jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
"Os bancos não existem realmente para resolver os problemas das pessoas comuns"
As Draghibonds não chegam para acabar com a crise do euro | iOnline
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
NO FIM OU NO PRINCÍPIO?
Portugal passou a primeira metade do ano em claro plano inclinado descendente, em todos os aspectos para que se olhe. Depois de dois anos de aflição financeira, chegou-se em Maio de 2011, àquele ponto final em que o Estado não tinha pura e simplesmente dinheiro para pagar aos seus funcionários, pelo que se chamou finalmente a Troika que nos acompanhará inevitavelmente nos próximos anos. Com ela chegou igualmente o dinheiro necessário para Portugal respirar, mas também a obrigação de mudar de vida.
Vieram depois as eleições. Quem nos trouxe até este ponto aflitivo foi evidentemente corrido da governação pelos votos dos portugueses. A seguir começou a aplicação das directivas da Troika, e que duras são elas. Se todos os portugueses estão a pagar mais impostos, todos os que de alguma forma dependem do Estado começaram além disso a sentir redução de rendimentos, com cortes nos subsídios de Natal este ano e anulação de 13º e 14º meses, pelo menos em 2012.
Toda a máquina do Estado está a sofrer uma reavaliação, com redução de benefícios e aumento dos custos de acesso aos serviços proporcionados pelo Estado. Acabaram as SCUTS e chegou o princípio do utilizador-pagador.
Isto é, enquanto aumenta as receitas, o Estado procede igualmente a uma redução das suas despesas. O objectivo é cumprir os objectivos de défice público muito exigentes constantes do memorando de entendimento negociado pelo anterior Governo com a Troika. Em paralelo, o Estado sai da economia, vendendo as suas participações em empresas que se habituaram a ter grandes resultados por operarem em sectores muito protegidos, como a EDP e a REN. O facto de serem empresas chinesas a comprar não nos deve surpreender: estão a fazer isso em todo o mundo. Na verdade é uma forma muito mais correcta de trazer os capitais chineses para cá do que pedinchar vergonhosamente que comprem dívida nossa, como sucedeu no início do ano.
Nada disto vai ser fácil. Os portugueses toleraram durante demasiados anos governantes que lhes diziam o que qualquer pessoa gosta de ouvir, mas que foram paulatinamente afastando o país das médias económicas e financeiras da restante Europa, criando uma situação insustentável que nos colocou à mercê do primeiro abanão internacional que surgisse. Logo por azar, o abanão que surgiu foi um autêntico. Não vale a pena acusar os actuais governantes da situação existente e de serem apaixonados da austeridade. Eles são apenas aqueles a quem o destino encarregou de serem os portadores das más notícias.
Há que pensar no futuro e tratar de que o Portugal dos nossos netos venha a ser melhor do que o que estamos a entregar hoje aos nossos filhos. Assumamos claramente que as últimas dezenas de anos trouxeram um enorme desenvolvimento ao país em muitas áreas; mas em simultâneo cresceu entre nós uma sensação de facilitismo trazida pelo súbito dinheiro barato após a entrada no euro que levou ao abandono de actividades económicas sustentáveis a longo prazo, trocadas pelo lucro fácil e rápido.
É em plena consciência das dificuldades que nos esperam que desejo aos meus leitores um Ano de 2012 que vos traga tudo aquilo de que de facto necessitam.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
O CAPITAL INVISÍVEL
Pedro Passos Coelho, 25.12.11
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Portugal And Other European Pigs
December 7, 2010 - 1:14 PM | by: Greg BurkeRead more: http://liveshots.blogs.foxnews.com/2010/12/07/portugal-and-other-european-pigs/#ixzz1hHgH6NR6
http://liveshots.blogs.foxnews.com/2010/12/07/portugal-and-other-european-pigs/#ixzz1h7LJCpKJ
Obrigado, José Sócrates
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Ex-gestores da Ferrostaal condenados por suborno em Munique - Sociedade - PUBLICO
Os cidadãos alemães acharão isso normal?
