terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MÁQUINA DO TEMPO

Fui espreitar o futuro e vi lá isto:

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1420884

Claro que ainda é evitável, porque o futuro somos nós que o fazemos.
Bom dia

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

De Maria Filomena Mónica

Quem me dera saber escrever assim.

No próximo sábado, em Coimbra

Os incêndios

Não devias empurrar fogo tão solitário
sob os umbrais de uma morada
nos carreiros que vão dar aos montes
sairás ainda em súplica
quando os incêndios ignorarem a ameaça
da tua vassoura de giestas

a sombra uma vez avulsa
não retorna a mesma

não despertes o que não podes calar


José Tolentino Mendonça*
Longe não sabia, in A noite abre meus olhos [poesia reunida]

Assírio & Alvim (2006)



PAÍS A DUAS VELOCIDADES


Fala-se muito por aí da necessidade de escolher um novo modelo de desenvolvimento para Portugal, como se tivéssemos um. Na verdade, o que hoje temos é o resultado da soma de voluntarismos governamentais diversos e da tomada do Estado por interesses corporativos e grupos de pressão.

Uma das características deste estado de coisas é uma evidente falta de coerência espacial e temporal do suposto modelo de desenvolvimento. Os voluntarismos descoordenados levaram a que se verifique uma coexistência de vários ritmos no mesmo espaço geográfico, isto é, realidades dentro de um mesmo país a circular a velocidades muito diferentes. Vemos essa disparidade nas nossas estradas, para dar um exemplo simples do quotidiano para todos os cidadãos. A melhoria da rede viária e a evolução tecnológica dos automóveis não foi acompanhada por uma adequada preparação da formação de grande número dos automobilistas. Como resultado, assiste-se permanentemente a situações que se poderiam considerar caricatas, se não fossem sempre potencialmente perigosas pelo meio em que se verificam: automobilistas que entram em sentido contrário nas auto-estradas, que param no meio da via sem qualquer sinalização, que andam perdidos pelas rotundas, etc.

Mas, de vez em quando, situações muito mais graves vêm denunciar o tal país a várias velocidades. Há poucos dias, um deslizamento de terras encerrou ao trânsito uma auto-estrada junto de Lisboa, a chamada CREL, provocando uma situação que se prevê durar várias semanas. A empreitada é simples: estima-se que seja necessário retirar de 500 a 600 mil metros cúbicos de terras, o que está a ser feito por 60 camiões a trabalhar 24 horas por dia. Isto é, enquanto uma moderna infra-estrutura era aberta à circulação viária, assegurando o escoamento de mais de 40.000 veículos por dia, ao lado foi-se fazendo um aterro sem qualquer controlo. O tal outro país, meio subterrâneo e eventualmente clandestino embora à vista de toda a gente, mais uma vez invadiu e ocupou espaço do país que circula à velocidade europeia.

A troca pública de acusações e de atribuição de responsabilidades entre as diversas entidades envolvidas é lamentável, pondo a nu as fragilidades do Estado perante as “espertezas” de alguns. E não se diga que a culpa é da falta de regulamentações: a execução de aterros é das actividades mais exaustivamente reguladas, e existem diversas entidades com competências sobre a matéria. Evidentemente que quem não tem culpa nenhuma são os automobilistas, que se vêem privados da utilização de uma estrada importante e diariamente arcam com mais custos em tempo e distância percorrida entre as suas casas e o trabalho.

Claro que se pode olhar para este caso como apenas mais uma consequência de um inverno rigoroso, como alguns tentam "vender" o sucedido. Não nos deixemos enganar. Há um país subterrâneo que vive e muitas vezes sobrevive sob uma capa fina de modernidade que se rompe à menor contrariedade: não nos esqueçamos da ponte de Entre-os Rios, desastre que acabou por não ter quaisquer responsáveis.

Com estes exemplos, uma pessoa fica a pensar que, realmente, mais valia sermos capazes de construir um país coerente e sem desfasamentos físicos e temporais, embora eventualmente a uma velocidade um pouco mais baixa, mas em segurança, isto é, em que as infra-estruturas construídas são fiáveis, não passíveis de invasões externas e com custos de manutenção perfeitamente garantidos durante toda a sua vida útil.

