Governar é fazer
escolhas permanentemente. É com o seu próprio quadro de fundo de ideias
políticas e perante as diversas circunstâncias externas e internas que os
governos tomam as suas decisões que se reflectem na vida dos cidadãos. Num
quadro democrático, as decisões são balizadas pelas constituições e
instituições de controlo e fiscalização garantia dos necessários equilíbrios de
poderes mas também, quanto mais profundas e enraizadas estão as convicções de
liberdade e responsabilidade, pela própria opinião pública.Há igualmente
tratados e convenções internacionais que vinculam os países signatários,
criando obrigações e estabelecendo regras quanto a múltiplas áreas que vão dos
direitos humanos à proliferação de armas nucleares e às regras do comércio
mundial. Mais limitados ainda se encontram os países que escolhem pertencer a
uniões internacionais que estabelecem regras que limitam a sua própria
soberania, como ela é habitualmente definida; ainda mais limitados se encontram
os governos de uniões como a União Europeia que possuem uma moeda comum, o que
limita de forma drástica todo um quadro de escolhas na área da política cambial
e das taxas de juros.
O governo grego,
saído das eleições de 25 de Janeiro passado, encontra-se perante a necessidade
de fazer escolhas muito sérias para o futuro da Grécia, mas também para o
destino da União Europeia e dos países que a compõem. Após dois resgates e
consequente política de austeridade, os gregos deram ao Syriza a possibilidade
de aplicar as suas políticas, que o partido liderado por Alexis Tsipras
garantia poderem acabar com a odiada austeridade, colocando a Grécia no caminho
da recuperação económica enquanto repunha as medidas sociais.
Claro que,
pertencendo a uma União de países com diferentes visões e interesses próprios
em que todos os governos têm que responder perante os seus próprios
eleitorados, o novo governo grego encontrou enormes dificuldades em fazer
vingar os seus próprios objectivos, por mais apelativos e originais que fossem
os métodos utilizados. Encontra-se agora perante a necessidade de fazer
escolhas, para o que terá de ter a coragem de aceitar as respectivas
consequências. Até porque a situação financeira do estado grego é tão
desesperada que o governo transferiu para o tesouro todas as reservas detidas
pelos organismos do estado. A opção de tentar encontrar aliados externos à EU
com vontade e capacidade para fornecer o necessário financiamento não deu
resultados, pelo que já está retirada. Restam as negociações perante os
credores como o FMI que exigem o pagamento dos empréstimos e perante a União
Europeia refém das suas próprias regras e dos interesses dos diversos países
que a compõem. Escolha tanto mais difícil, quanto o tempo continua a passar, os
prazos de pagamento esgotam-se e a esmagadora maioria dos gregos pretende
manter-se no Euro.
Também para estas
situações a própria mitologia grega nos traz lições importantes. O Julgamento
de Páris conta como o jovem príncipe troiano se viu obrigado a escolher a mais
bela entre as três deusas Hera, Atena e Afrodite. Perante Páris, cada uma das
deusas fez por ganhar o julgamento. Assim, Hera ofereceu-lhe a Ásia e a Europa,
Atena prometeu torná-lo mais sábio; já Afrodite prometeu oferecer-lhe o amor da
mulher mais bela do mundo. Páris fez o seu julgamento e escolheu Afrodite como
a mais bela das três deusas. No entanto, a mulher mais bela de todas que lhe
foi oferecida era Helena, casada com Menelau, o que veio a dar origem à guerra
de Tróia com todas as suas consequências, nomeadamente a perda da sua vida e a
destruição da sua nação.
As escolhas têm
sempre consequências. Mesmo deixar passar o tempo pode significar a diferença
entre o sucesso e o completo desastre. O governo grego está perante uma
situação para a qual tem de escolher a solução, não adiantando atirar com as
responsabilidades para os outros. As consequências externas das suas opções
nestas semanas cruciais são importantes para os parceiros da União que têm
também a obrigação de levar ao limite os esforços para ir ao encontro de
soluções aceitáveis. Mas as consequências para os próprios gregos serão
imensamente mais graves, se o julgamento de Tsipras e o seu governo não for o
mais adequado.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 Abril 2015
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