Eleição
após eleição, os europeus continuam a enviar recados para a classe política.
Desta vez foi o eleitorado do Reino Unido que falou alto e bom som. Claro que,
quem tapa os ouvidos, não ouve. Mas, por mais desculpas que tentem encontrar, o
problema é mesmo dos que não querem ouvir. E esses estão bem acompanhados, como
podemos verificar pela comunicação social e pelas agências de sondagens que
cada vez mais dão a sensação de viverem num mundo alienígeno bem afastado da
realidade.
Sucedeu
que, depois de meses em que as sondagens garantiam um empate entre Trabalhistas
e Conservadores, estes últimos tiveram uma vitória esmagadora que lhes garantiu
uma maioria absoluta no Parlamento, ao contrário da situação anterior em que
tiveram que fazer uma coligação. O líder trabalhista Ed Milliband, apesar de
ser um homem muito inteligente, decidiu voltar ao velho discurso do seu partido
anterior a Tony Blair, que significaria mais despesa pública, mais impostos,
mais défice e cedências aos sindicatos. No partido Trabalhista os líderes são
escolhidos pelos deputados e pelos dirigentes sindicais. David Milliband tinha
sido ministro dos Negócios Estrangeiros de Blair, com bom desempenho, tendo
criado uma imagem de trabalho e sensatez e candidatou-se à liderança do partido
Trabalhista.
No entanto, Ed Milliband candidatou-se contra o seu próprio irmão
David numa luta fratricida que não foi bonita de se ver e foi escolhido porque
este assumiu recusar aquela via, defendendo antes um caminho centrista, com
grande preocupação com o controlo das despesas públicas. O eleitorado britânico
respondeu agora com os resultados que se conhecem, mostrando ter receio de
voltar aos velhos tempos do trabalhismo sindicalista, preferindo-lhe mesmo a
austeridade de Cameron. Apesar de tudo, a economia britânica está agora a
crescer e o desemprego a diminuir, sendo as aspirações dos actuais eleitores
britânicos muito diferentes das de há uns anos. Se o recado para os restantes
eleitores europeus é claro, para os portugueses a atitude de Ed para com o seu
irmão e camarada de partido deve fazer pensar já que, mesmo em política, não é
admitir tudo, como os eleitores do Reino Unido terão percepcionado, embora as
sondagens não o dessem a entender.
A Europa
está a passar por um período difícil. Se os seus líderes souberem ler os sinais
que os cidadãos europeus lhes estão a enviar, será possível que os problemas
actuais sejam de crescimento e não de doença mortal. Devemos evitar a atitude
mais fácil que é a de desfazer em tudo o que de positivo a União já conseguiu e
trabalhar em conjunto naquilo que verdadeiramente interessa, que não será
certamente andar a perder tempo e dinheiro em definir as medidas aceitáveis da
banana e da maçã. Entre nós já se começa a ouvir, à esquerda e à direita, um
discurso anti partidos e anti políticos muito semelhante àquele que preparou a
aceitação generalizada do 28 de Maio de 1926. Hoje estamos integrados na União
Europeia, mas não esqueçamos que muitos sempre recusaram ideologicamente a
nossa integração europeia apenas tendo estado calados quando entrava muito
dinheiro e não era fácil fazer passar esse discurso. Há quem ande a recuperar
um discurso atlantista e anti europeu, como se as nossas antigas colónias ainda
estivessem à espera de nós para alguma coisa. Outros, ainda, parecem sonhar com
um papel salvítico de Portugal no mundo, citando Pessoa e António Vieira como
orientadores ideológicos, sabe-se lá para que fantasias. O futuro dos nossos
filhos e netos não depende de nada disso e sim de trabalho, organização, boas
contas e, acima de tudo, bom senso e integração aprofundada na Europa e na União
a que pertencemos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Maio 2015
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