Ter o privilégio de escrever com regularidade e inteira liberdade no Diário de Coimbra tem-me proporcionado muitas vezes a satisfação de poder comentar factos e situações que mostram a relevância e qualidade da nossa Cidade em numerosas áreas.
Terminou há cerca de uma semana a segunda edição do Festival das Artes que se saldou por um sucesso notável, a vários níveis.
O Festival das Artes é uma organização da Fundação Inês de Castro que está intimamente ligada à Quinta das Lágrimas. No entanto, os seus 42 eventos não se limitaram à Quinta das Lágrimas, tendo alguns deles sido realizados noutros espaços como o Museu da Água, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, o Teatro da Cerca de S. Bernardo ou o próprio rio Mondego. Os eventos abarcaram diversas formas de arte como a música, a dança, o cinema, a declamação e ainda outras áreas culturais como a culinária, o debate e visitas guiadas a locais emblemáticos da região como o Buçaco, o rio Mondego e as ruas da nossa Cidade. Os espectáculos realizados na "Colina de Camões" na Quinta das Lágrimas beneficiaram, é certo, do cenário absolutamente excepcional conseguido naquele espaço. A integração dos vários elementos como a zona do palco, o lago e as bancadas espalhadas pela colina, em conjunto com a proximidade da "Fonte dos Amores" e a colina da Universidade bem enquadrada pela mata da Quinta, proporcionam um ambiente de sonho perfeitamente adequado à realização deste tipo de espectáculos.
Segundo os responsáveis pelo Festival, os oito concertos de música que tiveram lugar ao ar livre na "Colina de Camões" tiveram uma média de 570 espectadores por cada, tendo um deles atingido o recorde de 1.250 pessoas a assistir. Por outro lado, foi anunciado que 70% dos espectadores são de Coimbra e 30% de visitantes. Estes números expressivos significam pelo menos três coisas: primeiro, que as gentes de Coimbra têm grande apetência por manifestações culturais; depois, que também em Coimbra é possível organizar com sucesso um festival cultural e artístico de elevada qualidade com apoios de mecenas e diversas entidades públicas e privadas; por fim, que é vantajoso misturar o tradicionalismo de Coimbra consubstanciado pelo fado e pelos agrupamentos ligados à Academia, com outras formas de arte e de cultura.
O sucesso deste Festival das Artes prova que apesar dos murmúrios maldizentes e das críticas permanentes de muitos dos ditos "coimbrinhas", Coimbra é das cidades portuguesas mais vivas e actuantes na área cultural. Na realidade, talvez o pudesse ser ainda mais se determinados "donos da cultura" deixassem de lado muita da arrogância intelectual que ostentam e tivessem a humildade de aceitar outras ideias e formas de trabalhar.
Em Portugal a área da promoção cultural está desde há muito ligada em demasia aos subsídios estatais, o que ao longo do tempo permitiu o estabelecimento de uma rede bem evidente de distribuição de vantagens mútuas, excepto para o público pagante de impostos que costuma deixar às moscas boa parte dos "eventos culturais" que nos ficam a todos bem caros.
O Festival das Artes é bem a prova de que é possível oferecer aos diversos públicos aquilo que eles quer ver e ouvir, indo ao encontro das suas diferentes apetências e necessidades culturais, sem ceder minimamente à exigência de qualidade.
Por tudo isto e como todas as realizações têm um nome por trás, como cidadão de Coimbra tenho todo o gosto em dizer: obrigado, Dr. Júdice e dê continuação ao Festival das Artes.
Publicado no Diário de Coimbra em 9 de Agosto de 2010
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