Algum tempo atrás, um conhecido político explicava que qualquer partido político necessitaria, na sua perspectiva, de manter boas relações com os principais lobbies – referindo-se expressamente a entidades mencionadas no “Breve manifesto” de 1995, da autoria do Dr. Carlos Candal. De outra forma, na mesma perspectiva, a influência que os lobbies têm na comunicação social tornaria inútil qualquer ação por parte do partido em questão – gerar-se-ia de imediato um coro de criticas, orquestradas por vários maestros.
Trata-se de uma variação importante relativamente ao texto de 1995 acima citado. Naquele texto, é dito que os lobbies infiltraram os partidos políticos e a comunicação social. Mas na perspectiva em análise, são os partidos que procuram ativamente o apoio dos lobbies. Tal apoio poderia ser conseguido, por exemplo, nomeando para a direção de um dado partido membros dos lobbies – permitindo assim que cada lobby tenha uma noção exata do que se passa “lá dentro”, e possa exercer influência. Igualmente importante poderá ser, na mesma perspetiva, a nomeação para cargos importantes de conhecidos membros dos lobbies. Esse tipo de medidas poderia, na perspectiva acima indicada, gerar a “boa imprensa” de que os partidos carecem para obter resultados políticos favoráveis.
Numa perspectiva de “Darwinismo político” (que me perdoe C. Darwin), a presença dos lobbies dentro dos partidos e mesmo apoiados pelos partidos, numa simbiose harmoniosa em que “uma mão lava a outra” seria vantajosa, ou mesmo indispensável, para os partidos obterem resultados eleitorais.
Como já vimos em textos anteriores, nem todos os membros dos lobbies são indivíduos medianos. Contudo, quando um indivíduo mediano aparece nomeado para uma posição de destaque, ainda que com estatuto de “independente” (no sentido de não-filiado) devemos pensar na possibilidade de ser membro de um qualquer lobby. O velho conceito “cherchez la femme” ou ainda a sua variante “cherchez l’argent” poderá agora ser substituído por um “cherchez le lobby” (se me for permitida uma expressão galo-britânica). Parte significativa dos “independentes” da nossa praça seriam, na verdade, membros de lobbies.
Pelo caminho, fica a noção de igualdade de oportunidades no acesso à res publica. Devemos satisfazer-nos com este estado de coisas? Ou devemos, pelo contrário, defender a transparência como forma de controlar os lobbies? A escolha é, para mim, bastante clara.
José Pedro Lopes Nunes
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