sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Contingência ou a história de o Pedro e o Lobo

 Fico espantado e mesmo preocupado quando vejo o Governo limitar os direitos constitucionais (estado de contingência) sem apresentar justificações concretas para tal. Fala da pandemia, mas aquele estado, sem facto nenhum novo que o sustente e anunciado semanas antes, não parece razoável.

Mais impressionante é o estado abúlico dos portugueses, a começar pelo presidente da República, perante este abuso evidente.



segunda-feira, 24 de agosto de 2020

FERROVIA : UMA ILHA PORTUGUESA?

 

O início da História da ferrovia em Portugal coincidiu com a «Regeneração» iniciada em 1851, de que a figura mais conhecida é Fontes Pereira de Melo. Após dezenas de anos de invasões francesas e guerras civis que custaram ao país um atraso enorme no seu desenvolvimento a todos os níveis face aos restantes países europeus, houve finalmente um período, embora curto, em que se tentou ultrapassar essa situação colocando Portugal num rumo de acerto com a Europa.

Depois dos necessários estudos técnicos, financeiros e organizacionais, o primeiro troço ferroviário ligando Lisboa ao Carregado foi inaugurado em 28 de Outubro de 1856 com um comboio especial em que viajava o jovem Rei D. Pedro V com a família real, tendo a exploração comercial tido início dois dias depois.

O crescimento das linhas férreas foi, a partir daí, muito rápido e estendeu-se a todo o país. Logo em 1861 chegou a Santarém, em 1863 a Évora e em 1864 a Taveiro, em 1875 a Braga e em 1877 a Porto-Campanhã. Em 1879 estava na Régua em 1882 estava feita a ligação entre a Figueira da Foz e Vilar Formoso. A ligação entre Coimbra B e Coimbra estabeleceu-se em 1885 e em 1887 o comboio chegava a Mirandela. A ligação entre Coimbra e a Lousã estabeleceu-se em 1906 e até Serpins em 1930.

À excepção de alguns pequenos ramais de interligação, o investimento português em ferrovia nova terminou em 1952 com o troço Vila Real de S.tº António-Guadiana. Logo a partir de 1965 começaram os encerramentos, como por exemplo, Vale de Santarém–Rio Maior. O maior nº de encerramentos deu-se a partir da década de 80, como a ligação entre o Pocinho e Miranda do Douro ou Vila Real-Chaves.

O encerramento da linha da Lousã entre Coimbra e Serpins faz parte deste movimento descendente e ocorreu em 2010.

A variação da extensão da rede ao longo dos anos é um indicador preciso da evolução da ferrovia em Portugal. Assim, de zero quilómetros em 1856 passou-se para 1.212 em 1880 e 2.365 em 1900. Isto apenas em 44 anos. Essa extensão cresceu até ao máximo de 1950, ano em que foi de 3.627 quilómetros. Tendo-se mantido durante a década seguinte, a partir de 1970 foi-se reduzindo até ao valor de 2.516 quilómetros em 2016, inferior em 300 Km à extensão de linhas existente em 1910.

Não será preciso muito mais informação para se perceber a falta de investimento na ferrovia em Portugal, a partir da década de 70 do século passado, pelo que tudo o que os responsáveis políticos nos prometerem sobre o assunto deve ser recebido com muitas reticências. E nem a justificação da qualidade versus quantidade serve, porque o que se exige em cada momento é o melhor serviço adequado ao seu tempo.

Embora de início as vias férreas portuguesas tivessem a bitola, isto é, distância entre carris, de 1435 mm que veio a ser adoptada internacionalmente e no resto da Europa, na década de 50 foi adoptada a de 1664 mm usada em Espanha, para uniformização com o país vizinho, nossa única fronteira terrestre. Passámos a ter a chamada bitola ibérica que transformou a Península Ibérica numa ilha, em termos ferroviários.

Se há modo de transporte em que Portugal seja periférico é o ferroviário. Os nossos vizinhos espanhóis estão há anos a substituir paulatinamente as ligações ferroviárias a França, isto é, para o resto da Europa, para bitola europeia. Já o fez nas ligações catalãs, está a terminá-lo-lo no país Basco e está a fazê-lo para lá da fronteira portuguesa em direcção a Badajoz à Galiza.

É necessário e urgente alterar a situação. Não se pode defender a continuação da bitola ibérica nas ligações a Espanha como fraco volume de mercadorias transportadas por este modo. É precisamente para alterar isso que é necessário facilitar a circulação desde Portugal até França e restante Europa, directamente, pelo menos em duas ligações rodoviárias a Espanha em bitola europeia. Não nos podemos deixar encurralar pela bitola ibérica enquanto Espanha vai fazendo plataformas logísticas junto à fronteira com Portugal para prever a possibilidade de circulação, mas indirecta, logo mais lenta e mais cara, retirando competitividade aos nossos produtos. E as questões ambientais e energéticas aconselham a substituição do modo rodoviário (veículos de transporte de mercadorias pesados) por comboios a partir dos 300 Km.

