Quando menos espera,
qualquer pessoa pode ter necessidade de cuidados médicos de emergência. Há uma
semana, foi isso que sucedeu ao autor destas linhas. Tinha acabado uma daquelas
chuvadas fortes que ultimamente caracterizam o nosso clima quando, descendo uma
antiga calçada, um pé escorregou e lá acabei sentado em cima desse pé, um
bocado torcido. Perante a necessidade de verificação da situação, lá tive que
escolher qual o hospital aonde me dirigir.
De acordo com os
comentários e artigos desfavoráveis às Urgências dos Hospitais da Universidade,
actuais CHUC, que lemos frequentemente na comunicação social, talvez o mais
prudente fosse dirigir-me a um dos novos serviços privados de saúde. Apesar
disso, resolvi recorrer às urgências dos CHUC já que, ao longo da vida, por
várias vezes fui doente daqueles hospitais, com doenças de maior e menor
gravidade e nunca tive razões de queixa. Confesso que ia um pouco a medo, de
tal forma aquelas urgências têm sido sistematicamente pintadas com as cores
mais escuras.
No entanto, o meu
testemunho das Urgências dos CHUC é exactamente o oposto daquilo que alguns nos
tentam fazer crer. Claro que a simpatia e cuidado colocado no contacto com os
doentes por parte do pessoal de secretariado, de enfermagem e médicos, passando
pelo pessoal auxiliar é sempre referido, mesmo pelos críticos, como sendo
excelente, colocando-se a tónica desfavorável na desorganização, falta de
meios, atendimento caótico, etc. Aquilo que fui encontrar é o oposto disso. Confirmo
que todo o pessoal com que contactei, desde a entrada até à saída, foi modelar
no atendimento aos doentes que naquele dia se encontravam nas urgências. Mas verifiquei
outras coisas. Desde logo, competência no pessoal e isso nota-se logo, pelo à
vontade e calma com que lidam com as diversas situações. Depois a organização.
A espera para a triagem foi perfeitamente aceitável, de poucos minutos. A
transferência para o serviço respectivo foi feita com rapidez. A consulta
médica foi também realizada sem que a espera se possa de alguma forma considerar
excessiva. Os exames de diagnóstico, no caso radiológicos, são feitos
localmente, sem grandes deslocações e a espera para os mesmos foi igualmente
reduzida. Devo dizer que em todos estes locais havia um relativamente elevado
número de doentes, não se podendo de forma nenhuma dizer que era dia de “folga”
às Urgências e posso dizer que eu próprio “ia na corrente” dos doentes, pelo
que a minha visão não está distorcida. A análise médica final e subsequente
diagnóstico da situação foram igualmente feitos pouco tempo depois do RX, cujo
resultado foi analisado directamente no computador pelo médico, sem necessidade
de impressões inúteis e dispendiosas.
Esta é a minha
experiência pessoal, que preferia obviamente que não tivesse sucedido. Mas que
me obriga a algumas, breves, considerações.
Desde a vinda da
Troika em 2011, o país teve necessidade de cortar custos em praticamente tudo o
que o Estado faz. Muitas vezes tal foi feito de forma cega, que só a urgência
da situação financeira do país justificou, embora por vezes não desculpando, talvez,
parte do que se passou. Uma das áreas em que se diminuíram custos de forma
drástica, foi a da saúde, concretamente o Serviço Nacional de Saúde. Ninguém
tem dúvidas disso. Mas para alguém se mostrar discordante com a austeridade
feita, a meu ver não necessita de cometer a injustiça de desmerecer e deitar
abaixo o trabalho meritório de tantos que se esforçam para, embora com menos
recursos, manter ou mesmo melhorar o serviço que prestam aos portugueses. Ao
longo dos anos os HUC/CHUC conquistaram um lugar cimeiro nos hospitais do país,
através da elevada qualidade dos serviços médicos que prestam. Notoriamente,
esse lugar mantém-se e cabe a todos nós, a começar pelos que directamente o
podem testemunhar, realçar essa qualidade porque, se é difícil alcançar um
lugar de topo em qualquer área, fácil é destruir essa situação através da
crítica destrutiva, quantas vezes sem razão e com objectivos que nada têm a ver
em concreto com o que se critica.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Maio de 2015
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