Ex-gestores da Ferrostaal condenados por suborno em Munique - Sociedade - PUBLICO.PT
Santo Ofício
Fantástico.
Sobre o falecimento de Kim Jong-II
Segunda 19 de Dezembro de 2011segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
SOMOS PORTUGAL E NÃO IBÉRIA (e não é por acaso)
domingo, 18 de dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Baixo Mondego quer “concertação” com Pinhal Interior Norte
Baixo Mondego quer “concertação” com Pinhal Interior Norte: “articulação estratégica” para afirmar a regiãoBaixo Mondego quer “concertação” com Pinhal Interior Norte “Porque os problemas não têm fronteiras, as respostas também não podem ter”, afirma Jorge Bento, defendendo uma “articulação estratégica” para afirmar a região
A ler com atenção
Há muito que assistimos a uma governação europeia contra-natura, num afastamento exponencial da nossa essência. A Europa deixou de se erguer sobre alicerces culturais - alicerces que deram origem à nossa sociedade, a uma sociedade democrática de igualdade de direitos -, erguendo-se sobre uma factura económica (de restaurante fast-food!). Hoje, assistimos a uma crise sem precedentes em todo mundo. Uma crise económico-financeira, ou uma crise cultural e de valores? Ou será a primeira consequência da segunda?
Portugal não é excepção à regra. Aliás nunca o foi. Portugal falhou e tem continuamente falhado no apoio às artes. Para além da falta de apoio à grande massa de artistas e à falta de estratégias de promoção e educação das artes, Portugal brinda-nos recentemente com a extinção do Ministério da Cultura - um ligeiro “déjà vu” salazarista -, substituindo-o por uma Secretaria...
Portugal nunca esteve tão perto do esquecimento.
Nesta matéria, a França é um exemplo bastante diferente de Portugal. A sua capital, Paris, cidade mais visitada do mundo, recebendo anualmente mais de 27 milhões de visitantes (quase o dobro da população portuguesa), tem uma projecção mundial sem precedentes. Facto este, que não se deve somente a situar-se no coração da Europa, facilmente ligado a Londres, Bruxelas, Madrid ou Genebra, graças, entre outros, ao TGV, mas porque apostou também na sua maior força de expansão: a sua origem, a cultura.
Aliado à reabilitação e manutenção de edifícios seculares, com uma arquitectura rica e diversificada, um conjunto de museus únicos e uma gastronomia de renome internacional, a França aposta em força na educação e no apoio das artes. Esta diferença de política cultural permite que ostente ainda o lugar de país mais visitado do mundo - gerando uma das mais elevadas receitas no turismo - e seja, consequentemente, um dos oito países mais poderosos do mundo.
Em Portugal, sem um abrigo artístico português, muitos foram aqueles que repetiram a nossa História e lançaram-se à descoberta de novos mundos. Sem apoios e cicatrizados por um Portugal artisticamente castrador, vários artistas decidiram apostar nas suas raízes, na sua cultura, e hastearam "lá fora" a bandeira de Portugal ao mais alto nível. Defenderam e imortalizaram séculos da nossa cultura, tornando-se assim, os Reais Embaixadores de Portugal.
A todos eles, em meu nome, e em nome de todos os portugueses: Muito Obrigado!
[Ricardo Vieira, em Paris, França]
Vergonha
Num país onde muita gente faz contas à carne que pode comprar, aos medicamentos de que pode (?) prescindir, onde se angustia pelo emprego que se perdeu ou pode vir a perder, os deputados entretêm-se desta maneira. Não faço qualquer distinção entre partidos: a vergonha é igualmente distribuída pelos intervenientes. Desde o irresponsável que fez as declarações ao político que ainda acha que a ocasião é para brincar sobre outras figuras, todos merecem desprezo, pela imensa falta de respeito que demonstram, enclausurados na sua vidinha de corte. Custa-me aderir ao discurso do "eles são uns palhaços", mas há dias em que a tentação é grande demais. E há mesmo dias em que "eles" merecem o nosso desprezo.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Notícias de hoje da Angemerkozilandia
Bolsa de Paris: CAC-40 baixa 0,69% na abertura
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
E despediram-no, claro.
