O desenvolvimento
urbano de Coimbra que se verificou nas últimas décadas proporcionou o
surgimento de várias novas centralidades que vieram a retirar importância ao
velho centro que era a Baixa. Saíram serviços e ressentiu-se o comércio em
simultâneo com a fuga de moradores, ficando tantas vezes apenas idosos a viver
nos últimos andares dos edifícios, sem condições de habitabilidade condigna,
quanto mais confortável. As consequências económicas e sociais foram
inevitáveis e pesadas.
O ambiente urbano é
muito importante para uma sensação de bem-estar e segurança, quer de
utilizadores de passagem, quer de moradores, pelo que se torna crucial criar
condições para que seja o melhor possível.
Com esse objectivo,
a Câmara Municipal da nossa Cidade terminou as obras de reabilitação do
Terreiro da Eva. Este largo, que reúne três antigos pequenos terreiros, está
inserido numa zona das mais degradadas da baixa conimbricense. Era até agora um
espaço degradado, sem uma utilização definida, com algum estacionamento
desregrado. O projecto da recuperação urbana deste espaço é de grande
qualidade, com espaços de estar e de lazer, não esquecendo bancos e um
pavimento bem estudado que, só por si, traz animação visual. Não foi esquecida
a plantação de árvores, infelizmente uma raridade em toda a baixa. Foram,
assim, criadas condições para que moradores da zona e outras pessoas, incluindo
crianças, possam usufruir do ar livre para convívio, algo que a degradação
física urbana tem arredado da vida urbana do centro da Cidade.
Não se pode calar
uma das principais problemáticas da zona, que é a toxicodependência, pelas
consequências que tem na dificuldade de recuperação social plena da Baixa. No
Terreiro da Erva está localizado um equipamento de apoio aos toxicodependentes
que lhes oferece refeições. Lamento dizer, mas esta é uma daquelas ideias
cheias de boas intenções que se transformam elas próprias num problema talvez
ainda maior do que o inicial, de que toda a baixa sofre as consequências, sendo
necessário haver a coragem para o dizer frontalmente. De facto, numerosos
toxicodependentes passam o dia nas imediações dessa infraestrutura, atraindo
fornecedores de droga, não havendo aliás semana em que não haja notícia de
detenção de traficantes no local, e criando condições permanentes de perigo e
situações conflituosas, para além de ser frequente encontrar pessoas a
injectar-se na rua durante o dia, à frente de toda a gente – posso afirmá-lo
porque eu próprio já assisti a situações dessas. Uma antiga moradora ao lado do
equipamento da Caritas confirmou-me há alguns anos que tinha sido obrigada a
mudar-se da sua casa, porque não podia educar a sua filha convenientemente, com
aquele espectáculo de cada vez que entrava e saía de casa; casa, aliás, que
perdeu todo o seu valor, dado que não a consegue vender, pelos mesmos motivos.
A viabilidade da recuperação exemplar do edifício da antiga cerâmica de Coimbra
e que entrará em utilização plena em breve, também não deverá ser colocada em
questão por situações deste tipo mesmo à sua porta.
Curiosamente, na
mesma altura em que terminavam as obras do Terreiro da Erva, erguia-se uma grua
para obras de reabilitação de um prédio na Rua Direita e terminavam as obras
exemplares de recuperação de um edifício na Rua da Moeda.
Como eu bem sabia que
ia suceder, estamos agora a entrar finalmente num período de recuperação da
Baixa, que demorará uns anos dada a sua dimensão, mas que deverá agora ser
imparável dado o efeito de arrastamento positivo. Para algumas pessoas será uma
surpresa. Designadamente quem sobe o rio sem motor e escreveu que a SRU nada
fez enquanto existiu, tem agora oportunidade de olhar um pouco para lá das
margens estreitas, dado que todas as obras que referi tiveram de uma ou de
outra maneira a assinatura da extinta Coimbra Viva, havendo ainda muitas outras
a chegar nos próximos tempos.
Em democracia os
cidadãos têm o direito de criticar o que lhes parece estar mal, mas têm
igualmente o dever de louvar o que é bem feito. Coimbra está de parabéns por o
seu antigo centro estar finalmente a ser objecto da atenção devida, restituindo-se-lhe
a importância perdida face aos novos centros urbanos. E a Câmara Municipal deve
ser felicitada por isso, fazendo votos de que essa atenção não esmoreça,
permitindo que novos moradores venham dar vida à Baixa, agora com toda a
dignidade e as condições de conforto do tempo actual.
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