Passados que estão quinze dias sobre as eleições autárquicas, é já possível observar os respectivos resultados com algum distanciamento que permita uma abordagem fria dos números e de algum do seu significado político.
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Os portugueses votaram, está escolhido
Passados que estão quinze dias sobre as eleições autárquicas, é já possível observar os respectivos resultados com algum distanciamento que permita uma abordagem fria dos números e de algum do seu significado político.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Viva a Música
Na última semana a Orquestra Clássica do Centro deu-nos a
oportunidade de assistir a dois concertos notáveis e completamente diferentes
do habitual. Tratou-se de duas incursões em tipos de música não erudita, que se
saldaram em êxitos longa e entusiasticamente aplaudidos pelas assistências dos
espectáculos.
O primeiro desses concertos teve lugar no auditório do
Conservatório de Música de Coimbra e integrou-se nas iniciativas da passagem de
30 anos sobre a morte de José Afonso, sob o mote “Insisto não ser tristeza” do
poema do autor com o mesmo nome. Os arranjos das canções de José Afonso para
orquestra tiveram diversos autores, como José Firmino, Sérgio Azevedo ou
Virgílio Caseiro, entre outros. Deve-se salientar que o concerto se iniciou com
a estreia de uma peça para orquestra da autoria de José Firmino, intitulada “In
Memorian”, em que o compositor de Coimbra homenageia José Afonso. O interesse
das canções de José Afonso vai muito para além da intervenção política de muitos
seus poemas, certamente importante, mas limitativo do seu valor, se a tal for
reduzido. Particularmente no que respeita à nossa cidade, a ele muito se deve a
evolução profunda da chamada “música de Coimbra” que se operou no fim dos anos
50 e na década seguinte. Muitos consideram que se pode considerar que há uma
canção de Coimbra antes de José Afonso e outra depois dele, o que diz muito
sobre a sua importância artística.
No concerto do passado dia 30 de Setembro a OCC foi dirigida
pelo seu Maestro titular José Eduardo Gomes, tendo as canções sido
interpretadas por João Afonso que está a construir uma carreira própria há
vários anos, com diversos CD’s muito interessantes já publicados, dentro de um
estilo musical que nada tem a ver com a canção de Coimbra. Contudo, o facto de
ter uma voz com características que se assemelham bastante à do seu Tio José
Afonso fez do concerto uma experiência única, que talvez devesse mesmo ser alvo
de publicação em CD para ser desfrutada por mais gente do que aquela que
esgotou completamente o auditório do Conservatório de Música. A novidade de
temas célebres como “Cantares de Andarilho”, “Minha Mãe”, “Por detrás daquela
janela”, “Venham mais Cinco” ou “Traz outro amigo também” serem interpretadas
por uma orquestra clássica acompanhando o cantor, traz uma nova vida à obra do
autor e permite uma fruição diferente e especialmente envolvente. Alguns temas,
como “Pastor de Bensafrim” ou “Verdes são os Campos”, foram (muito bem) acompanhados
pela guitarra clássica de Rui Pato que, como é sabido acompanhou José Afonso
durante muitos anos, em actuações ao vivo e em gravações de discos.
O segundo concerto festejou os 45 anos de carreira artística de Jorge Palma e decorreu no Coliseu de Lisboa no dia 5 de Outubro passado, com repetição no Coliseu do Porto dois dias depois. Desta feita a OCC foi dirigida pelo Maestro Rui Massena. A experiência de acompanhar música rock com orquestra clássica não é novidade, sendo de recordar uma particularmente bem sucedida no início dos anos 70 que ainda hoje se ouve com agrado, em que os Procol Harum tocaram com a Edmonton Symphony Orchestra. Também este concerto foi um sucesso que entusiasmou o Coliseu lotado, tendo havido um entrosamento raro entre Jorge Palma e Rui Massena que, nos temas “Encosta-te a mim” e “Deixa-me rir” atingiu momentos de sonoridade espantosa. Mesmo no tema “Portugal, Portugal” que tem um ritmo fortíssimo, foi possível apreciar a capacidade da orquestra para acompanhar brilhantemente um Jorge Palma frenético na sua interpretação. Os temas mais intimistas como “Frágil” ou “Lado errado da noite” foram alvo de orquestrações particularmente felizes que mantiveram o público suspenso das interpretações, percebendo-se bem a emoção que o tomava, para logo depois passar a ovações estrondosas.
Houve até um momento em que Rui Massena e Jorge Palma trocaram de papéis, para logo depois ensaiarem um medley entusiasmante ao piano a quatro mãos com início na célebre marcha fúnebre do terceiro andamento da primeira sinfonia de Mahler e continuando por diversas peças famosas de jazz.
A Cultura une e não divide. Isso ficou bem marcado nestes dois concertos “fora da caixa”, como agora se costuma dizer, em que a Orquestra Clássica do Centro mostrou um ecletismo notável, fruto de um grande desenvolvimento artístico, que lhe permitiu ser peça central em momentos musicais de grande qualidade e intensidade afectiva para públicos tão diferenciados. E a cultura de Coimbra produzida profissionalmente mostrou-se, mais uma vez, a grande altura nas principais salas de espectáculos do país.