Bernard Connoly, antigo alto-funcionário da Comissão Europeia, afastado por se opor ao projecto do Euro, esteve em Portugal em 1997 – exacto: 1997 – para um ciclo de conferências que decorreu em Serralves. Encontrei agora a sua comunicação (no livro “O desafio europeu, passado, presente e futuro”, da Principia) e a sua leitura é muito instrutiva.
Depois de explicar por que criticou o projecto da moeda única, Connoly faz algumas curiosas previsões:
“As condições monetárias serão estabelecidas de feição para a França e a Alemanha, o que quer dizer que as taxas de juro do euro em 1999 não serão de todo suficientemente altas para as necessidades da economia de Portugal, para dar um exemplo. Isto significa que a convergência da taxa de juro andará muito em baixo para a periferia, o que vai levar a um 1998 que, à primeira vista, vai parecer o paraíso [lembram-se do ano da Expo? Pois foi 1998…]. Haverá um forte crescimento, as taxas de juro vão descer, ainda não haverá nenhuma inflação, o volume de negócios e de consumo será muito grande, haverá uma explosão da bolsa de valores e do mercado imobiliário. Estou a dizer que o mercado imobiliário vai explodir em Portugal e em Espanha. E digo, se tiverem senso-comum, peçam empréstimos, hipotequem-se até às orelhas, mas na condição de poderem saldar as dívidas rapidamente nos anos 2000/2001. É nessa altura que vão surgir os problemas [lembram-se do pântano de Guterres?]”.
Connoly prossegue traçando o retrato do que se passaria na Europa nos anos seguintes, prevendo que algures depois de 2001 ocorrerá uma crise grandes dimensões, que levaria à suspensão do pacto de estabilidade. Nessa altura, que previu que chegasse mais cedo do que chegou…
“Vai haver uma crise de confiança dos mercados financeiros no euro e as pessoas vão perceber que não se podem proteger do desmembramento do euro com marcos alemães denominados euros. Um euro é um euro, é um euro, é um euro. A única maneira de uma pessoa se proteger nessas circunstâncias é adquirir genuinamente valores exteriores, as moedas de países exteriores à área. Por outras palavras, o euro vai estar sob severa pressão dos mercados financeiros”.
Quando se chegasse a este ponto, Connoly previa que os políticos pudessem reagir de três maneiras: assumindo o erro do euro, o que ele achava impossível acontecer; continuarem a lutar para tentarem encontrar qualquer solução, o que deveria acontecer durante algum tempo; finalmente…
“A terceira opção é a que será escolhida. Vai ser usada a desculpa da pressão do mercado financeiro no euro. ‘Meu Deus, esses especuladores terríveis, esses americanos, esses judeus [aqui ele enganou-se…], esses sabe Deus quem, estão a tentar destruir a nossa Europa. Temos de impedir que façam isso, só há uma maneira de o fazermos: temos de nos fortalecer ainda mais, temos de ter um governo económico que crie um sistema monetário que espelhe realmente o sistema dos Estados Unidos’”.
Para quem assumiu que o que estava a fazer era apenas “uma previsão” e que falava em 1997, digamos que talvez pudéssemos começar a consultá-lo sobre os números do Euromilhões…
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Paroles, paroles, paroles...
O REI VAI NU
E aquela quinta-feira não foi excepção. Os assuntos eram muitos e variados e todos motivo de satisfação pelo que significavam de melhoria para a vida dos súbditos e claro, pela boa imagem que dele transmitiriam.
No fim do despacho, após a retirada dos secretários, foi com a melhor das disposições que recebeu os cumprimentos daquele seu primo companheiro de brincadeiras quando eram crianças e que há tanto tempo não via. Depois do abraço comovido, o primo disse-lhe: “Majestade, com a amizade fraterna que nos liga, não posso deixar de vos transmitir uma grande preocupação que me assaltou o espírito enquanto vós despacháveis com os vossos secretários. Eu sei que vós fazeis grande confiança neles, até porque já serviram fielmente o Senhor vosso Pai e antecessor. Mas devo dizer-vos que me pareceu excessiva a reverência com que vos tratam e apresentam as matérias para despacho. Pelo menos num desses assuntos, pareceu-me que alguns deles estarão directamente interessados na solução apresentada a V. Majestade e que existe no Reino quem seja muito mais capaz de promover a realização dos objectivos pretendidos e garantidamente com muito maior satisfação dos vossos súbditos. Permiti-me ainda abusar da v. bondade em me ouvir e dizer-vos que me pareceis demasiado crente nos elogios tão artificiais dos vossos secretários que cheiram a bajulice interesseira à distância, o que vos poderá vir a colocar numa situação falsa perante os vossos súbditos.”
Surpreendido, o Rei virou-se para o primo e retorquiu-lhe que já não era criança como nos tempos em que brincavam todo o dia e que tinha inteira confiança nos secretários que já haviam servido fielmente seu Pai, que conheciam bem o reino e os procedimentos da governação e que certamente só queriam o bem do seu Rei. Passou-lhe o braço pelo ombro e acrescentou que não se preocupasse, passando ambos para a sala de banquetes onde o presenteou com uma magnífica refeição ao som dos seus músicos.
Claro que o leitor já adivinhou o fim da história que aqui revisitei. Passados poucos anos sobre este episódio, o Rei passeava todo orgulhoso de si na rua com um séquito a acompanhá-lo, imaginando que as vestes que usava eram magníficas, porque assim lho garantiam os seus secretários. Até que uma criança na sua simplicidade gritou: o Rei vai nu! Só nessa altura, perante o gozo e chacota de todos o Rei caiu em si cheio de vergonha, lembrando-se então, tarde demais, do aviso que o seu primo velho companheiro de brincadeiras, afinal o único verdadeiramente fiel e verdadeiro, lhe tinha dado.
Moral da história? Nenhuma, caro leitor. Apenas a verificação de que todos os dias e em todos os sítios continuamos a assistir à representação desta velha história que de infantil não tem nada.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Longa vida a Manuel de Oliveira
À pergunta (profunda) sobre o que esperava alcançar com as corridas de automóveis, respondeu MO: chegar primeiro. Ora bem!
Perceber Sarkozy?
«Fui para dentro e jantei. Para França, foi uma refeição a valer, mas, depois de Espanha, parecia cuidadosamente racionada. Bebi uma garrafa de vinho, para acompanhar. Era Château-Margaux. Sabia bem beber devagar e saborear o vinho e bebê-lo a sós. Uma garrafa de vinho faz muita companhia. (...) Era confortável estar num país onde era tão fácil tornar felizes as pessoas. Nunca se sabe se um criado espanhol nos agradece. Em França, tudo assenta numa tão clara base financeira. É o mais simples dos países para viver. Ninguém complica as coisas pelo facto de se travar de amizade connosco por qualquer razão obscura. Se a gente quer que gostem de nós basta gastar um dinheirito.»
Ernest Hemingway, Fiesta
Editorial Verbo, 1972. Colecção Livros RTP, nº 92.
(Tradução de Jorge de Sena)
Ruptura/FER sai do Bloco - Renascença
Seguro acusa Governo de conduzir país para a pobreza (vídeo)
Mais um ditador "out"
Para continuação de conversa (II)
Vasco Pulido Valente, hoje no Público, contra o utilitarismo dos escravos.
(texto copiado do Estado Sentido)
O veto da Inglaterra na última cimeira foi invariavelmente explicado pelo interesse (ou interesses) nacionais que ela queria proteger, e antes de mais nada a primazia da City como praça financeira. Este preconceito tem tradições. Já Napoleão dizia que a Inglaterra era um país de merceeiros. Não ocorreu a ninguém que as razões fossem outras. Mas basta conhecer o sítio e um pouco da velha história dela para se perceber que a Inglaterra nunca engoliria o plano de Merkel, porque ele na essência limita os poderes do Parlamento, que são a origem e o fundamento da legitimidade e do Estado. Um Parlamento que aceitasse a tutoria orçamental da burocracia de Bruxelas, que ninguém elegeu e não precisa de responder perante ninguém, deixava de ser o Parlamento e a Inglaterra deixava de ser a Inglaterra.
