A troca, na minha última crónica, da autoria
de uma citação (todo o indivíduo é ele próprio e a sua circunstância) que
erradamente atribuí a Unamuno quando na verdade é de José Ortega e Gasset é a
prova de como o nosso cérebro é frágil e de como podemos cometer erros até
naquilo que consideramos como adquirido pacificamente. Da falta aqui fica o
pedido de desculpas aos leitores, já que aos citados autores não o posso fazer.
Errar é de facto humano e penso que ninguém
estará livre disso, mais cedo ou mais tarde. E há erros e há erros já que, se
uns se ultrapassam com o seu reconhecimento, outros há que exigem muito mais do
que isso, pelas consequências trágicas que podem acarretar. Como por vezes
acontece ao governar um país, nomeadamente quando se defrontam situações sem
igual na História. Já houve várias pandemias ao longo da História da
Humanidade, mas nenhuma com as características da que enfrentamos, porque nunca
houve capacidade científica para lhes fazer frente como agora, nem nunca houve
força política para encerrar sociedades e economias como estamos a assistir
hoje.
Portugal, por razões ainda não inteiramente
explicadas, mostrou-se incapaz de coordenar devidamente todas as acções
necessárias a nível, sanitário, social e económico, falhando estrondosamente
com a pior situação de mortos COVID a nível mundial e um número inaceitável de
falecimentos não-COVID em excesso relativamente ao habitual, de que quase é
proibido falar. É uma catástrofe e todos temos de ter consciência disso.
Perante catástrofes, há que se ser capaz de
tomar medidas excepcionais, sendo evidente que quem nos trouxe a este ponto não
tem condições para continuar calma e placidamente no mesmo caminho e outro
demonstra não conhecer. Qual a saída? Realizar eleições no actual cenário não
parece ser solução porque, muito provavelmente, do resultado não sairia uma
alternativa evidente com força política para mudar as coisas.
As últimas
eleições não deram maioria absoluta a nenhum partido. Significa isso que a
solução governativa está sempre em aberto. E há uma solução clara e evidente
para se conseguir sair com dignidade, respeito democrático pelas escolhas dos
portugueses e capacidade de resposta perante os desafios que o actual governo
se mostra incapaz de ter. Essa solução exige intervenção do Presidente da
República e espírito de missão dos dois principais partidos portugueses para
evitar que a tragédia económica se venha somar à tragédia sanitária em que
estamos mergulhados. Um governo, não de iniciativa presidencial, mas
inteiramente constitucional, baseado num acordo parlamentar firme. Até porque
ninguém nos garante que não venha aí outra vaga ainda pior que a actual.
O PS e o PSD devem mostrar espírito
patriótico em vez de pensarem nos seus interesses políticos imediatos que,
embora compreensíveis, devem ficar de parte enquanto o país não recuperar desta
situação.
Para que um governo faça finalmente o que
deve ser feito e se pare com o jogo de esconde-esconde em que os políticos
parecem entretidos, não será mais que uma «proposta modesta» que os dois
partidos renunciem a que os seus líderes máximos ocupem o lugar de
Primeiro-ministro. Este poderia ser ocupado por um independente ou mesmo alguém
do partido maior com aceitação pelos dois partidos, como por exemplo Fernando
Medina, com um tempo de duração perfeitamente definido à partida.
O Marquês de Pombal, depois do terramoto de 1
de Novembro de 1755, afirmou ser preciso enterrar os mortos e cuidar dos vivos.
Além de cuidar dos sobreviventes, conseguiu também iniciar o processo de
reconstrução notável da Baixa lisboeta tal como hoje a conhecemos. Exemplo a
seguir, nestas circunstâncias também excepcionais.
A
possibilidade de se ultrapassar a actual situação catastrófica de Portugal está
nas mãos do Sr. Presidente da República e dos líderes dos dois principais
partidos que garantem na Assembleia da República o apoio legislativo necessário
para encontrar e levar à prática as soluções necessárias para a enfrentar e ultrapassar,
preferencialmente com o apoio da IL e do CDS. Em nome dos portugueses
sobreviventes, mas acima de tudo dos nossos filhos e netos, assim sejam capazes
de o fazer, rejeitando aqueles nacionalismos balofos de sermos os melhores do
mundo (que não somos, muito longe disso) e aceitando que os trabalhos que temos
pela frente exigem acima de tudo patriotismo, espírito de missão e competência
através da escolha dos melhores.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Fevereiro de 2021