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
A Alemanha de Merkel e nós
Como se previa, a CDU/CSU venceu as eleições na Alemanha, dando
a oportunidade a Angela Merkel de um quarto mandato como Chanceler, no que será
a mais longa governação desde o fim da II Grande Guerra, já que iniciou essas
funções em 2005.
Contudo, os resultados destas eleições têm outros aspectos a ter
em conta, já que houve novidades relativamente ao que anteriormente se tornara
habitual na Alemanha. Desde logo, pela primeira vez desde o fim da guerra, o
partido AfD – “Alternativa para a Alemanha”, assumidamente de extrema-direita,
obteve uma votação (13%) que lhe permitiu eleger 94 deputados, sendo a terceira
força no parlamento alemão. Os socialistas democráticos do SPD caíram para
próximo dos 20%, um resultado péssimo para o seu líder Martin Schulz que se havia
demitido de presidente do parlamento europeu para tentar a chancelaria no seu
país vindo a obter a pior votação de sempre para o seu partido. Mas o próprio resultado
do partido da própria Angela Merkel foi decepcionante, já que caiu mais de 8%
em relação ao resultado anterior, ficando-se nos 33% o que, ainda assim, lhe
permite a manutenção na chancelaria, embora se antevejam algumas dificuldades
para formar a necessária coligação.
A duração do seu mandato à frente dos destinos da Alemanha
obriga a que se observe com algum detalhe a personalidade e modo de governar
desta mulher que é considerada a mais influente do mundo e, em particular, a
personalidade mais importante entre os líderes da União Europeia. Merkel nasceu
na antiga Alemanha de Leste e a sua formação foi largamente influenciada, quer
pelo pai pastor de uma igreja luterana a norte de Berlim, quer pelo ambiente
paranóico e ultra vigiado do seu país, aprendendo a falar pouco e a ser discreta.
A formação científica do doutoramento em química forneceu-lhe os métodos de
análise e de decisão sustentada que mais tarde aplicaria no seu exercício de
governante. A sua personalidade discreta mantém-se até hoje. Ao fim do dia de
trabalho no seu imponente gabinete, regressa a casa que é apenas um
vulgaríssimo pequeno apartamento, para calmamente preparar a sopa que constitui
o seu próprio jantar.
Após a queda do muro de Berlim, dedicou-se à política, tendo
sido eleita deputada e iniciado a carreira de governante quando Helmut Kohl,
que lhe chamava a sua menina, a convidou para um ministério relativamente
secundário, mas de onde partiu para o que hoje é.
Politicamente, Merkel costuma dizer que é “um pouco liberal, um
pouco social-cristã e um pouco conservadora”. Isto é, fundamentalmente,
acredita numa série de princípios simples, não demasiado elaborados ideologicamente
e muito ligados à vida concreta das pessoas. Há mesmo quem diga que pensa de
forma ética e não ideológica. Talvez por isso reagiu à desgraça dos refugiados
de 2015 tendo, surpreendentemente para muita gente, permitido a entrada na
Alemanha de mais de um milhão de pessoas fugidas à fome e à guerra. Aqui
residirá o surpreendente resultado do AfD nestas eleições recolhendo, sobretudo
na população residente no antigo território da Alemanha de Leste, o voto de
reacção à entrada de tantos refugiados. Os esquerdistas que, também por cá,
ainda há pouco tempo se divertiam a pintar bigodes hitlerianos na cara de
Merkel e a colocá-la a fazer saudações nazis bem podiam pintar agora a cara de
preto perante a verdadeira face de Angela Merkel.
Mas estas eleições alemãs trouxeram à superfície alguns aspectos
insuspeitados da política de Merkel e que colocam nuvens escuras no futuro do
país que ameaçam transformar-se em tempestade se a Chanceler não alterar a sua
política interna no próximo mandato.
Na realidade, Merkel tem governado sobre as reformas económicas
profundas introduzidas pelo Chanceler Gerhard Schröder do SPD que a antecedeu,
nomeadamente na área do emprego, e que trouxeram competitividade e catapultaram
a economia alemã depois de anos de estagnação ou pior. O investimento público alemão,
em função do PIB, é hoje inferior à média da OCDE e o valor líquido das
infraestruturas do país tem caído de forma impressionante. O seu cuidado
obsessivo com o défice, descurando o investimento nas infraestruturas, tem
garantido boas contas mas descura claramente o futuro e obrigará, mais cedo ou
mais tarde, a reformas e grandes investimentos que alterarão a situação económica.
Um investimento público de apenas 2,1% do PIB fica abaixo da própria média da
UE, que é de 2,7%. As infraestruturas clássicas, como estradas, pontes,
edifícios escolares e hospitais começam mesmo a ter problemas decorrentes de
falta de investimento, mas até a velocidade de internet é hoje muito baixa em
comparação com a maioria dos países.
Curiosamente, encontramos aqui a justificação para um olhar tão
benigno de Merkel e mesmo do até agora seu ministro das Finanças Wolfgang
Schäuble relativamente às contas do actual governo português que atinge as
metas exigidas quanto ao défice através de cativações e cortes maciços no
investimento público: na verdade, eles próprios têm essa prática no seu próprio
país. A sua preocupação é o número do défice no fim do ano, independentemente
do processo seguido para lá chegar, e fazer reformas não é propriamente o seu
forte.
Texto publicado no Diário de Coimbra em 2 de Outubro de 2017
Texto publicado no Diário de Coimbra em 2 de Outubro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
“Quer um bom concelho?”
A Comissão Nacional de Eleições adoptou para as eleições autárquicas do próximo Domingo um slogan apelativo, seguindo o caminho dos trocadilhos com graça que ouvidos têm um significado e lidos outro completamente diferente mas relacionado directamente com aquilo que está em causa nestas eleições.
“Um bom concelho” resume de forma simples, mas com alguma
felicidade, o conjunto de palavras de ordem e slogans utilizados pelas diversas
forças concorrentes que, no caso de Coimbra, atinge o número recorde de sete
candidaturas à Câmara Municipal.
Seguindo a tendência recente em Portugal, também para estas
eleições surge uma lista de chamados “independentes”, aproveitando uma onda
populista contra os partidos políticos existentes e, como quase sempre acontece,
protagonizada por políticos que o são sem querem parecer que o são. Na
realidade, em autárquicas, quem está em causa são as pessoas e não tanto os
partidos ou a ideologia. Sucede mesmo que os presidentes de câmara depois de
eleitos não são correias de transmissão dos partidos que eventualmente os
apoiaram, antes se constituindo na única fonte real de poder nos respectivos
municípios, pelo que a diferença prática para os ditos “independentes” é, na
realidade, muito diminuta.
Coimbra tem vindo a conhecer uma fase de declínio, por razões
externas, mas também por causas internas que são da consequência da inacção dos
responsáveis da Cidade. Não é apenas a questão demográfica que é grave, mas
também a diminuição de actividade económica que implica a saída sistemática de
jovens com formação superior e capacidades profissionais elevadas para fora de
Coimbra, situação que eu conheço bem demais. A degradação geral tem no centro urbano
antigo o sinal mais evidente da falta de capacidade que tem existido para
encontrar soluções que permitam dar a volta e recolocar Coimbra no lugar que já
foi o seu no contexto das cidades portuguesas. Quando se pára fica-se para trás
e isso é evidente quando nos comparamos com outras cidades na nossa região,
como Viseu, Aveiro ou Leiria. E isso tem que acabar.
Gostar da nossa cidade não é fechar os olhos à realidade e
imaginar que é algo de diferente do que todos vemos, porque está bem à vista
para que tem os olhos abertos. As cidades competem hoje umas com as outras,
mais mesmo do que os países entre si, principalmente estando integrados numa
comunidade como é a União Europeia. Para terem sucesso têm que ter estratégias
de captação de investimento económico, que permita emprego de qualidade e em
quantidade. É preciso ter estruturas com esse objectivo que vão ter com os
investidores lá onde eles estão, ter ambição e vontade de vencer, ter atitude e
não ficar à espera que eventualmente venham bater à porta para lhes apresentar regulamentos
administrativos, ainda que muito bem elaborados.
Gostar da nossa cidade não é propor impossibilidades reais como
transformar um aeródromo municipal situado no cimo de um monte, que tem uma
pista com 920m de comprimento, num aeroporto internacional com uma pista com
1.800 m e pretender que quem chama os conimbricenses à razão o faz porque não
sonha e não ama Coimbra. Gostar da nossa cidade é, neste caso, não insultar a
inteligência dos conimbricenses e não fazer da cidade alvo da chacota nacional.
Gostar da nossa cidade é assumir o papel liderante que Coimbra
pode ter na nossa Região e propor às cidades vizinhas estratégias comuns que
possam diminuir o estrangulamento imposto pelo crescimento terceiro-mundista
das grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Gostar da nossa cidade é fazer tudo para que a sua afirmação
cultural, honrando a herança que a classificação como património Mundial
Mundial, seja uma realidade e projecte Coimbra a nível europeu, designadamente
através de uma candidatura credível e profissional a Capital Europeia da
Cultura 2027.
Gostar da nossa cidade é lutar eficazmente contra a pobreza
extrema e degradação física e moral visível nas nossas ruas, fazendo de Coimbra
um exemplo nacional nessa matéria.
Nas eleições do próximo Domingo, todos os candidatos à
presidência da Câmara são pessoas respeitáveis e dignas da nossa consideração.
Mas, na realidade, as sondagens e estudos de opinião indicam que só há dois candidatos
com real capacidade eleitoral de serem eleitos, que são Manuel Machado e Jaime
Ramos. Para quem não aprecia favoravelmente a governação autárquica dos últimos
quatro anos de Manuel Machado, a única alternativa eficaz é, pois, a
candidatura protagonizada por Jaime Ramos, independentemente da contribuição
que todos possam vir a dar na próxima governação autárquica.
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