Claro que a sra. Merkel não é Hitler ou o imperador Guilherme II e não quer hoje, como ontem, dominar a Europa. Mas basta comparar o mapa da Alemanha nazi em 1943 com o mapa da UE para se descobrir um ponto interessante: tirando menos de meia dúzia de excepções, os dois quase coincidem. Se em vez de um mapa militar, esse mapa fosse político, descreveria com exactidão a força da democracia na "Europa". No Sul e Sudeste, por exemplo, a democracia ainda não chegou aos cem anos e continua a não se distinguir pelos seus costumes. No centro, é o resultado recente do colapso do império soviético. Só no Norte e em franjas do Noroeste, ela faz parte de uma velha cultura nacional. Não admira que a prepotência de Sarkozy e Merkel não perturbe por aí além os 27. Estão habituados.
Quanto a Portugal, com uma interminável ditadura, um ensaio de revolução "leninista" e uma Constituição absurda, que, apesar de revista, vai persistentemente conservando restos do marxismo vulgar e as fantasias da esquerda de 1970, não promete muito. Nem a vida política, como se formou e desenvolveu a partir de 1980, com a sua pública tolerância da corrupção e da intriga, ajudou a que se formasse uma consciência cívica. Os sobressaltos que de quando em quando imaginários perigos para a nossa imaginária soberania provocam no coração sensível de alguns patriotas não passam, no fundo, de uma retórica obsoleta e relutante. Por isso, Passos Coelho não sofreu com certeza uma dor lancinante com a assinatura do acordo intergovernamental de anteontem. A democracia não lhe pesa, nem nos pesa a nós.
Possível fim do euro já é discutido pelos economistas - Economia - DN
Calha bem; como se os economistas resolvessem alguma coisa.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
ALERTA VERMELHO
Nos últimos tempos, têm aberto legalmente ao público dezenas de lojas por todo o país, incluindo Coimbra, que se dedicam a um estranho comércio.
Essas lojas, conhecidas por “smart shops”, com uma decoração a preto e vermelho e cheias de palavras inglesas que remetem claramente para viagens, alucinações, pedradas, etc. vendem, supostamente, produtos que classificam como fertilizantes para plantas. Esses produtos, com diversas dosagens, são caros. Cada embalagem ou dose custa entre 12 e 40 euros. No exterior contêm avisos do tipo “não para consumo humano”, “fertilizante para plantas” e “não somos responsáveis por uso indevido”.
Na verdade, ninguém sabe bem a composição daquele pó ou do que está dentro das drageias. Mas o produto base, isso sabe-se bem o que é e não tem nada a ver com plantas. É conhecido internacionalmente por “miau miau” e o seu verdadeiro nome é mefedrona. É uma droga sintética, com efeitos alucinogénicos que muitos comparam à cocaína para pior, embora ainda não esteja devidamente estudada e só se lhe conheçam alguns dos trágicos efeitos em casos concretos por todo o mundo. Uma coisa se sabe no entanto: não há conhecimento de que alguma vez tenha sido usada como fertilizante para plantas, seja onde for.
Já está proibida em muitos países, mas ainda não em Portugal onde pode ser vendida, embora não para consumo humano, razão por que se continua a ver “lojas espertas” com portas abertas por todo o lado. Ainda não foi incluída na lista de drogas do INFARMED, pelo que a venda é livre. Entretanto, os vendedores vão desde já adiantando que, depois de ser proibida, bastará alterar ligeiramente a composição química para que possa continuar a ser vendida.
