Passado que está o
período de eleições legislativas e formação do Governo que, embora minoritário,
foi aprovado por maioria na AR, é tempo de pensar no que interessa ao futuro
dos portugueses.
Na sequência de
quatro anos de austeridade ditada pela troika chamada por Portugal num momento
de incapacidade de assumir os seus compromissos internos e exteriores, a
evolução dos principais indicadores económicos e sociais chegou aos pontos de
inflexão e começou finalmente a permitir encarar o futuro com outra confiança.
Índices de desemprego e de emprego, produto e exportações deixaram a sua
evolução negativa e passaram para o lado favorável. Os únicos factores em que a
soberania nacional permite mexer depois da entrada no Euro, a despesa pública e
a dívida pública, entraram também no caminho do controlo, o que permite que se
larguem gradualmente as medidas de austeridade.
Mas não estamos
numa zona de facilidades, nem devido à nossa situação de contas públicas, nem
pela situação económica na União Europeia e no resto do mundo, pelo que o nosso
caminho futuro ainda está cheio de perigos.
Continua a ouvir-se
de forma bem audível que o caminho para Portugal deverá ser o crescimento
económico induzido pelo consumo, assim se substituindo a desnecessária
austeridade que se diz ter servido apenas para atrasar o país, por um caminho dito
verdadeiramente virtuoso. Argumenta-se que cortar no défice corresponde apenas
a cumprir ordens da União Europeia, em particular da Alemanha, pelo que
atingido o patamar dos 3% a descida deverá ser mais lenta, sendo o
correspondente aumento da dívida uma necessidade a renegociar, logo que
possível.
Acredita-se na via
keynesiana milagrosa: o crescimento económico vai fazer baixar o défice de
forma gradual, através de aumento das receitas fiscais e diminuição de despesas
sociais, por via da diminuição do desemprego. E como surgirá esse crescimento
económico? Fomentando o consumo pelo aumento do dinheiro disponível.
Acredita-se que, gastando-se mais, a economia crescerá automaticamente, como se
ainda fossemos um país fechado ao exterior, com importações limitadas administrativamente
e não um país pertencente a uma união económica e que importa grande parte do
que consome.
No entanto, a
verdade é que a questão fundamental da economia está nas empresas e na sua
capacidade de produção de forma competitiva. É no ambiente favorável ao bom
funcionamento das empresas que está o segredo do nosso crescimento económico.
Os impostos altos sobre as empresas reflectem-se de 4 formas: preços mais altos
nos bens que produzem, menos lucros, menos empregos ou salários mais baixos. Os
estimados neo-keynesianos, chamemos-lhes assim, hoje acompanhados entre nós por
marxistas-leninistas assumidos e ainda por trotskistas, poderão estar
convencidos que a taxação alta das empresas é absorvida por menos lucros dos
investidores ou que será possível aumentar os preços e venda dos produtos. A
realidade não é essa: quem perde são os trabalhadores com menos empregos e
salários mais baixos. A rarefacção do dinheiro, a extrema competitividade dos
mercados globalizados e a fraca capitalização das empresas leva a isso, não
haja dúvidas. E não vai melhorar, por mais que os esquerdistas radicais sonhem
que a economia num regime de capitalismo (agora é politicamente correcto
chamar-lhe liberalismo económico) funciona ou pode funcionar de acordo com as
suas ideologias ou sonhos utópicos.
Percebe-se a
aversão que muitos neo-keynesianos e companheiros de estrada têm à União Europeia
e ao Euro. Já não podemos pôr as rotativas a trabalhar e fazer notas para pagar
obras ou mesmo distribuir dinheiro.
Há apenas uma alternativa, como a Grécia
demonstra: cumprir regras ou abandonar o Euro. Fora disto, apenas a “apagada e
vil tristeza” do eterno ciclo dos resgates a querer dar razão ao general romano
que falava daquele povo na Ibéria que não se governa, nem se deixa governar.
O célebre
jornalista Henry Louis Mencken disse um dia que “para qualquer problema
complexo existe uma resposta que é clara, simples e errada”. É nisso que
devemos pensar quando todos os dias ouvimos tanta gente a querer mostrar que os
nossos problemas, designadamente os da economia que, lembre-se, gera os
impostos que pagam tudo, desde o Estado Social ao funcionamento da máquina do
Estado, funcionários e pensionistas incluídos, se resolvem de forma simples,
pelo aumento do consumo interno e automático crescimento económico. O caminho
de um futuro risonho é estreito e cheio de dificuldades. Não escolhamos o que
parece óbvio e mais fácil, mas que todos teremos que pagar com juros no futuro.
Nota: Gráfico da autoria de Jorge Costa.
Nota: Gráfico da autoria de Jorge Costa.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 14 de Dezembro de 2015
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