Estamos a viver uma época de rápidas transformações em todas as facetas da vida colectiva, que se sucedem a uma velocidade sem paralelo na história da Humanidade. Uma das razões para que isto se esteja a passar tem certamente a ver com a facilidade e velocidade de transmissão de informação. O aparecimento e a disseminação da utilização da internet vieram introduzir alterações cruciais no acesso à informação e ao seu tratamento e transmissão. Por exemplo, é hoje muito mais importante e eficaz disponibilizar obras na internet do que manter grandes bibliotecas abertas ao público, como as grandes universidades do mundo já fazem há algum tempo. É assim que todos temos a possibilidade de estudar obras portuguesas antigas que não estão disponíveis entre nós, por se encontrarem em universidades ou museus estrangeiros, sem haver necessidade de deslocações.
As televisões e os próprios jornais têm hoje um papel completamente diferente na informação do que se passa pelo mundo e no nosso país e mesmo na formação da opinião pública. Os meios de comunicação social tradicionais fazem hoje um esforço enorme de adaptação às novas realidades, sem o que o seu futuro se encontrará irremediavelmente comprometido. Alguns sobreviverão, necessariamente diferentes, mas muitos desaparecerão sem apelo nem agravo, aniquilados pela imensa e diferenciada oferta de informação disponibilizada pela internet.
Este jornal que o leitor tem na mão faz hoje 80 anos. Desde que nasceu em 24 de Maio de 1930 que se assume como um jornal republicano e regionalista, “defensor dos interesses das Beiras”, como afirmava orgulhosamente sob o título, logo a partir do primeiro número.
As suas páginas ao longo destes anos são testemunho de tantos acontecimentos que ocorreram no mundo, em Portugal e na nossa região, que o próprio jornal merece ser também notícia, sendo os seus oitenta anos motivo de satisfação para todos os que o lêem e certamente muito mais ainda para os que o fazem. Grandes nomes de Coimbra e das Beiras têm o seu nome eternamente fixado nas páginas do Diário de Coimbra: desde logo o seu fundador, Adriano Viegas da Cunha Lucas, mas também Bissaya Barreto, justamente homenageado pela Cidade logo em 1931, os jogadores da Académica que em 1939 venceram a Taça de Portugal, Linhares Furtado que fez o primeiro transplante de rim em 1969, Miguel Torga, galardoado com um prémio mundial de poesia em 1976, o saudosamente recordado Elísio de Moura, mas também Jorge Anjinho, João Paulo II, que nos visitou em 1982, o Senhor D. Albino cuja próxima saída nos deixa já com saudades, Ferrer Correia, excepcional e clarividente reitor da Universidade verdadeiramente Magnífico, Manuel Antunes, médico notável e organizador de serviços de saúde, Mendes Silva, que morará para sempre na memória de quem o conheceu, Pinho Brojo e António Portugal, cultores maiores do Fado que leva o nome da nossa Cidade, Carlos Mota Pinto, excepcional professor universitário e político grande, António Arnaut, defensor sempre coerente de causas sociais.
Tantos outros passaram até hoje pelas suas páginas de forma positiva. Dos que por lá passaram de forma algo triste não valerá muito a pena falar, embora façam também parte da História. Referi propositadamente pessoas, e não factos ou acontecimentos, porque são o que verdadeiramente interessa e quem faz a História e nos marca definitivamente pelo exemplo de vida.
Os tempos estão a mudar como disse acima, e no futuro o papel dos jornais como o Diário de Coimbra não será certamente igual ao que foi nos últimos oitenta anos. Vivemos hoje imersos num mar de informação global. Há, no entanto, uma função que o Diário de Coimbra tem exercido de uma forma excepcional e que justifica talvez a sua já longa existência e que ultrapassa tudo aquilo que a internet, os blogues e redes sociais não serão capazes de substituir com vantagem: a sua excepcional capacidade de estabelecer redes entre os diversos intervenientes públicos da nossa Região, com respeito por todas as correntes de pensamento e opinião, e ainda a forma notável como liga a Cidade a milhares de pessoas que numa ou outra altura da sua vida se relacionaram com Coimbra.
Ao jornal que me acolhe todas as segundas-feiras desde há quase cinco anos, o agradecimento por esta oportunidade e os votos das maiores felicidades por mais oitenta anos. Desejo ainda a todos seus colaboradores as maiores venturas pessoais e profissionais.
Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Maio de 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário