Um dos cinco prémios que Alfred Nobel estabeleceu nas suas últimas vontades é o destinado anualmente àqueles que “fizeram o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz”. É o Prémio Nobel da Paz. Alfred Nobel deixou indicações para que o galardoado com este prémio seja seleccionado pelo Comité Norueguês do Nobel com cinco membros nomeado pelo Parlamento da Noruega. É entregue anualmente numa cerimónia em Oslo sendo, assim, o único não entregue em Estocolmo, na Suécia.
O Presidente dos EUA tem vindo a afirmar, insistentemente, que merece mais do que ninguém receber o Prémio Nobel da Paz. Apresenta como justificação o ter resolvido vários conflitos globais, incluindo os que se verificam entre a Tailândia e o Camboja, Israel e o Irão, o Ruanda e a República Democrática do Congo, a Índia e o Paquistão, a Sérvia e o Kosovo, e entre o Egito e a Etiópia. Deixo à consideração dos leitores a verificação da exactidão desta alegação, absolutamente fantasiosa. De fora fica a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, essa sim verdadeira há mais de três anos e que Trump garantia, ao ser eleito, conseguir resolver em três dias.
Tal é o seu desejo de ser Prémio Nobel da Paz que considerou mesmo, perante centenas de Generais e Almirantes americanos, que “será um insulto para os Estados Unidos se não receber o prémio Nobel da Paz”.
Não me recordo de alguém fazer uma campanha pessoal para receber um Nobel, seja ele qual for. Claro que há propostas, há os respectivos defensores, mas que o próprio exija desta forma um Nobel que considera dele, é completamente inaudito. O que merece alguma reflexão, tentando perceber as raízes de tal vontade.
A linguagem nunca substituiu a realidade, mas dá indícios claros sobre o rigor de quem se pronuncia. Há quem considere que a Paz como sugere Trump, é a ausência de guerra mas, nada de mais errado: não era por não ter guerra no seu interior que a França de Vichi estava em paz. Tal como há responsáveis educativos que afirmam correntemente que o objectivo do sistema educativo são os alunos; não é, é sim a educação desses alunos. Ou quem diga calmamente que o interesse dos hospitais são os doentes quando é, isso sim, a saúde deles. Tudo coisas muito diferentes.
O movimento MAGA de Donald Trump que se está a substituir ao antigo Partido Republicano tem um ódio de estimação: o antigo Presidente Barak Obama. E dá-se o caso de Obama ter sido Prémio Nobel da Paz em 2009. Tal como o foram anteriormente os presidentes Roosevelt em 1906, Wilson em 1919 e Carter em 2002.
Residirá nesta circunstância a explicação para o desejo estranhamente acerbado de Donald Trump para ser, a todo o custo, Prémio Nobel da Paz, provindo de alguém que, recentemente substituiu a designação da “Secretaria da Defesa” por “Secretaria da Guerra”. Estranha maneira de promover a Paz. Faria todo o sentido que alguém lhe transmitisse o ensinamento de Mahatma Gandhi: “Não há caminho para a paz, a paz é o caminho”.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Outubro de 2025
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