O desinvestimento português na ferrovia dos últimos 50 anos não pode continuar sob pena de Portugal, e já não a Península Ibérica, se transformar numa ilha. Os portugueses devem tomar consciência de que, neste momento, se discutem na União Europeia decisões cruciais para financiamento das ligações ferroviárias europeias que são cruciais para a nossa economia e desenvolvimento. E não há a certeza, muito longe disso, de que os nossos governantes estejam a tomar as decisões certas nesta matéria.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Agosto de 2020

domingo, 23 de agosto de 2020

HIDROGÉNIO

Citando o Prof.  Clemente Pedro Nunes do Instituto Superior Técnico, que se dedica a estas coisas há anos, ontem no Expresso:
 

«Estamos, sim, perante o retomar do circo mediático iniciado em 2005 pelo Governo Sócrates para promover as potências elétricas intermitentes, solares e eólicas, à custa dos consumidores.

Para atrair investidores para essas tecnologias, na altura imaturas, foram-lhes oferecidas FIT (Feed in Tariffs), que dão a quem delas beneficia generosas tarifas garantidas, em simultâneo com uma reserva absoluta de mercado durante 15 anos.

É assim que ainda hoje as famílias e as PME estão a pagar 380 euros/MWh pela eletricidade solar dos parques concedidos pelo Governo Sócrates em 2010, quando o preço atual de mercado está abaixo de 40 euros/MWh!

O que conduz a um sobrecusto de 600 milhões de euros por ano. E se juntarmos as FIT concedidas maciçamente às eólicas, os sobrecustos atingem os 2000 milhões de euros por ano. Uma bagatela para uma economia muito enfraquecida como a portuguesa.

E foram também as FIT concedidas às potências intermitentes que expulsam a atual central de Sines do mercado e forçaram a proprietária EDP a solicitar o respetivo encerramento, deitando assim ao lixo a mais eficiente central a carvão da Península Ibérica.

E para a substituir aparece agora um projeto megalómano de fazer uma monumental unidade de eletrólise para consumir eletricidade e água do mar, que para o efeito terá de ser dessalinizada para produzir hidrogénio, que, por sua vez, se vai queimar para depois se voltar a produzir eletricidade ...

Ou seja, desperdiçar milhares de milhões de euros de um país terrivelmente endividado num projeto completamente desnecessário e ineficiente do ponto de vista energético. E, de caminho, dar mais FIT aos novos promotores de mais 2000 MW de potências intermitentes, destruindo qualquer veleidade de se voltar a ter um mercado elétrico nos próximos 15 anos.

O país não pode derreter mais dinheiro em mais tecnologias imaturas, que apenas têm contribuído para enriquecer os respetivos promotores e arruinar a economia portuguesa desde 2005.

Por expor estas ideias no âmbito da discussão pública promovida pelo próprio Governo, fui já publicamente insultado pelo secretário de Estado João Galamba. Será uma nova ferramenta de pressão mediática que, todavia, não me intimida ... »

E estamos nisto com os socráticos também deste Governo.

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Emmylou Harris - The Boxer

Chefe de Gabinete do Primeiro-Ministro

 João Miguel Tavares escreveu isto ontem no Público. Cumprimento a capacidade informativa mas, acima de tudo, a coragem da denúncia.

País de brutos, mesmo.

 

 

 

Saúde em Reguengos

 Os responsáveis pela «saúde» em Reguengos de Monsaraz: 

 Filomena Araújo delegada regional de Saúde do Alentejo

 Augusto Santana de Brito, Delegado de saúde em Reguengos

 José Robalo, Presidente da Administração Regional de Saúde

Acima deles estão a ministra da Saúde e o primeiro-Ministro. 

Já os responsáveis pelo lar onde morreram, por negligência evidente, 18 velhos à sua guarda, são o presidente da Câmara da terra e mais 5 ou seis administradores.

Por acaso, é tudo gente do PS. O Alentejo, que há muitos anos pertencia aos latifundiários e depois ao Partido Comunista, parece ter mudado de mãos, mas não de condição. 

Brutos. 

 

 



Marylin Monroe por Alfred Eisenstaedt

 

RODRIGO DA FONSECA

 Tempos houve em que portugueses verticais  recusaram títulos: Rodrigo da Fonseca que pertenceu ao Batalhão Académico durante as Invasões Francesas, é um exemplo.

Diz-se que perto do fim da vida afirmou:

«Nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos, é triste»