A barbárie à solta pelas ruas de Londres e outras cidades inglesas não foi o único acontecimento digno de nota dos últimos dias. Infelizmente, acrescento eu.
Na realidade, algo está a mudar neste nosso mundo ocidental, com uma rapidez e uma profundidade ainda impossível de conhecer.
A economia ocidental continua num autêntico caos, sendo evidente o desnorte dos mercados financeiros e dos responsáveis políticos aos diversos níveis. As bolsas europeias e americanas mostraram durante toda a semana passada uma volatilidade e uma falta de consistência verdadeiramente assustadoras. Apesar das garantias do tipo bushiano apresentadas por Obama, segundo o qual a economia americana foi, é e sempre será "triplo A", a verdade é que, pela primeira vez na História, uma das agências de notação baixou a cotação da dívida americana.
O risco de incumprimento das dívidas italiana e espanhola agravou-se, havendo um medo generalizado de que o Euro, tal como está, poderá não resistir muitos mais meses; sente-se no ar que esse medo está no limiar de se tornar em pânico colectivo. A banca francesa está sob vigilância com uma grande queda das suas acções, temendo-se pela situação financeira de um dos maiores bancos franceses. Soube-se que a economia francesa estagnou também no primeiro semestre.
Enquanto tudo isto acontece, os líderes da Alemanha e da França vão telefonando entre si e aos restantes líderes europeus e combinam almoços para tentar resolver os problemas da Europa e, sei lá, do mundo. Da União, poucas notícias, a não ser que o BCE lá comprou mais dívida portuguesa e irlandesa para acalmar os mercados, como se fosse esse o papel de um Banco Central. Da Comissão apenas se ouve, sempre e eternamente, que as restrições orçamentais são para cumprir a qualquer custo, sendo evidente o estiolamento das economias reais; haja alguém que conte a Barroso e afins a história que por cá se conhece como do burro espanhol, sem ofensa para os nossos irmãos ibéricos: o coitado do animal acabou por morrer quando estava quase a aprender a viver sem comer.
Entretanto, a Espanha, a França, a Itália e a Bélgica decidiram proibir temporariamente a venda de acções a descoberto, tentando cortar o caminho aos especuladores que lucram com as desvalorizações; tentativas inglórias, porque desgarradas, de fazer frente a problemas de desregulação financeira da globalização.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Agosto de 2011
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