A
avalanche de notícias das últimas semanas não é propícia a que outras novidades
importantes, mas fora do foco principal da atenção generalizada, tenham a
atenção que merecem. Ainda que num determinado dia surjam com algum destaque na
imprensa, são rapidamente esquecidas, levadas pelo imediatismo de que vive a
comunicação social.
Há
cerca de uma semana, Portugal foi admitido na Aliança M8, que é o mais
importante grupo de reflexão na área da saúde a nível mundial, tendo passado a
ser o 14º país e o 5º da Europa a fazer parte dele. A candidatura, que começou
a ser preparada há um ano, foi aprovada por unanimidade enquanto decorria a
Assembleia Geral da Cimeira Mundial da Saúde, que é a conferência anual da
Aliança M8 e que teve lugar em Berlim. Deve-se salientar que a candidatura
portuguesa contou com o patrocínio do Brasil e da Academia Portuguesa de
Medicina e ainda com o apoio do Charité, hospital universitário e universidade
de Berlim, bem como do Ministério da Saúde.
A
Aliança M8 constitui uma rede de excelência de Centros Médicos de Saúde
Académicos, Universidades e Academias Nacionais, a partir da qual se organiza
anualmente a Cimeira Mundial da Saúde, onde se analisam e discutem os cuidados
de saúde. É seu objectivo “promover a a
investigação transnacional, bem como a inovação na abordagem da prestação de
cuidados, almejando o desenvolvimento de sistemas de saúde eficazes na
prevenção da doença”. Além de Portugal que passou agora a integrar a
Aliança M8, fazem parte mais quatro países europeus, a França, a Inglaterra, a
Suiça e a Alemanha. Das instituições incluídas salientam-se, por exemplo, o
Imperial College do Reino Unido, a Sorbonne de França, a Universidade de São
Paulo do Brasil, ou a Bloomberg Escola de Saúde Pública John Hopkins dos EUA
Trata-se
do início da participação de Portugal no mais importante fórum mundial da
saúde, mas o seu significado é ainda mais importante para Coimbra. De facto,
Portugal é aqui representado pelo consórcio formado pelo Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC) e pela Universidade de Coimbra.
É
reconhecida desde há muito tempo a relevância da Saúde em Coimbra, quer pela
amplitude da oferta de serviços, quer pela qualidade e nalgumas áreas mesmo pela
excelência reconhecida a nível nacional e internacional. O estabelecimento do
consórcio entre o CHUC e a Universidade de Coimbra é apenas a formalização de
uma ligação que existe desde sempre, já que boa parte do ensino da Medicina em
Coimbra se faz no próprio CHUC. Foi, no entanto, importante para juntar
esforços através dos representantes máximos das duas instituições, mas também
por anexar os próprios ministérios da Saúde e da Educação, simbolizando uma
união de esforços concertada no objectivo da entrada de Portugal na Aliança M8.
Desta
vez, Coimbra conseguiu ser farol e agregar o país à sua volta, impondo-se não
por razões simbólicas ou de qualquer outro tipo, mas pela sua excelência e
capacidade de organização. E não se pense que foi muito fácil. Basta referir
que, tanto o Hospital de S. João do Porto, como o Hospital de S. Maria de
Lisboa estavam interessados em ser o representante português na Aliança M8,
tendo exercido influências, às vezes até exageradas, para que Coimbra mais uma
vez ficasse para trás.
Seria
injusto, perante este sucesso, não referir o nome do principal responsável para
que acontecesse. O presidente do Conselho de Administração do CHUC Dr. Martins
Nunes foi capaz de definir um objectivo muito difícil, que muitos considerariam
mesmo inacessível, estabelecer uma estratégia, construir a necessária rede de
aliados nacionais e proponentes internacionais, perceber donde vinham as
dificuldades laterais para as anular e lutar para levar a Instituição que
dirige a ocupar um lugar entre as melhores e mais influentes Escolas de
Medicina do mundo. Não é algo que seja vulgar em Portugal, mas em Coimbra é um
sucesso a salientar e que merece todo o respeito e admiração da nossa
comunidade. Parabéns pelo trabalho bem feito, Dr. Martins Nunes.
Mas
a importância desta entrada na Aliança M8 é feita em representação de Portugal.
Permite o acesso directo ao que de melhor se faz na Medicina e na sua
investigação no mundo, enquanto abre uma porta à Medicina portuguesa e aos
nossos investigadores.
Poder
escrever com toda a justiça o que vai no título desta crónica, “Coimbra no seu
melhor”, é uma satisfação enorme. Retirar uma notícia com uma enorme relevância
para a nossa comunidade da enxurrada das notícias que vêm e vão sem deixar
rasto e dar-lhe atenção pública é uma obrigação de cidadania.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 Outubro 2015
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