Publicado no Diário de Coimbra em 1 de Fevereiro de 2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

Foto da semana da TIME

Optimismo

Há pouco, em amena conversa com um amigo que acontece ser General, tive que ouvir que um optimista é um pessimista mal informado. Perante a actual situação do país, isto tem que se lhe diga. Ponto final.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

MÚSICA INSTRUMENTAL



A música é produzida e chega aos nossos ouvidos através de instrumentos tocados pelos artistas. Mas a própria música pode ser também instrumento, por si mesma. Foi nesse sentido que, na passada quinta-feira, Coimbra pôde assistir a um concerto a favor das vítimas do terramoto do Haiti, pela Orquestra Clássica do Centro e os Antigos Orfeonistas, organizado com a colaboração dos Lions.

As grandes tragédias originam sempre movimentos espontâneos de solidariedade e o que sucedeu no Haiti há duas semanas é de facto uma grande tragédia. A nossa memória colectiva recorda de forma bem viva o terramoto de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa. Os relatos que até nós chegaram revelam números de vítimas muito díspares, sendo o maior deles de 90.000 mortos. Pois bem, no Haiti terão morrido cerca de 200.000 pessoas, originando ainda mais de um milhão e meio de desalojados sem qualquer tecto. A comparação com o sucedido em Lisboa em 1755 serve bem para se ter uma ideia da magnitude da tragédia. Todos os movimentos de solidariedade são, portanto, bem vindos e mesmo necessários.

Um concerto numa cidade como Coimbra é apenas uma gota de água num oceano, mas tem um simbolismo marcante. Não vale apenas pela verba alcançada pela venda dos bilhetes, ou mesmo pelas dádivas conseguidas através de transferência para a conta bancária aberta para o efeito. A dádiva do trabalho dos organizadores e artistas é também significativa. Quer os músicos da Orquestra Clássica do Centro com a sua Directora Emília Martins e o seu Maestro Virgílio Caseiro, quer os Antigos Orfeonistas trabalharam e actuaram de forma inteiramente gratuita.

E não se pense que, apesar de ser um concerto solidário, tenha havido alguma espécie de condescendência na qualidade da música apresentada. Realço a excelência da prestação de Vladimir Omeltchenco, solista do Concerto nº 3 em Sol Maior para violino de Mozart que encheu os nossos sentidos de forma sublime. Recordo também, em particular, o coro dos Escravos Hebreus de Verdi, o Pai Nosso de Albert Hay Malotte e a Canção da Primavera de Zeca Afonso pelos Antigos Orfeonistas. Uma cidade que alberga estes valores culturais é de facto uma cidade especial.

Como já aqui referi anteriormente, a Orquestra Clássica do Centro vive apenas do apoio da Câmara Municipal e dos patrocínios que vai gerando, pela qualidade e quantidade do seu trabalho. Não recebe qualquer apoio do Estado, nem mesmo do Ministério da Cultura, ao contrário do que sucede, por exemplo, com a Orquestra Filarmonia das Beiras que merecendo certamente ser apoiada, tem um número inferior de músicos e realiza muito menos concertos por ano do que a Orquestra Clássica do Centro.

Ainda assim, a Orquestra Clássica do Centro manifesta-se sempre disponível para acções concretas de solidariedade como foi este o caso. As verdades, por muito duras que sejam, devem ser ditas. Nesta altura em que a Assembleia da República discute o Orçamento de Estado para 2010, aqui fica o repto aos deputados eleitos por Coimbra de todos os partidos, para que tomem a questão da Orquestra Clássica do Centro em mãos. A Cultura merece e a nossa região que beneficia do trabalho da OCC também. A circunstância de a actual responsável pelo Ministério da Cultura ser uma pianista clássica também deverá jogar a favor. Já agora, acrescento que a OCC ainda nem conseguiu verbas suficientes para comprar um bom piano. Boa oportunidade para ajudarmos todos, incluindo os senhores deputados.