segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

D. Vataça Lascaris

 


O que faz um majestoso túmulo muito antigo, para além de tudo ostentando as águias bicéfalas de Bizâncio numa Igreja de Coimbra, no caso a Sé Velha, perguntar-se-á um visitante curioso ao passar no lado do Evangelho daquele templo. Ainda por cima, a figura jacente do túmulo é de uma mulher, não havendo notícia de outras mulheres relevantes na Coimbra daqueles tempos, para além da Rainha Santa e de Inês de Castro.

O túmulo é de D. Vataça Lascaris, neta do imperador de Aleixo Comeno, da casa imperial dos Lascaris Vatatzes Komnenos, imperadores de Bizâncio-Niceia, por sua mãe a princesa Eudoxia Lascaris; pelo lado do seu pai o Conde Guilherme Pedro, descendia dos Condes de Ventimiglia, do Norte de Itália. Terá nascido por volta de 1270, tendo deixado a península italiana e ido viver para Aragão com a sua mãe após a morte do pai, dado o parentesco com a Casa Real.

A 11 de Fevereiro de 1282, celebrou-se em Barcelona o casamento do Rei D. Dinis com D. Isabel de Aragão tendo D. Vataça acompanhado a nova rainha de Portugal, sua familiar, integrada no seu séquito, assim se definindo a sua vida futura. Em Portugal, D. Vataça veio a casar com Martim Anes de Soverosa, muito mais velho do que ela, o qual veio a falecer poucos anos depois, em 1295 sem que, ao que se saiba, tenham tido filhos.

A sua viuvez bem como a ligação íntima com a rainha levaram a que tivesse acompanhado como camareira-mor a infanta D. Constança, filha de D. Dinis e D. Isabel quando esta foi para Castela em 1297 para casar, em Alcanizes, com o rei Fernando IV de Castela e Leão, após as lutas conhecidas entre os reinos irmãos. Na sequência da morte precoce de D. Constança ocorrida em 1313, apenas um mês depois de ter enviuvado e dos conflitos dinásticos que se lhe seguiram, D. Vataça regressou a Portugal. Há algum debate sobre as razões efectivas deste regresso para Portugal, por parte de alguém com imenso poder e património em terras espanholas, havendo quem defenda que, após ter enviuvado, D. Vataça terá tido uma relação de que eventualmente nasceu uma criança, uma menina que D. Vataça teria ter tido que proteger com enormes cuidados, o que ajudaria a explicar o seu regresso não havendo, no entanto, provas de que tal tivesse acontecido realmente.

Tendo vivido vários anos no palácio em Santiago do Cacém, onde tinha a sua própria corte, após a morte do rei D. Dinis, ocorrida em 1325, acompanhou ainda mais de perto a rainha D. Isabel, com quem foi morar nos paços de Santa Clara, junto do Mosteiro das clarissas Sendo uma mulher de uma enorme riqueza pessoal, que chegou a comprar castelos, passou a viver uma vida despojada junto da sua grande amiga Isabel. Contudo, para morada eterna encomendou para si própria um túmulo a Mestre Pêro, igualmente o autor do túmulo da Rainha Santa. Este último ficou no Mosteiro de Santa Clara, enquanto o de D. Vataça foi destinado à Sé de Coimbra, hoje a Sé Velha, a quem destinou grande parte da sua riqueza pela sua morte em 1336. A escultura jacente é magnífica, fazendo justiça à grandiosidade da princesa bizantina que representa, cujo «poder imperial» é marcado pelas águias bicéfalas, simbolizado o absoluto: a vida e a morte.

