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terça-feira, 30 de abril de 2019
segunda-feira, 29 de abril de 2019
SOLIDÕES
Ouvimos frequentemente dizer que a solidão mental é muito pior do que a solidão física. E, de facto, sentimo-nos-muitas vezes mais sozinhos no meio de uma multidão do que quando temos, por exemplo apenas a companhia de um livro ou de uma peça de música. Há situações de solidão física, como será a de prisão como castigo judicial, ou a dos navegadores solitários que são, apesar de tudo, susceptíveis de ser compreendidas por qualquer pessoa. E depois, há situações de solidão que podemos considerar limite, que estão para lá do que podemos considerar compreensível.
No próximo mês de Julho passam 50 anos sobre a
primeira ida do Homem à Lua. A missão Apollo 11 transportou os astronautas Neil
Armstrong e Buzz Aldrin que, no histórico dia 20 de Julho de 1969, pisaram solo
lunar após a descida no Módulo Lunar Eagle, proporcionando ao primeiro que o
fez, Neil Armstrong, a célebre frase: “um pequeno passo para homem, um salto
gigantesco para a humanidade”. E, de facto, a descida na Lua, as 22 horas que
lá passaram, o regresso ao Módulo de Comando e o definitivo regresso à Terra
constituíram algo de surpreendente e grandioso que desde então povoa o
imaginário de quem teve a oportunidade de seguir a saga em directo pela
televisão a preto e branco, como foi o meu caso.
Mas, nessa missão, houve mais uma experiência
sentida pela primeira vez por um ser humano e que raramente é referida quando
se lembra a Apollo 11. Naquela missão havia um terceiro homem, Michael Collins
que pilotou sozinho o Módulo de Comando Columbia enquanto os dois companheiros
levavam a cabo os seus trabalhos na superfície lunar, que incluíram a recolha
de mais de 20 Kg de amostras do solo que trouxeram para a Terra. Durante todo
esse tempo, Collins orbitou a Lua por diversas vezes. E em cada uma delas
passou por detrás do nosso satélite natural, ficando com a Lua entre ele e a
Terra. Em consequência, para além de não poder visualizar a Terra, ficou
igualmente sem possibilidade de estabelecer comunicações fosse com quem fosse.
De um lado tinha aquilo a que se costuma chamar o lado oculto da Lua que nunca
se observa da Terra e do outro a profundidade absoluta do infinito. Caso algo
lhe sucedesse a si ou ao Módulo de Comando durante os 47 minutos de duração desses
períodos, estava absolutamente impedido de contactar a Terra ou mesmo os seus
companheiros que com ele contavam para o regresso à Terra. Era a solidão
absoluta e um silêncio total que alguém já qualificou como sinistro, e que
jamais alguém poderia ter sentido antes.
De facto, na missão de exploração de dois meses
antes, a Apollo 10, a nave havia também passado por detrás da Lua, mas nela
viajavam três astronautas não se verificando, portanto, a mesma sensação de
solidão e de responsabilidade que Michael Collins haveria de sentir.
E o relativo “esquecimento” de Michael Collins
relativamente aos seus companheiros de missão é tão mais injusto, quanto este
astronauta era de facto alguém muito especial. Era ele o astronauta encarregado
de pilotar a Apollo 11 até à Lua e regressar, mas também de executar a delicada
operação de acostagem da Eagle à Columbia no regresso da Lua, o que ele seria
capaz de fazer mesmo manualmente, caso falhassem os instrumentos automáticos. A
sua importância decisiva na Apollo 11 manifestou-se até no desenho do símbolo
da missão, uma águia voando sobre a Lua com um ramo de oliveira no bico, que
foi da sua autoria.
Após o regresso à Terra, Collins reconheceu que
não podia negar o sentimento de solidão. Vincou que “assim que passava para
detrás da Lua o contacto rádio com a Terra desaparecia de súbito, ficando
sozinho, verdadeiramente sozinho e absolutamente isolado de qualquer forma de
vida conhecida”.
Cinquenta anos depois, continua a parecer quase
mágico que homens tenham descido na Lua e que outros a tivessem orbitado na
mais completa solidão. Apesar de tudo, um sinal de que a Humanidade é capaz de
se exceder de forma positiva. E de que os seres humanos, na sua
individualidade, são capazes de ultrapassar os medos mais ancestrais através de
demonstrações de coragem e capacidade de enfrentar as situações mais
desafiantes, sejam elas interiores ou exteriores ao ser.
Ouvir: https://youtu.be/FpOEN93LX-E
E ainda: https://youtu.be/KBt36Bw7_8Q
Ouvir: https://youtu.be/FpOEN93LX-E
E ainda: https://youtu.be/KBt36Bw7_8Q
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 29 de Abril de 2019
quinta-feira, 25 de abril de 2019
quarta-feira, 24 de abril de 2019
segunda-feira, 22 de abril de 2019
O DÉFICE E A POLÍTICA
O que temos. Como sabemos, quando as receitas do orçamento de Estado são inferiores às suas despesas, existe défice orçamental. O Governo português chegou ao final de 2018 com um défice de 0,7% do PIB. Para este ano, as previsões apontam para um défice entre 0,2% (Governo) e 0,6% (FMI). Isto é, estamos num ponto em que praticamente não precisamos de aumentar a dívida pública para cobrir o défice e, havendo algum crescimento económico, a dívida pública poderá mesmo começar a diminuir em volume e já não apenas em função do PIB.
