segunda-feira, 15 de junho de 2009

A IMPORTÂNCIA DAS CIDADES



Pensar estruturadamente as estratégias de desenvolvimento do país não é tarefa fácil, mas é essencial para se encontrarem saídas para a situação complicada em que nos encontramos. Por isso, não se podem deixar de ter em conta as propostas de quem, possuindo uma competência excepcional, analisa a realidade nacional em profundidade há anos, com acesso a metodologias adequadas e dirigindo equipas pluridisciplinares de grande qualidade.

Refiro-me ao Doutor Ernâni Lopes, que em vários fóruns e publicações tem vindo a propor caminhos e atitudes perante as dificuldades da nossa organização económica, como fez recentemente numa entrevista à revista Visão. Também há alguns meses tivemos a honra de o ouvir em Coimbra num encontro da ACEGE, durante o qual partilhou com os presentes a sua visão do país e os resultados dos trabalhos que vem desenvolvendo, designadamente no âmbito da SaeR.

Não pretendo aqui descrever o estado da nossa economia, que o Doutor Ernâni Lopes classifica de doente, ou as razões deste estado de coisas. Parece-me mais importante apresentar as linhas estratégicas indicadas pelo Doutor Ernâni Lopes para a solução dos nossos problemas, até porque são muito concretas. Em resumo, aponta cinco conjuntos de sectores económicos a desenvolver; são eles: (1) Turismo, (2) Ambiente, (3) Cidades, (4) Serviços de valor acrescentado, (5) Hipercluster da economia do mar.

Destes domínios, destaco um, porque se reveste de um interesse muito particular relacionado com capacidades decisórias locais, que é o das Cidades.

A visão das cidades desenvolvida pelo Doutor Ernâni Lopes tem pouco a ver com a visão tradicional. Isto é, vai muito além da atitude habitual de gerir cidades pelo ordenamento físico do espaço urbano. Como a urbanização das sociedades é crescente, acompanhando a desertificação do interior, as cidades têm um papel cada vez mais importante. A competição entre regiões e mesmo entre países é progressivamente substituída pela competição entre as cidades que concorrem entre si na atracção de recursos. Relembro aqui os critérios “International Forum on Urban Competitiveness”, que aqui apontei há uns meses, e que são: produto total, produto per capita, produto por unidade de área geográfica, produtividade laboral, número de empresas multinacionais instaladas, número de patentes, preços, taxa de crescimento económico e taxa de emprego.

É assim que as cidades passam a ser vistas como produtoras de riqueza e não como simples consumidoras. Essa produção de riqueza faz-se normalmente através de bens e serviços, que deverão garantir o maior valor acrescentado possível.

O papel dos gestores das cidades passa, pois, a ser fundamentalmente o de proporcionar condições vantajosas para os agentes económicos em termos de competitividade externa.

domingo, 14 de junho de 2009

Orquestra Clássica do Centro


No dia 17 (quarta-feira), não deixe de aparecer.

Lonely at the top


















Deve ser lido o artigo desta semana da Economist sobre o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. Olhando de fora, descobrem-se-lhe defeitos, mas também grandes qualidades. E na realidade, não houve mais nenhum político português nas últimas dezenas de anos que tenha merecido páginas inteiras da imprensa internacional (não apenas esta).

"OBSERVAR"

Imprescindível a leitura do artigo de António Barreto de hoje no Público, sobre os "Observatórios" que o Estado inventou para tudo e mais alguma coisa e que na realidade não servem para nada: "simplex" com eles.
O artigo termina assim:
"Para quê criar observatórios dependentes do Governo? Para que servem as Inspecções e as Direcções-Gerais? Por que não contratar entidades independentes, exteriores à Administração Pública, privadas ou estrangeiras? Já agora, comparem-se os prazos e os custos de obras públicas com grandes empreendimentos privados, a Ponte do Carregado, por exemplo, ou os grandes centros comerciais. O resultado é uma vergonha para a Administração Pública."

quarta-feira, 10 de junho de 2009

10 DE JUNHO

A minha pátria é a língua portuguesa

CAMÕES

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

SOPHIA

Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!


O rio da minha aldeia

Fernando Pessoa (poemas de Alberto Caeiro):

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,

Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

FERNANDO PESOA

Liberdade


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.