Isto é, o negócio e os lucros com um comércio infame e nojento que essencialmente destrói a juventude e as famílias continuam impunes e a alastrar com o maior dos à-vontades e a complacência, para não dizer mais, das autoridades. A ASAE, que tão competente tem sido nos últimos anos e ainda bem, a combater falcatruas no comércio ainda não deu por isto, ou anda distraída. Na verdade, ninguém sabe exactamente o que está dentro daquelas saquetas e elas estão à venda. Todos sabemos que se alguém abrir uma loja com pistolas e lhes chamar “pedaços de aço” para decoração e escrever que não se destinam a matar e que não é responsável por uso indevido, a loja será imediatamente encerrada. Isto é, neste caso a hipocrisia campeia à vista de toda a gente.
Se muitos dos compradores sabem exactamente ao que vão, muitos jovens compram e começam a usar mefedrona, porque sendo livremente comprada em lojas de porta aberta acreditam que não faz mal e que não se trata de verdadeira droga, já que essa é ilegal e só se compra aos “dealers” às escondidas.
Urge acabar rapidamente com esta situação. Acredito que a maior parte das pessoas e mesmo muitos pais não fazem ideia de que estas coisas se passam ao nosso lado. Por isso mesmo, todos os alertas são importantes, para que o Estado acorde e exerça o seu dever de protecção dos cidadãos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Dezembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
E.U.
A desunião da União Europeia teve o seu epílogo na última reunião do G20 que decorreu entre dez e doze deste mês e que na realidade foi do G19 (20-1). Na verdade, ao contrário do que deveria suceder, a UE não esteve representada ao lado da Alemanha, da França, do Reino Unido, da Itália e dos restantes países que constituem aquele fórum. Foi com grande espanto que o resto do mundo assistiu ao triste espectáculo dos representantes da Alemanha e da França a anularem a representação da EU e mostrarem ali à frente de todos que a Europa está completamente desunida e à mercê de Merkel e Sarkozy na definição das respostas à crise da dívida pública dos países europeus e do futuro da economia.
Depois daquele G19, não passou nem uma semana até que na Grécia e em Itália os governos tivessem sido substituídos por tecnocratas, sem realização de eleições. Claro que a democracia foi formalmente respeitada, dado que aqueles países se viram de tal forma encostados à parede pela dupla que governa a U.E., que os parlamentos respectivos trataram de rapidamente encontrar soluções constitucionalmente aceites mas adequadas aos objectivos. Ajudou que o ex-primeiro Ministro Grego Papandreou tenha feito aquela rábula grotesca da ameaça do referendo sobre a ajuda à Grécia. E o facto de em Itália estar um Berlusconi à frente do Governo também terá facilitado as coisas. Não se pode dizer em verdade que a Democracia tenha sido suspensa em Itália e na Grécia. Mas foi claramente torpedeada e abriu-se um precedente grave: não há dúvidas de que a soberania daqueles dois países, curiosamente berço das duas civilizações que estão na base da Europa, ficou claramente afectada, face às imposições de quem manda na EU.
Os problemas da colocação de dívida pública começaram por países com graves deficiências internas, embora diferentes entre si: Irlanda, Grécia, Portugal e agora Espanha e Itália. Para qualquer um deles as taxas de colocação de dívida pública subiram a valores que tornaram a situação insustentável; alguns foram já obrigados a pedir ajuda externa para se financiarem temporariamente fora dos mercados, o que tem a contrapartida de facturas pesadíssimas para as economias dos países e, essencialmente, para os respectivos cidadãos. Mas todos estes países fazem parte de uma união económica e monetária, tendo o Euro como moeda comum. Têm moeda comum, mas não têm políticas económicas comuns, nem fiscalidades comuns, nem dívida comum. Tudo foi andando na santa paz da inconsciência enquanto a economia mundial funcionou bem, anulando as ineficiências económicas nacionais. Após o furacão financeiro de 2008, as finanças dos países ficaram destapadas e à mercê dos mercados que, com a globalização e falta de controlo e regulação de fluxos financeiros, permitiram grandes lucros instantâneos à custa da exploração das fragilidades nas dívidas públicas nacionais.