O que
andámos para aqui chegar. O défice das contas públicas tem sido um dos
maiores problemas nacionais das últimas décadas lembrando-se, por exemplo, a
festa que o governo de então fez em 2008 quando apresentou um défice de 2,5% do
PIB como o mais baixo de décadas. Embora pouco brilhante, foi sol de pouca
dura. Logo em 2011 trepou para uns estratosféricos 11%, a que se seguiu a
desgraça que se sabe. Com a austeridade violenta trazida pela troika chamada
por Sócrates, o défice foi diminuindo até ao valor de 4,3% em 2015. Desde
então, já com o actual governo, a trajectória decrescente do défice foi
contínua, até chegar em 2018 ao valor acima indicado de 0,7% do PIB.
Como foi
conseguido. Ao longo desta legislatura, a despesa corrente primária cresceu
7 mil milhões de euros, de 71 em 2015 para 78 mil milhões em 2019. Os impostos
foram praticamente neutros, não havendo diminuição da carga fiscal, dado que as
reduções em impostos directos foram compensadas com impostos indirectos que
afectam todos os contribuintes, nomeadamente nos combustíveis. Tal significa
que se teve que compensar com reduções noutras despesas. Foi o caso do
investimento público que caiu de 2,3% PIB em 2015 para 2% em 2018. Por exemplo,
nesta legislatura foi transferido menos dinheiro para o SNS do que entre 2011 e
2015, como mostrou um relatório recente do Tribunal de Contas. Esta prática
continua tendo, na semana passada, sido anunciado um novo corte no investimento
público de mais de 470 milhões ao previsto no OGE 2019. As cativações ajudaram,
significando cerca de 0,3%. A descida dos juros da dívida pública deu uma ajuda
crucial, significando um corte de cerca de 0,8% nas despesas. Em resumo, a
redução do défice resultou, nestes 4 anos, em grande parte da diminuição da
despesa com os juros da dívida e da redução drástica no investimento público.
Todos percebemos que esta diminuição de despesa é conjuntural, enquanto os
acréscimos na despesa (essencialmente pessoal e prestações sociais) que se
verificaram são fixos. Isto é, a descida do défice corre o risco de não ser
sustentável, estando sujeita ao crescimento económico que, como sabemos, é
muito dependente do que se passa na Europa e no mundo. As importações têm tido
um peso crescente, enquanto o peso das exportações pouco aumentou nestes
últimos 4 anos, pelo que a balança de pagamentos nos é crescentemente
desfavorável.
O agora e
o depois. Todos nos lembramos da frase “há mais vida para além do défice”.
Historicamente, a Esquerda tem tido ao longo dos tempos, relativamente à
necessidade de controlo do défice, a posição ideológica que aquela frase bem
resume. Ironicamente, acabou por ser com um governo do Partido Socialista
apoiado na Assembleia da República pelo Partido Comunista e pelo Bloco de
Esquerda que praticamente se eliminou o défice das contas públicas. Se essas
contas são sãs como defende o Ministro das Finanças, isso já é outra conversa,
como acima se vê, trazendo o investimento público para um nível insustentável
no futuro. Mas as esquerdas, todas elas, acabaram por ser completamente comprometidas
com a política da contenção do défice e com os processos utilizados para lá
chegar, por mais que digam o contrário. Já a Direita viu aquela que era uma das
suas posições de princípio passar a ser, daqui para diante, assumida por todos.
A grande vantagem é que, finalmente, as discussões políticas poderão passar a
fazer-se entre alternativas completamente dentro de parâmetros europeus actuais
abandonando velharias ideológicas já atiradas para o lixo da História em todo o
lado. Tal poderá mudar tudo e colocar finalmente Portugal a caminho da “outra
extremidade” da listagem de riqueza do países europeus, ao contrário do que
acontece há décadas e ainda hoje.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 22 de Abril de 2019
quinta-feira, 18 de abril de 2019
CRISE DOS COMBUSTÍVEIS
A ouvir Paulo Baldaia na TSF sobre a greve dos motoristas de transportes de matérias perigosas que, em três dias, quase pôs o país de pantanas.
Em resumo, o que ele disse: temos um grande ministro chamado Pedro Nuno Santos; a culpa do sucedido é do governo de Passos Coelho.
Não é preciso dizer mais nada sobre a independência de alguma classe jornalista.
Em resumo, o que ele disse: temos um grande ministro chamado Pedro Nuno Santos; a culpa do sucedido é do governo de Passos Coelho.
Não é preciso dizer mais nada sobre a independência de alguma classe jornalista.
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