Depois de um período pascal que este ano foi particularmente mortífero nas estradas portuguesas, o presidente do ACP fez o comentário que serve de título a esta crónica. A afirmação é uma evidência para toda a gente e não apenas pelos resultados letais dos inúmeros acidentes.
Basta circular pelas nossas estradas, ou mesmo pelas ruas das nossas cidades. É raro encontrar um automobilista que ligue o respectivo pisca quando muda de direcção, assim assinalando previamente a manobra aos outros utentes da estrada. Todos os dias nos acontece que um carro que circula à nossa frente pára de repente sem fazer qualquer sinal, por exemplo para largar um passageiro. Nas rotundas é um autêntico festival de asneiras: uns condutores fazem toda a rotunda pelo exterior; outros circulam pelo interior e quando pretendem sair atravessam as vias todas de seguida.
Na auto-estrada, muitos condutores seguem calma e placidamente pela via da esquerda. Assinalar previamente a mudança de via, para a direita ou para a esquerda, é uma atitude que se vê menos vezes do que um cometa. É frequente encontrar automobilistas que travam de repente na auto-estrada sem que se descortine qualquer razão para tal.
O estacionamento nas nossas cidades pratica-se sem quaisquer constrangimentos sobre os passeios, limitando ou mesmo impedindo a livre circulação de peões. A paragem de viaturas em segunda fila em ruas com traço contínuo, obrigando os outros condutores a passar por cima desse traço é uma situação que se vê todos os dias.
A circulação em claro excesso de velocidade no interior das cidades é igualmente uma constante. Todos os peões conhecem aquela situação de serem saudados pelos condutores que, de tão depressa que vão, não conseguem ou nem tentam parar antes da passadeira.
Encontramos faltas de segurança na circulação automóvel ditadas pelo absoluto desconhecimento das características técnicas dos veículos por parte da esmagadora maioria dos automobilistas, numa altura em que os carros dispõem de variados equipamentos que funcionam independentemente da vontade dos condutores. Equipamentos esses desenvolvidos para aumentar a segurança da circulação automóvel, mas que pressupõem um conhecimento mínimo da forma como funcionam, na falta do qual, os condutores poderão criar riscos muito maiores do que se não existissem. Só para dar um exemplo, a maioria dos automobilistas está convencida de que o ABS serve para parar em distância mais curta.
Aqui há uns anos, perguntaram a um embaixador britânico que estava de regresso ao seu país qual a maior diferença que tinha encontrado entre Portugal e o seu país; respondeu que no seu país os automobilistas travam quando o semáforo passa de verde para amarelo e aqui aceleram! Grande parte dos condutores portugueses comporta-se como tendo também comprado a estrada para si, quando compra o automóvel.
O cumprimento do Código da Estrada tornar-se-ia muito fácil com o simples cumprimento de regras de civilidade e boa educação. Pois! Mas de facto seria esperar muito que os portugueses fossem na estrada diferentes do que são no dia-a-dia.
Nota aos meus leitores que esperariam que hoje escrevesse sobre a actualidade política: este texto também é sobre política.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Abril de 2013
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