segunda-feira, 18 de outubro de 2010

TEMPOS DIFÍCEIS


Não são fáceis os tempos que atravessamos e os que se aproximam não parecem vir trazer mais facilidades, como se pode inferir de tudo o que “vemos, ouvimos e lemos”.
A discussão política tem vindo a ser muito centrada em volta do orçamento de Estado para o próximo ano, por uma razão muito simples. As finanças públicas estão a um nível próximo da hecatombe que se chama bancarrota. De acordo com os observadores externos, as medidas duríssimas em termos de impostos que aí vêm vão implicar uma recessão económica no próximo ano ou muito perto disso, quer por via do desinvestimento, quer por via da descida abrupta do consumo interno (et pour cause…).
Temos dois problemas muito graves: o primeiro está agora à vista de toda a gente e consiste num Estado com uma despesa desmesurada que tem que ser alimentada com impostos. O outro é o estado da Economia que será gravíssimo, embora não haja ainda uma noção clara do que se passa. De facto, o critério que foi adoptado internacionalmente para medir o crescimento económico dos países é o do Produto Interno Bruto porque permite obter medições fáceis de comparar. De acordo com muitos especialistas, o país está a viver uns dez por cento acima das suas possibilidades, tendo em conta precisamente critérios de produtividade associados ao PIB. Desconfio, no entanto, que a situação seja muito mais grave. Na medição do PIB entram bens tangíveis e bens não tangíveis. Ora bem, o que verdadeiramente interessa em termos económicos, é aquilo que se faz e que pode ser vendido, nomeadamente exportado. E aí, o nosso défice deverá ser muito mais elevado, talvez três vezes maior do que aquele que acima indiquei. Desde pelo menos a década de 90 que a Economia portuguesa, aquela que origina produtos vendáveis em concorrência, tem vindo a ser erodida. O que se passou na agricultura e nas pescas está à vista de todos. Mas também boa parte da indústria tem vindo a sofrer com as políticas seguidas pelos governantes. Quer isto dizer que as medidas de arrefecimento do nível de vida vão continuar e ainda acentuar-se, se queremos recuperar competitividade e voltar a convergir com a média europeia, o que é crucial para nos podermos manter no clube de ricos que é a União Europeia com o seu Euro fortíssimo.
Há noções que temos que ter bem conscientes, quer ao nível de despesas nacionais, quer locais. A loucura despesista que nos assolou a todos nas últimas décadas tem de ser contida. A nível nacional já todos percebemos os disparates das SCUTS, dos novos e menos novos aeroportos (como o do Porto), dos TGV’s, dos estádios vazios de assistentes, das auto-estradas ao lado umas das outras, dos centros culturais faraónicos, das sedes ceaucesquianas de bancos do Estado, dos moinhos de vento pagos pelas nossas facturas de electricidade, etc. etc. etc.
Mas a nível local também não é mais possível pretender que cada povoação tenha o seu pavilhão coberto como eu costumo dizer. Nem se compreende que uma Universidade tenha edifícios inteiros às moscas e continue a querer meter o Rossio na Betesga como a futura (?) biblioteca da Faculdade de Direito, bem como aquela colina inteira do pólo III junto aos HUC. Peço desculpa a quem não gosta, mas alguém tem que dizer que “o rei vai nu”.
Esta crise vai tocar a todos. Este é o tempo de por os pés no chão, repensar tudo e decidir onde melhor gastar o dinheiro dos impostos. Não nos esqueçamos fundamentalmente, que o Estado aos seus diversos níveis existe para as pessoas e não o contrário, porque se trata do Bem Comum. Que todos tenhamos consciência disso e saibamos contribuir ao nosso nível para a mudança necessária e urgente.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Outubro de 2010

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