D. Vataça foi uma mulher que aliou ao poder material inerente ao seu nascimento, por pertencer a várias cortes, uma excepcional capacidade de influenciar reis, príncipes e dignitários religiosos do seu tempo, numa acção profícua do que hoje chamaríamos alta diplomacia, em particular nos reinos de Portugal, Castela e Aragão. Não por acaso, e é muito relevante para a compreensão da sua formação superior, entre as suas riquezas avultava uma biblioteca de vinte livros, num tempo em que um livro era um objecto extraordinário quer pelo pergaminho que era feito, quer por ser escrito e pintado de forma inteiramente manual. E é certamente de grande significado o facto de ter escolhido a Sé de Coimbra para o seu repouso eterno, sendo para mim um mistério a razão por que a sua história não é mais conhecida na nossa Cidade que parece tender a dar mais importância a mitos do que a personagens verdadeiras e significativas da nossa História.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 7 de Fevereiro de 2022

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

PELA PAZ NA EUROPA


Da Europa de Leste chega, de novo, o som dos tambores de guerra. O conflito entre a Federação Russa e a Ucrânia ameaça sair dos salões diplomáticos e passar a uma fase militar de consequências imprevisíveis, mas que seriam sempre trágicas para as populações, a começar pelas locais.

A recordação dos eventos de há cem anos que levaram às duas denominadas guerras mundiais deverá estar sempre presente, por circunstâncias que poderiam parecer menores saírem fora do controlo e levarem a tragédias de dimensão dantesca. O assassinato do arquiduque herdeiro do Império Austro-Húngaro Francisco Fernando em Sarajevo, na Bósnia, em 28 de Junho de 1914 não parecia conter, só por si, os ingredientes para levar toda a Europa e parte do mundo a uma guerra. Mas o que aconteceu foi isso mesmo, provocando uma hecatombe de dezenas de milhões de mortos militares e civis e o desaparecimento de quatro impérios. Oficialmente, a Segunda Guerra Mundial começou com a invasão alemã da Polónia em 1 de Setembro de 1939 com a consequente declaração de guerra pela França e pela Inglaterra. Contudo, em Março desse mesmo ano Hitler havia já invadido e ocupado a Checoslováquia sem que tivesse havido qualquer reacção internacional. A fim de conter os ímpetos imperialistas do regime nazi, a Inglaterra e a França tinham acordado com a Alemanha o Pacto de Munique em Setembro de 1938, concedendo a Hitler o «direito» a ocupar o chamado país dos sudetas na defesa do que chamava «o espaço vital da Alemanha» o que, na prática, o autorizava a invadir a Checoslováquia, algo considerado de menores consequências. O que se passou a seguir todos nós, infelizmente, sabemos o que foi.

A Ucrânia é um vasto país (com os seus mais de 600.000 km2 é mesmo o maior em território exclusivamente europeu) com fronteiras a Leste com a Rússia, a Sul com os mares Negro e de Azov, a Moldávia e a Roménia, a Norte com a Rússia e a Bielorrússia e a Ocidente com a Polónia, a Eslovénia e a Hungria. Trata-se de um país com civilizações de milhares de anos, considerado o celeiro da Europa, que tem o azar de se situar na confluência de impérios e rota de invasões várias.

Este país que sempre nos foi estranho, a nós portugueses, tornou-se-nos familiar nos últimos trinta anos pela vinda de milhares de ucranianos e ucranianas que para cá vieram viver, a maioria temporariamente, para fugir às tensões políticas e carências que se fizeram sentir no seu país, em particular após 1991. E penso não estar errado se dizer que na generalidade se trata de pessoas afáveis, educadas, trabalhadoras e de uma grande simpatia.

Foi de facto em 1991 que a Ucrânia se tornou um país independente, depois da desagregação da antiga URSS. O fim da «guerra fria» ditou profundas alterações no leste europeu, tendo muitos países do antigo Pacto de Varsóvia decidido integrar a União Europeia com grande sucesso no seu crescimento económico, diga-se mesmo. Hoje em dia, dos países que confinam com a Ucrânia somente a Rússia, a Bielorrússia e a Moldávia não fazem parte da União Europeia. Contudo, o apelo ocidental é fortíssimo, o que se traduz numa hipersensibilidade russa que nunca abandonou as suas tendências imperialistas de séculos. Situação que se torna ainda mais complicada porque muitos desses países, para sacudir a pressão russa, decidiram integrar igualmente a NATO, sendo essa uma organização militar que prevê a ajuda colectiva a qualquer membro atacado. E, neste momento, dos países vizinhos da Ucrânia só aqueles três acima referidos não fazem também parte da NATO, com a circunstância de, a Sul do Mar Negro se situar a Turquia, também membro da NATO.

