segunda-feira, 15 de novembro de 2010

SOFTWARE ou HARDWARE?


A minha crónica da semana passada terminava com esta frase:

Daqui para a frente, precisamos é de organização, convergência de esforços e ideias claras: software e já não hardware.

O que tinha em pensamento, na sequência da ideia que tinha desenvolvido no resto do texto, era que se chegou a um ponto em que se deve deixar a quantidade e pensar mais na qualidade. Se isto é importante para uma Cidade, é verdadeiramente crucial para o país, sobretudo na situação especial em que nos encontramos.

Já todos perceberam que acabou o tempo em que se julgava possível basear o desenvolvimento do país em obras públicas e mais obras públicas, à custa do endividamento das gerações futuras. A saída para os nossos problemas, já o aqui escrevi mais que uma vez, é a produção de bens transaccionáveis, que se vendam no estrangeiro. Para se ver isto não é necessário ser economista, basta olhar para os grandes números.

O desvio dos rendimentos produzidos pelas empresas para o Estado, que por sua vez o gasta cada vez mais apenas para existir e para pagar juros, tem sido a grande causa dos nossos problemas. Chegámos a um ponto em que a taxa da nossa dívida soberana ultrapassou os 7%, muito acima das taxas de trabalho entre os bancos, entre os bancos e o BCE e muito acima das taxas praticadas entre os bancos e as empresas ou pessoas individuais. Depois ainda há para aí quem se queixe dos “mercados”: tendo-se deixado criar estas condições e não se fazendo nada para as contrariar, o que esperar dos especuladores internacionais que sempre existiram e toda a gente sabe que estão lá a aproveitar precisamente estas condições favoráveis para fazer fortunas instantâneas? O resultado é o Estado sugar o dinheiro gerado pelas empresas, para por sua vez ser ele mesmo sugado pelos famosos “mercados”. Verdadeiramente inacreditável! E o país sem capacidade de resposta, porque o sistema político está assim mesmo: como temos em breve eleições presidenciais, só a partir de Maio o povo poderá dizer o que pensa sobre a saída da solução, seja ela qual for. O que é certo é que as opções, mesmo as políticas, têm todas um preço e é esse que se está a pagar neste momento e se irá sempre pagar no futuro, não nos iludamos.

Hoje muitos políticos descobrem com admiração que as nossas exportações estão a aumentar, o que ajuda à recuperação económica. São os empresários a fazer o que lhes compete e sabem fazer, assim os deixem. E é este o caminho! Nunca percebi o dirigismo da nossa classe política que tudo quer orientar e definir. Os fundos europeus que deviam apoiar as empresas nos seus esforços de modernização e internacionalização são canalizados para “formações” cujo resultado pouco mais é que melhorar estatísticas internacionais na área da educação (assim, com minúscula, de propósito).

Nunca nenhum governo foi capaz de fazer como se faz aqui ao lado em Espanha, por exemplo, onde quem gere esses dinheiros são as próprias associações patronais que não vão em fantasias de “desígnios nacionais” que a primeira brisa leva para longe. Se os deixarem, os nossos empresários vão alargar o leque do destino dos seus produtos e deixar de vender quase tudo na União Europeia, ampliando de forma gigantesca os nossos mercados. Apetece dizer: deixem trabalhar os empresários!

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

Vasco Pulido Valente, hoje no Público. Sem comentários.

«Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros, pede na primeira página do Expresso um governo de coligação. Na terceira página, o director do Expresso, Henrique Monteiro, declara "este governo", o que formalmente existe, "quase um cadáver" e discute com a maior solenidade a formação do seguinte. Na pagina 13, o Expresso também informa que António Costa, o n.º 2 do PS, desistiu de suceder a Sócrates (já vamos nisso?), a favor de Francisco Assis, que por sua vez terá (ou não terá) de concorrer com António José Seguro, o putativo representante da esquerda socialista. Entretanto, vozes soltas, como a de Ana Gomes (que muita gente julgava desaparecida), pedem a demissão imediata do ministro das Finanças, de que ninguém gosta, ou uma remodelação mais drástica, para o PS "ganhar fôlego". No meio desta balbúrdia, consta que certas "figuras" proeminentes do partido (entre as quais vários "soaristas") preferem um Congresso imediato para substituir Sócrates, como ele merece, e fabricar um "governo patriótico", presidido por António Vitorino (a título de Nossa Senhora do Socorro) e apoiado no Parlamento pelo PSD, coisa que Passos Coelho com toda a clareza recusa. A preocupação geral dos socialistas parece ser o absoluto descrédito do governo, a sua previsível incapacidade para executar o Orçamento de 2011 e o medo de que as tensões sociais "rebentem" na rua. Há mais quem partilhe estes sentimentos. Paulo Portas no Diário Económico exigiu um "governo de salvação nacional" (fervorosamente "patriótico", como é óbvio) com o PS, o PSD e o CDS. Santana Lopes, que nunca consegue ficar quieto e caladinho, trouxe logo o seu apoio à ideia. E Pacheco Pereira apelou para "o afastamento voluntário de Sócrates", que ele considera "o principal factor subjectivo da crise", e com mais realismo (e menos marxismo) voltou a sugerir o mesmíssimo governo de "salvação nacional" ou um acordo parlamentar ou (em desespero) um simples "pacto de estabilidade", que ele jamais conseguirá definir, excepto presumivelmente com a ajuda do filósofo e eurodeputado Paulo Rangel que propôs (no Porto) um pacto entre os "partidos do arco governativo" até 2020. Não restava a menor dúvida que vivíamos numa casa de loucos. Mas sempre ia persistindo uma vaga esperança de que a loucura não fosse tanta. Agora sabemos que é. E que não tem cura.»

sábado, 13 de novembro de 2010

O ESTADO (SEM) DA VERGONHA

Vasco Pulido Valente escreveu sobre a vergonha que é a PGR pedir denúncias anónimas, coisa que incrivelmente é saudada por muita gente (enquanto não lhes baterem à porta, claro):

«O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) instalou na Internet um site (de que os jornais se apressaram a dar o "endereço") para denúncias de "casos de corrupção e fraude" e, pior ainda, para os denunciantes seguirem passo a passo o resultado do seu honroso "trabalho" e, se necessário, acrescentarem um ou outro pormenor que faça falta. A dra. Cândida de Almeida, directora do DCIAP, explicou a posição oficial: o Ministério Público quer "interagir" com os facínoras que apontam o próximo à polícia para os tranquilizar sobre a eficácia do seu imprescindível civismo e para, eventualmente, lhes pedir ajuda. Antigamente, havia regimes que usavam "caixinhas" para a carta anónima. Hoje a Internet permite o mesmo anonimato e uma cooperação mais sofisticada. Qualquer cidadão que deteste a prima, a tia ou cunhada, ou que se queira livrar de um concorrente, pode com uma simples "visita" ao site da DCIAP meter a criatura num enorme sarilho, com a paternal protecção da autoridade. O que sucede às vítimas aparentemente não interessa ao Ministério Público. Elas, por assim dizer, que se arranjem. A dra. Cândida de Almeida sabe com certeza que a mais leve suspeita chega para arruinar uma reputação. E que uma reputação arruinada nunca ou quase nunca se recompõe. Mas não parece que esse pequeno facto a perturbe. Como certamente não a comove convidar os portugueses (principalmente, o funcionalismo e os trabalhadores do "sector empresarial do Estado") à baixeza sem nome da denúncia. É preciso que a noção de "serviço público" se tenha degradado a um ponto difícil de imaginar para que se ache natural - e até louvável - recorrer a métodos como o site da DCIAP. A dra. Cândida de Almeida responderá talvez que se limita a lutar contra a corrupção e a fraude, sem perceber que o seu site corrompe o carácter da cidadania e, em última análise, também ele indirectamente promove a fraude. Acabámos por chegar a isto.»

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Troleys

Parece que querem colocar troleys na linha da Lousã. Coisa esperta.

