elites sociais, políticas, económicas e financeiras não
pode deixar de ter consequências sobre a forma como essas atitudes são olhadas
pelo cidadão comum. O passo para considerar que “são todos iguais” é pequeno,
tal como o é o de “normalizar” esses comportamentos, assim se respondendo à
questão formulada no início desta crónica.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Novembro de 2019
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
ÀCERCA DE MUROS
Os muros que separam comunidades são um símbolo do pior de
que a raça humana é capaz. E, infelizmente, há-os para todo os gostos. Desde a
Grande Muralha da China com os seus 6.000 km de extensão e que é hoje apenas
uma atracção turística, até aos muros com que os presidentes americanos Clinton,
Obama e agora Trump têm vindo a tentar impedir a entrada clandestina de
mexicanos nos EUA, passando pelo muro da Cisjordânia, há-os para todos os
gostos.
Mas a História recente regista um que deveria fazer pensar
duas vezes todos aqueles que sonham com a capacidade dos muros para reter a
liberdade das pessoas. Ao contrário dos outros, cuja edificação encontra sempre
como justificação proteger “os de dentro e o seu sistema de vida contra “os de
fora” que os pretenderão invadir, o Muro de Berlim, dissessem os seus
construtores o que dissessem, só teve um objectivo: impedir os berlinenses de
sair, abandonar o regime que os oprimia.
Após o fim da hecatombe europeia da Segunda Guerra Mundial,
Estaline aproveitou os avanços militares dos seus exércitos a caminho de Berlim
e forçou, pela força e sem qualquer respeito pela vontade democrática dos
respectivos povos, o estabelecimento de regimes comunistas por toda parte
oriental da Europa. Apenas escapou a Grécia depois de uma guerra civil entre
1946 e 1949, porque as potências ocidentais apoiaram as forças democráticas
contra os comunistas que, também na Grécia, tentavam tomar o poder pela força
das armas. Sobre o Leste da Europa caiu o que Churchill chamou uma “cortina de
ferro desde Stettin no Báltico até Trieste no Adriático”. Acerca do que se
passou na Europa nesses tempos escuros da 2ª Grande Guerra e dos que se
seguiram no leste europeu, não há como ler a história do camponês romeno Johann
Moritz descrita no notável romance “A 25ª Hora” de Virgil Gheorghiu.

Ficou célebre a frase do presidente americano John Kennedy
ao visitar Berlim em Junho de 1963 para manifestar o apoio do mundo ocidental
aos berlinenses sitiados: "Ich bin ein Berliner" ("Eu sou
um berlinense", em alemão).

E, no dia 9 de Novembro de 1989, passam agora trinta anos,
aconteceu o que, três meses antes, ninguém seria capaz de prever: a população
berlinense literalmente saltou para cima do Muro e, de todas as formas,
destruiu-o em pouco tempo, perante a passividade e espanto dos polícias,
mudando o mundo já que, depois disso, nada mais foi como dantes em toda a
Europa e mesmo no mundo, numa História ainda a fazer-se.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 11 de Novembro de 2019
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