A partir do momento em que a Ucrânia manifestou interesse em aderir à NATO, no que parece ser um direito de soberania seu, o conflito latente com a Federação Russa tornou-se efectivo. Putin não aceita sequer uma moratória de vinte anos para a integração da Ucrânia na aliança militar ocidental e começou a deslocar tropas e material bélico para a fronteira dos dois países e mesmo para a sua aliada Bielorrússia cuja fronteira com a Ucrânia está a escassas dezenas de quilómetros de Kiev, a capital ucraniana. Tudo leva a crer tratar-se da defesa de outro «espaço vital» que vem adicionar-se aos conflitos que em 2014 levaram à anexação da Crimeia pela Rússia e a conflitos permanentes nas designadas «repúblicas» de Donetsk e Luhansk.

Os sinais são todos de um perigo efectivo, potenciado pela falta de democracia dos três países em causa e mesmo por episódios anteriores com o actual e o anterior presidentes americanos e por alguma atitude militarista exagerada dos responsáveis da NATO. A União Europeia sofre de vários males, dos quais um dos menores não será a falta de uma política comum de defesa e mesmo de capacidade militar efectiva, a que acresce a dependência energética da Rússia cuja economia depende hoje quase exclusivamente desse factor. Um conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia poderia muito facilmente alastrar ao resto da Europa, tal como há cem anos. Cabe a nós europeus, -em cada um dos nossos países, exigir dos governantes atitudes firmes mas sensatas perante os interesses dos dois países em disputa, com consciência viva do perigo que espreita de novo.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 31 de Janeiro de 2022

Imagem recolhida na internet

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

E A CULTURA, MEUS CAROS PARTIDOS?

 


Se há algo que me tem surpreendido nestes meses de pré-campanha e campanha efectiva para as eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro de 2022 é a total ausência de referência e debate partidário relativamente à política cultural, da esquerda à direita.

A noção de cultura evoluiu muito nas últimas décadas, em particular depois da Segunda Guerra Mundial, momento histórico trágico e decisivo, já que tornou impossível dissociar o desenvolvimento cultural da capacidade humana de fazer o Mal absoluto traduzido pelo Holocausto como George Steiner vincou nos seus trabalhos, mormente sobre a História e caracterização cultural da Europa. A ideia elitista da Cultura à maneira de T.S. Eliot ficou muito prejudicada, embora se mantenha a ideia fundamental e consequente de que a cultura não é o mesmo que conhecimento. É com Giles Lipovetsky e Jean Serroy que se conclui que depois da cultura clássica surge a «Cultura-Mundo» com alterações profundas, das quais a menor não será certamente o predomínio da imagem e do som sobre a palavra, com o espectáculo a tomar a primazia.

Em consequência de todas estas mudanças, a política cultural. é hoje parte integrante das políticas fundamentais dos Estados liberais modernos, tal como o são a Saúde, a Habitação ou a Educação, por exemplo.

De acordo com a própria União Europeia, «a cultura está no centro do rico património e da história da Europa». Daqui se parte para concluir sobre a importância da cultura, não só para a descoberta de locais únicos e significativos o que constitui o motivo do já hoje importante e em crescimento turismo cultural, mas para todo o desenvolvimento de uma actividade económica vasta, abrindo portas a um empreendedorismo baseado na Cultura.

As actividades económicas que se consideram ligadas à Cultura são hoje muito variadas, constituindo o que se designa por «indústrias culturais e criativas» que vão das artes e arquitectura à publicidade e relações públicas, passando pelo cinema, design gráfico e de internet, publicações, música e entretenimento, artesanato artístico e design de moda ou mesmo jogos e multimédia.


