segunda-feira, 15 de abril de 2013

COIMBRA NA SUA REGIÃO


A Orquestra Clássica do Centro voltou a Águeda no sábado passado. O público que encheu por completo o Cine Teatro daquela Cidade ficou entusiasmado com um concerto dedicado à interpretação de Aleluias de compositores como Mozart, Haydn, Mendelssohn e Vivaldi.
À OCC juntaram-se o excelente coro de S. João da Madeira e o virtuosismo das vozes de Margarida Reis, Brígida Silva e Cecília Fontes partilhando de forma intensa toda a alegria que transparece daquelas obras. Pessoalmente, sem querer ser injusto para com as outras obras, saliento a forma magistral como foi interpretado o Glória de António Vivaldi, um compositor tradicionalmente ligado apenas às suas “4estações”, mas que é cada vez mais reconhecido como uma das estrelas mais brilhantes do firmamento dos maiores compositores e que tem aqui um dos seus momentos altos.
Quer os responsáveis pela realização do Concerto promovido pela Misericórdia de Águeda, quer os espectadores que de Coimbra se deslocaram àquela Cidade foram unânimes nas considerações que fizeram à actuação da Orquestra: o nível atingido não fica nada a dever às melhores orquestras nacionais e estrangeiras. O actual maestro David Lloyd, além de um executante reconhecidamente brilhante do seu instrumento, a Viola, tem demonstrado uma competência excepcional na Direcção dos músicos da Orquestra, quer na preparação das peças, quer na interpretação durante os Concertos. O prazer dos
músicos profissionais da OCC em tocar sob a Direcção de David Lloyd é patente e transmite-se de imediato ao público, dando origem a uma intensa partilha de emoções como só a linguagem da música de qualidade consegue proporcionar.
Isto é Coimbra no seu melhor. Uma Orquestra sediada em Coimbra leva a toda a sua região Cultura ao seu nível mais alto, daquela forma simples que é sempre resultado de uma exigência permanente pela excelência, sem concessões ao facilitismo. Exactamente a atitude que Coimbra deveria adoptar em todas as áreas: colocar-se de forma natural e não arrogante à disposição de toda a Região, para com ela partilhar o que tem de melhor, assim subindo o nível médio, o que é do interesse de toda a Região
Claro que, para isso, Coimbra tem de reconhecer com clareza o que encerra de melhor em si mesma, também em termos culturais, o que exige uma ultrapassagem clara dos limites estreitos do nosso tradicionalismo que é necessário defender, mas não pode ocupar todo o espaço. Coimbra não pode ainda estar sujeita a caprichos pessoais, seja de quem for, contratando para aqui actuar orquestras de outras regiões, que não acrescentam um pingo de qualidade ao que cá existe e reduzindo o amor-próprio da Cidade, tal como sucedeu recentemente.
Caro leitor: espero que tenha ficado com pena de não ter ido a Águeda no sábado passado. Mas pode ultrapassar facilmente esse sentimento. A OCC vai interpretar este programa de Aleluias em Coimbra na próxima sexta-feira dia 19, no Mosteiro de Celas. Vá, verifique por si a verdade do que aqui escrevo e entusiasme-se com todas aquelas músicas lindíssimas e, em particular, com a espectacularidade singularmente bem moderna de Vivaldi.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Abril de 2013

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