segunda-feira, 3 de setembro de 2012

21 Julho 1969, 02:56 GMT



O momento em que Neil Armstrong poisou o pé na superfície lunar fica para sempre registado na História da Humanidade como um dos mais importantes e significativos.
Tinham passado oito anos desde que John Kennedy havia estabelecido o objectivo de levar um homem à Lua e trazê-lo são e salvo para a Terra, antes que a década de 60 terminasse, cumprindo-se assim a promessa feita pelo presidente americano perante o Congresso.
Não foi fácil fazê-lo. Custou muito dinheiro e exigiu o trabalho de mais de 400.000 pessoas durante anos a fio, sem os meios tecnológicos, essencialmente os informáticos, de que se dispõe hoje. Após a Apollo 11, houve ainda várias missões que levaram homens à Lua, sendo a última a Apollo 17 em Dezembro de 1972, faz este ano 40 anos!
Foram feitas muitas comparações com as viagens marítimas dos portugueses, inclusive pelos próprios astronautas que tiveram aquela sensação assustadora de partir para o desconhecido sem ter o regresso por certo. A comparação é ainda mais acertada porque, ao contrário do que muitos ainda hoje pensam, as viagens portuguesas foram meticulosamente preparadas, exigiram muitos esforços e grande capacidade organizativa, além da utilização intensiva de todo o conhecimento científico disponível à época.
Aquela noite de Julho de 1969 é também uma recordação pessoal gravada indelevelmente na memória. A transmissão da televisão durou muitas horas e ainda bem novo fiquei acordado à espera do momento crucial da saída de Armstrong e Aldrin para a superfície lunar, o que sucedeu já bem depois das 3 da madrugada, altura em que acordei todo o resto da família. Foi uma viagem vista em directo por todo o mundo. Desde o lançamento do gigantesco foguetão Saturno V em 16 de Julho, até à descida no Oceano Pacífico em 24 de Julho, passando pelo passeio de mais de duas horas na superfície lunar, centenas de milhões de pessoas tiveram a oportunidade de seguir a viagem pela televisão.
Sabemos hoje dos pormenores da descida do Módulo Lunar “Eagle” desde a separação do Módulo de Comando “Columbia” onde ficou Collins a observar e a aguardar o regresso dos dois companheiros de viagem. Neil Armstrong pilotou o “Eagle” na descida e antes que o combustível acabasse teve de encontrar um local seguro para poisar, enquanto os computadores de bordo emitiam sinais aflitivos de mau funcionamento, que lhe provocaram mais de 156 batidas do coração. Foi um momento chave em que a experiência e formação excepcional de piloto de Armstrong salvaram toda a missão. A frase que proferiu quando pisou a Lua e que ficou célebre (um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade) terá vindo à sua cabeça precisamente naqueles momentos de aflição antes do pouso do “Eagle” na superfície lunar e é de uma felicidade espantosa na sua simplicidade.
Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua. Morreu agora. Foi um exemplo, não só pela coragem, sangue frio e determinação em momentos de tensão extrema, mas também pela humildade com que viveu todo o resto da sua vida, recusando honrarias e exposições mediáticas, salientando sempre que, além dele, muitos contribuíram para o sucesso da missão.
Depois da Apollo 17, nunca mais nenhum homem voltou a pisar a Lua. Grandes progressos científicos, inclusivamente na astronáutica se verificaram depois disso, mas o facto é que as novas gerações nunca tiveram a experiência de olhar para o nosso satélite natural, com a consciência de haver lá homens a trabalhar e a representar toda a Humanidade em missões exclusivamente científicas e de paz. Sensação estranha mas simultaneamente propiciadora de esperança no futuro da Humanidade.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Setembro de 2012

2 comentários:

Surto disse...

Caro João Paulo,


A pergunta que sempre me faço é: Por quê eles não voltaram mais a Lua? apesar de ser um grande feito, porquê não foi repetido?

Grande abraço

Unknown disse...

O grande feito... Quer dizer em relação à evolução tecnológica, e não a benefícios promovidos pela lua.