Ao valor artístico junta-se agora a importância económica de todas estas actividades, com potencial para proporcionar crescimento económico às cidades e regiões. Crescimento esse com características próprias que, na actual situação do planeta, possui enormes vantagens comparativas. Desde logo do ponto de vista ambiental, mas também pela capacidade de criar emprego com exigência de formação superior e também melhores níveis salariais. O sector representa 4% do emprego nos EUA e mais de 6% em Inglaterra, por exemplo.

Os valores atingidos nos últimos anos por estas indústrias são impressionantes. De acordo com o Banco Mundial, a economia da Cultura significa 7% do PIB mundial e quase 8% do PIB dos EUA, por exemplo. Neste caso dos EUA o sector cultural é mesmo responsável pela maior fatia das exportações. O crescimento deste sector tem ainda sido superior ao do conjunto da economia, pelo que, pelo seu dinamismo, pode ser considerado motor do crescimento.

Antes do interesse económico, o valor intrínseco da Cultura vem da capacidade de conhecer e apreciar as produções artísticas, em particular de amar o belo, algo que define o melhor da Humanidade. Por alguma razão as ditaduras, sejam ideologicamente de esquerda ou de direita, têm como característica constante o corte da liberdade de produção artística e da tentativa de eliminar as obras de arte que não servem os seus objectivos ou não estão em conformidade com os cânones que definem.

Lamento que numa campanha eleitoral com a importância que têm sempre umas eleições legislativas, não haja um único partido que defina publicamente as suas opções para a política cultural. Sabe-se que as circunstâncias económicas que o país vai atravessar nos próximos anos não serão fáceis, para ser simpático. Contudo, para que os portugueses sejam cidadãos e não meros produtores e consumidores têm também que tratar do espírito. O aviso de Camões continua vivo:

Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida,

O favor com quem mais se acenda o engenho

Não no dá a pátria, não, que está metida

no gosto da cobiça e na rudeza

Duma austera, apagada e vil tristeza.

 

 Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Janeiro de 2022

Imagens recolhidas na internet


 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Painel na Cruz de Celas

 

Parabéns, Coimbra.
 
Ficou pronta, este fim-de-semana, a reparação do magnífico painel de azulejos do Largo da Cruz de Celas, da autoria do saudoso Vasco Berardo, alusivo ao vizinho Mosteiro de Celas.
A obra oferecida à cidade pela Construtora Ramos de Carvalho, foi agora reparada pela Câmara Municipal de Coimbra.
Como cidadão de Coimbra, obrigado.
 
 

 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

ELEIÇÕES E DEBATES A CONTA-GOTAS


Ao contrário da maioria das opiniões que tenho visto expressas, penso que os debates televisivos desta pré-campanha eleitoral têm sido bastante esclarecedores sobre aquilo a que os partidos se propõem e, melhor ainda, sobre as consequências futuras das escolhas dos eleitores. Claro que o modelo de debates curtos, dois a dois não será perfeito, mas tem vantagens, uma das principais será não deixar os candidatos fugir e esconderem-se na confusão colocando-os na primeira linha sem apelo nem agravo. Já o facto de o debate entre os líderes do PS e do PSD ter tido uma duração várias vezes superior à dos restantes debates é algo que se deve lamentar, esperando que ninguém se lembre de num dia deste colocar as designações dos dois maiores partidos com letras de tamanho superior aos demais!

Comentar os debates, as diferente posições políticas e mesmo as prestações dos vários candidatos é algo que deve ser feito com algum distanciamento e independência, embora todo os cidadãos tenham as suas proximidades ideológicas ou mesmo partidárias. Mas, se há algo a que fugirei aqui é a proselitismos escondidos ou pior ainda, disfarçados, que o respeito por quem me lê não autorizaria nunca.