O MAR


Há muitos anos virámos costas à Europa e fomos para o mar. Depois virámos costas ao mar e fomos (?) para a Europa. Já é tempo de deixarmos de ser parvos e usar o melhor dos dois mundos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ESTA NOSSA CIDADE



Esta nossa Cidade que é Coimbra está hoje perante escolhas cruciais que definirão qual será o seu futuro nas próximas dezenas de anos. É já um lugar-comum dizer-se que a competição internacional se faz hoje entre cidades e não entre países. E se isso se verifica a nível mundial onde as grandes cidades com Singapura, Xangai, S. Paulo, Londres ou Nova Iorque claramente competem entre si, é particularmente verdade no interior da União Europeia onde as cidades médias lutam hoje pela sua própria competitividade num espaço económico, social, e político comum.

É para este espaço e para este mundo que Coimbra tem que olhar e já não para uma região que hoje a limita. Longe vai o tempo em que políticos de vistas curtas olhavam para a região centro como um região multipolar em que Coimbra surgiria apenas como mais uma entre as cidades da região. Chegou a propor-se uma Região em que a respectiva capital rodaria entre as suas diversas cidades.

A sua localização geográfica é privilegiada e isso não depende da vontade de políticas nacionais, por mais desastradas que sejam. Claro que as ligações rodoviárias ao interior são basicamente as mesmas de há dezenas de anos, afastando cada vez mais Viseu, a Guarda, a Covilhã e Castelo Branco de Coimbra, o que tem consequências económicas claramente negativas para a nossa cidade, já que favorece as ligações daquelas cidades a Lisboa e ao Porto. Mais uma vez a nossa disparatada macrocefalia a funcionar e não é certamente por acaso. A nossa estação de caminho de ferro cuja remodelação ficará eternamente à espera de um mítico e fantasioso TGV entre Lisboa e Porto é uma vergonha nacional e não de Coimbra.

As fraquezas e forças da nossa cidade, todos nós as conhecemos e não vale muito a pena falar delas. Qualquer empresa de consultadoria exterior que elabore um plano estratégico diz o que nós todos sabemos, porque vemos, ouvimos e lemos todos os dias (embora eventualmente uma listagem seriada do que há e do que poderá haver seja certamente útil) .

Também não é a gritar muito alto e com voz grossa por Coimbra, que se consegue algo, a não ser conseguir ser ouvido pelos vizinhos do lado.

Coimbra tem dentro de si todas as potencialidades para se afirmar num contexto internacional. A sua História que se confunde com a História de Portugal durante toda a Primeira Dinastia é motivo mais do que suficiente para criar todo um “cluster” turístico verdadeiramente excepcional. A existência de um serviço de Turismo próprio de Coimbra, seja empresa ou outro qualquer está mais que justificada. E ao ver há poucos dias espalhados pela cidade cartazes do Turismo de Portugal em que aparecia uma foto do Porto com a legenda “região norte, Douro e Porto”, uma foto de Lisboa com a legenda “região vale do Tejo e Lisboa” e ainda uma foto de Coimbra com a legenda “região Centro” sem a palavra Coimbra, fiquei ainda mais convencido da justeza dessa opção. Só estranhei que ninguém por cá tivesse dado por isso, mas os habituais berradores por Coimbra deviam andar distraídos.

As novas actividades económicas sofisticadas de Coimbra, quase todas saídas da excelente incubadora do Pedro Nunes colocam-nos já no mundo global e não na região. Neste contexto, o Centro de Congressos do Convento de S. Francisco finalmente em obra, é uma das últimas infra-estruturas de que Coimbra precisava para ser competitiva. Juntamente com o i Parque, claro. Mesmo porque Coimbra já dispõe hoje de infra-estruturas básicas ao melhor nível do país.

Daqui para a frente, precisamos é de organização, convergência de esforços e ideias claras: software e já não hardware.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

CUNHAL 2

Claro que hoje sabemos de tudo, nomeadamente pelo livro da Zita Seabra, mas é impressionante ver Cunhal em acção ao vivo!

CUNHAL

A RTP Memória está a transmitir o célebre debate entre Soares e Cunhal em 75. Impressionante o discurso de Cunhal: não foge um milímetro da revolução bolchevique para Portugal. Aquele homem sabia bem o que estava a fazer.