Picasso é um dos
pintores mais conhecidos do séc. XX, estando algumas das suas pinturas entre as
obras de arte mais significativas da História da Humanidade. O seu génio como
pintor revelou-se muito cedo, tendo sido orientado nos primeiros anos pelo pai,
ele próprio pintor, mas convencional e sem rasgo. Conta-se que, com menos de
catorze anos, entrou directamente para o último ano de uma escola de pintura,
tendo terminado num único dia um estudo sobre um nu que normalmente seria
trabalho para um mês.
São conhecidos e
sempre referidos os seus diversos períodos na pintura, como o azul, o cor-de-rosa
ou o cubista. No entanto, há outros aspectos da sua vida artística que merecem
atenção. A sua admiração pelos grandes pintores espanhóis é evidente. Não foi
por acaso que pintou uma extraordinária versão de “Las meninas” de Velasquez.
Tal como, ao observarmos a “”Guernica”, não podemos deixar de lembrar Goya e o
seu “fuzilamento de Maio de 1808”. Quanto a El Greco, Picasso manteve uma
admiração constante ao longo de toda a sua vida, com inúmeras obras inspiradas
em quadros do extraordinário pintor nascido em Creta, mas que desenvolveu
grande parte da sua vida artística em Espanha, depois de ter passado por Veneza
e Roma.
Há poucas semanas
tive a oportunidade de, mais uma vez, visitar o museu Picasso em Barcelona.
Para nosso deleite lá está o seu “Las Meninas”, bem como muitos dos estudos que
fez para esse quadro, além de outras obras-primas. Mas há algo que chama a
atenção naquele museu e que é essencial para perceber como se desenvolveu a
obra moderna de Picasso. Antes de se tornar no pintor vanguardista que tanto
influenciou a pintura moderna do século XX, Picasso passou por todo um processo
de aprendizagem, tendo retratos, paisagens e naturezas-mortas de uma qualidade
clássica irrepreensível, como o comprovam as obras existentes no museu. Sentiu
depois a necessidade de se libertar do academismo representativo da realidade
como a vemos exteriormente, como que passando para dentro dessa mesma realidade
e dando-nos a conhecê-la pelos diversos elementos que a constituem. A beleza da
pintura deixou de ser estática, interpelando intimamente e de forma inquietante
quem a observa e aí está o génio de Picasso. Da complexidade estrutural da
pintura representativa clássica, evoluiu para uma “aparente” simplicidade quase
infantil resultante da “explosão” dos diversos elementos integrantes do motivo
do quadro e transformando-os em simples objectos geométricos.
Por isso Picasso
brincava dizendo o que aparece no título desta crónica. Conta-se, a este
propósito, a história de uma senhora que lhe pediu um retrato que o pintor
executou com meia dúzia de traços e em poucos minutos. Quando lhe pediu a
conta, a senhora exclamou que era muito dinheiro para tão pouco tempo de
trabalho ao que o pintor respondeu que aquilo era o resultado do trabalho de
uma vida inteira, pelo que até era barato.
Além do tempo que
demora a ficarmos jovens, aqueles que ficamos, claro, é preciso reconhecer que
isso dá muito trabalho. E, como é evidente, tal não sucede apenas na arte mas
também na nossa vida. A simplicidade que advém do conhecimento interior da
sociedade e das pessoas permite distinguir o que é essencial do que é acessório
e o que é apenas revestimento artificial da realidade, escolhendo a verdade e
excluindo a mentira.
Pablo Picasso
deixou-nos no fatídico ano de 1973, em que a Humanidade perdeu três dos maiores
artistas do século XX, todos chamados Pablo.
Felizmente nos dias de hoje
podemos dizer que os artistas ficam para sempre connosco. Através das gravações
podemos continuar a ouvir Pablo Casals a tocar as suites de Bach no seu
violoncelo e pelos livros lemos os poemas eternos de Pablo Neruda.
Ambos com
uma vantagem sobre Picasso: é que para apreciar verdadeiramente as pinturas de
Picasso temos que nos deslocar perante elas como já fiz várias vezes com a
Guernica, o que não sucede com a audição de Casals e a leitura de Neruda que
podemos apreciar em casa.
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