Dos debates realizados, várias conclusões se podem tirar. Começando pelos partidos da ex-geringonça, tornou-se evidente um passa-culpas pelo chumbo do OE que levou à realização destas eleições antecipadas. PCP e BE tudo fizeram para tentar responsabilizar o PS por isso, mas não me parece que com grandes resultados: ao fim e ao cabo foram eles que, com o seu voto contra, precipitaram o que está a suceder. Já o PS pela voz de António Costa joga no voto útil ao responsabilizar os ex-parceiros, mas não só. Embora António Costa nunca o venha a reconhecer….et pour cause, o resultado da governação da geringonça não é brilhante. Seis anos depois da opção política que lhe deu a hipótese de governar, é possível perceber que boa parte das opções políticas tomadas o foram pela necessidade de garantir o apoio parlamentar do PCP e do BE e não por decisões posições políticas firmes. Basta ouvi-lo hoje classificar as propostas do BE, por exemplo, como sendo meras bravatas ideológicas…

À esquerda o Livre com Rui Tavares surge com uma voz europeísta credível, em claro contraponto com as posições claramente anti-europeístas de comunistas e bloquistas. Costa poderá contar com ele para governar, se for eleito. Já o PAN depois do sucesso das eleições anteriores parece ter perdido fulgor, em boa parte pelas contradições da sua líder no que respeita a actividade empresarial e truques usados, tornados públicos. Sem contar com propostas que soarão estranhas à esmagadora maioria dos portugueses como a proibição da caça e mesmo da pesca desportiva, algo absolutamente disparatado. Mas o PAN, de forma oportunista, coloca-se claramente à disposição para formar maioria, seja à direita, seja à esquerda, o que é ainda mais chocante.

O Chega entrou nos debates, como é habitual com André Ventura, com muito gás e de forma assertiva. Sucedeu, no entanto, que no decorrer dos vários debates, se foi percebendo claramente que as suas propostas concretas são limitadas, reduzindo-se a alguns «sound-bites» muito populistas que vão claramente contra a evolução cultural dos portugueses, levando à descida contínua da sua eventual atracção eleitoral. O discurso de André Ventura teve, no entanto, uma consequência evidente: os partidos da esquerda radical, e não só, que durante anos usaram o discurso anti-fascista contra os partidos da direita, PSD e CDS, têm agora outro alvo em que as acusações aparecem mais credíveis, deixando de certo modo estes partidos mais livres para fazerem as suas propostas, sem que surjam as habituais acusações de neo-liberalismo ou outras.


A Iniciativa Liberal ainda dá os primeiros passos na cena política portuguesa, mas o caminho que está a percorrer augura um papel importante futuro, talvez não tanto pelas suas propostas concretas nestas eleições, mas pelo aplanar das posições contrárias ao liberalismo que a esquerda foi montando na sociedade com muita eficácia ao longo dos anos. Francisco dos Santos do CDS surgiu nestes debates com uma energia que terá surpreendido muita gente e que talvez tenha estancado a transferência de votos para o Chega e para a IL que se vinha a sentir.

Rui Rio mostrou mais uma vez que é na altura crucial dos debates que se sente mais à vontade. Não hostilizando em excesso os partidos da esquerda e mostrando, nos debates com os partidos da direita, que o voto útil no seu partido é a posição mais eficaz para retirar o PS da governação. Foi no debate com Costa que se mostrou mais interventivo e capaz de evidenciar a diferença das suas propostas relativamente às socialistas que assumem a continuidade, com Costa a apresentar o OE 2022 chumbado como a sua arma para o futuro.

A esquerda e a direita surgem mais uma vez, mas agora com mais alternativas, como essenciais à democracia, talvez não como duas faces da mesma moeda, mas como o emaranhamento das partículas definido por Schrödinger em que se sabe em cada momento onde está o conjunto mas não se podendo prever com exactidão a posição concreta de cada um dos dois constituintes, a matéria e a anti-matéria. E só depois do facto concreto, neste caso as eleições, se saberá da posição real de cada um dos constituintes: esquerda e direita.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Janeiro de 2022

Imagens recolhidas na Internet