Há algumas semanas li uma interessante entrevista a
uma jovem que se rebelava publicamente contra o “estado de coisas”. Perguntada
sobre como se definia politicamente respondeu de pronto que era anti-capitalista;
questionada sobre se era comunista, respondeu que não.
Vivemos hoje numa sociedade em que a organização
económica em quase todo o mundo deriva do capitalismo ou, se se preferir outra
designação, economia de mercado. As excepções são uns restos do antigo modelo
comunista, como Cuba ou a Coreia do Norte, havendo ainda a China governada pelo
partido Comunista, mas com uma organização económica complexa que mistura puro
capitalismo de Estado, com livre iniciativa privada, embora rigorosamente
vigiada.
O colapso da União Soviética ocorreu em 1989, há
portanto 26 anos, o que significa, na realidade, que os jovens de hoje não
possuem qualquer memória pessoal sobre aquela realidade, desconhecendo em
absoluto as origens das posições ideológicas anti-capitalistas clássicas, sejam
as dos partidos comunistas clássicos, ou das dos numerosos esquerdismos maoismos,
trotzkismos, etc, sejam as de extrema direita.
No que diz respeito a Portugal,
o 25 de Novembro de 1975 está ainda mais longe, pelo que a sua memória
histórica aparece ainda mais diluída, com a ajuda do branqueamento levado a
cabo pelos próprios interessados que vão mantendo intactos os seus referenciais
ideológicos historicamente derrotados em 1989.
O capitalismo não é uma ideologia política,
constituindo antes uma forma de organização económica baseada na liberdade
pessoal e na livre iniciativa, sendo aquela que historicamente teve mais
sucesso. Tem facetas boas e tem facetas más. Para não irmos mais longe, o caso
da vigarice organizada pela Volkswagen à escala global, é o exemplo acabado de
como a ganância e a necessidade de os administradores apresentarem resultados
positivos e crescimento constante aos accionistas (os donos das empresas) podem
levar a enganar consumidores e autoridades fiscais do mundo inteiro.
A
desproporção de poder do capital das empresas perante os outros “stakeholders”
leva facilmente a estes abusos, pelo que a regulação e a capacidade de actuação
e independência de autoridades fiscais e entidades judiciais é essencial para
restabelecer o necessário equilíbrio.
Mas a indústria automóvel é igualmente uma das
demonstrações mais categóricas das capacidades positivas do capitalismo. Os
automóveis evoluíram desde o seu surgimento, sendo hoje tecnologicamente
avançados, oferecendo uma economia de combustível e uma segurança inimagináveis
até há poucos anos. Tal foi possível, pela competição entre os diversos
fabricantes do mundo inteiro, que foram sucessivamente absorvendo as inovações
tecnológicas que cada um ia conseguindo. A comparação com automóveis dos países
comunistas até aos anos noventa do século passado dava azo às mais diversas
anedotas, porque nos lembramos dos Trabant, Wartburg, Volgas e coisas
semelhantes que também tinham 4 rodas, mas mais nada que se comparasse ao que o
capitalismo consegue produzir.
O anti-capitalismo cresce entre a juventude de hoje,
sem que tal signifique uma posição política ditada por uma ideologia sustentada,
designadamente naquelas que vão até Marx ou Engels e que não dizem nada aos
jovens de hoje que vivem mergulhados na informação trazida pela internet
através dos tablets, computadores e telemóveis. Tudo isto, ironicamente,
produtos cuja existência e utilidade só foram tornados possíveis pelo
capitalismo e que, além do mais, promovem de forma extrema a liberdade
individual.
Mas todos esses aparelhos funcionam com software, tão ou mais
importante que os próprios equipamentos. E os produtores de software ganham
fortunas colossais a nível global mas, praticamente, não têm mão-de-obra, o que
contribui largamente para a má imagem actual do capitalismo, de que toda a
gente aproveita, mas que tanta gente detesta.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 12 de Outubro de 2012.
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