O problema, que era até há pouco apenas dos países incumpridores, foi entretanto crescendo e evoluindo para o centro da EU, chegando agora a França e à própria Alemanha, como o atestam as dificuldades actuais de colocação de dívida pública alemã e as previsões de descida de rating da França. Não alinho com aqueles que dizem ser Merkel a continuadora de Hitler nos seus propósitos de conquistar a Europa, agora por via da economia e já não pelas armas. Mas que a Alemanha e a França têm que abandonar as posições de suposta auto-protecção que têm tido e devem urgentemente conciliar os seus interesses com os da restante União Europeia para a construção da Europa Unida, isso também me parece evidente. Aliás, agora são os próprios mercados que já o dizem alto e bom som a Merkel e Sarkozy, o que significa que resta muito pouco tempo para defender o Euro.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Novembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
MULHER, hoje
A alteração do papel das mulheres é, claramente, uma das mais marcantes e substanciais mudanças sociais surgidas na segunda metade do século XX. É hoje óbvio que o surgimento e disseminação de métodos anti-concepcionais, principalmente a pílula, libertou a mulher ocidental, dando-lhe acesso generalizado a um mundo antes exclusivo dos homens. A possibilidade de determinar a sua maternidade, escolhendo quando e como ser mãe, abriu toda uma nova forma de encarar o mundo, com mais liberdade e responsabilidade, também.
Com o objectivo de, mais cedo ou mais tarde, se conseguir uma paridade que dê às mulheres um papel político mais equilibrado e consentâneo com a sua representatividade numérica na sociedade, temos desde 2006 uma lei que obriga a que as listas partidárias nas diversas eleições incluam pelo menos um terço de mulheres. Se, por um lado, a existência das quotas abre uma janela de oportunidade a mulheres que de outra forma teriam dificuldade em aceder a uma actividade relevante e de gestão do bem comum como é a política, por outro lado trouxe aos partidos mais uma dificuldade acrescida de gestão dos seus quadros. A verdade é que o nº de mulheres que participam nas actividades do dia-a-dia dos partidos é claramente inferior à quota definida por lei. Significa isto que, aquando da elaboração das listas os partidos vão procurar mulheres para preencher as quotas, tendo uns convites certamente razões válidas e positivas e outros menos; as quotas são muitas vezes preenchidas com mulheres de valia pessoal e capazes na sua vida profissional, mas não tendo frequentemente qualquer ideia nem projecto político para os cargos que vão exercer, nem experiência política ou de gestão. Assiste-se depois, frequentemente, a um penoso exercício de funções públicas sem qualquer estratégia política, às mãos de burocratas, que desbarata completamente a possibilidade de construção de um futuro melhor. Nos últimos anos assistimos a demasiados casos destes, aos mais diversos níveis, mesmo ministeriais onde as quotas nem têm que ser cumpridas. Pelo contrário, fora da política, muitas mulheres se destacam pela sua valia pessoal e pelos sucessos que obtêm através de um esforço, tantas vezes titânico, porque aliam profissão e família. Tanto nas áreas empresariais, como na cultura, ensino e muitas outras, vemos mulheres a ultrapassar dificuldades, a mostrar como de pouco se faz muito, tantas vezes com um sorriso no rosto, mal se adivinhando as dificuldades que por lá vão. E, para estas mulheres não há quotas, que os políticos legislam muitas vezes a pensar só no seu pequeno e reservado mundo.
A Lei da Paridade, inteiramente justa nos seus propósitos, já tem uma duração suficiente para que seja sujeita a uma avaliação. De facto, só por ingenuidade ou boa-vontade perversa se pode dizer que está a conseguir os seus objectivos. As mulheres que se afirmam por si sem necessidade de apoios artificiais, merecem-no e a sociedade deve exigir que o bem comum seja tratado por quem é mais capaz, não interessando se é homem ou mulher. Há muitas mulheres verdadeiramente excepcionais que mostram a todos como se trabalha, quer profissionalmente, quer para o bem comum. Só que a essas os partidos não fazem normalmente convites, certamente com medo da sua capacidade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
As Beiras: a nossa Região
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 7 de Novembro de 2011