Eram tempos em que
os músicos profissionais portugueses encontravam poucas saídas para o seu
trabalho, embora as poucas orquestras existente fossem de altíssimo nível. Lisboa
e Porto eram as cidades-sede dessas orquestras. A actual situação é
completamente diferente. Há diversas orquestras profissionais com diferentes
formações mais ou menos completas um pouco por todo o país, desde o Norte ao
Algarve.
Isso tornou-se
possível por, em primeiro lugar haver escolas superiores a garantirem a
adequada formação musical e depois pela livre circulação de pessoas na Europa
que trouxe até nós muitos músicos que escolheram Portugal para viver e
trabalhar.
Embora ainda não
seja apoiada pelo Estado como outras orquestras designadas regionais, contando
fundamentalmente com o apoio financeiro da sua Câmara Municipal também Coimbra
tem, há 15 anos, uma orquestra profissional a trabalhar de forma ininterrupta, hoje
com uma formação clássica, a Orquestra Clássica do Centro.
Durante a última
semana, a OCC teve dois concertos importantes que demonstram a sua importância
para Coimbra e para a região Centro. No Dia 1 de Outubro em que se assinala o
Dia Internacional da Música, a OCC apresentou-se na antiga Igreja do Convento
de S. Francisco em Coimbra após a conclusão das obras de recuperação do
edifício. O programa incluiu uma Abertura do compositor português Marcos
Portugal que, curiosamente foi sempre mais tocado e conhecido no estrangeiro,
nomeadamente em Itália, do que no nosso país, a Sinfonia nº 35 de Mozart e o Concerto
para piano nº3 de Beethoven com o solista Artur Pizarro. O entusiasmo do
público traduzido pelos aplausos no fim de todas as peças foi evidente. A
actuação da orquestra dirigida pelo Maestro José Eduardo Gomes foi a prova de
quanto a falta do apoio do Estado à OCC é incoerente, injusta para a orquestra
e culturalmente lesiva para a cidade de Coimbra. Sendo actualmente reconhecido
como um dos maiores pianistas portugueses, Artur Pizarro foi brilhante em Beethoven
e ainda no Chopin que, fora do programa, ofereceu aos que naquela noite se
deslocaram a Santa Clara.
Uma semana depois,
a OCC foi a Castelo Branco apresentar-se noutro concerto, no Cine-Teatro
Avenida daquela cidade. Tratou-se de um concerto completamente diferente,
demonstrando a amplitude do seu actual repertório. O programa incluía a
Abertura Coriolano de Beethoven, o Concerto de Piano de Grieg e três obras da
autoria do compositor luso-cabo-verdiano Vasco Martins incluídas no último CD
editado pela OCC. O concerto resultou da colaboração entre a OCC e a ESART que
é a Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo
Branco, tendo vários alunos daquela escola sido incluídos na orquestra. O
solista ao piano neste concerto foi o brasileiro Steven Chervenkov que, embora
jovem, apresenta já um notável currículo internacional.
Castelo Branco, tal
como Aveiro, são cidades da zona centro que possuem ensino superior na área da
música, ao contrário de Coimbra onde existem Conservatórios que fazem um
excelente trabalho mas cujos alunos que pretendam seguir os seus estudos
superiores na área da música têm que procurar outra cidade para esse fim. Esta
é uma situação estranha, tendo em conta a oferta de ensino superior em Coimbra,
sabendo-se que os músicos profissionais, como por exemplo os da OCC, têm hoje
em dia estudos superiores com licenciaturas, mestrados e doutoramentos nas suas
áreas de trabalho.
As actuações da OCC
um pouco por toda a Região Centro, mas também fora dela, têm sido uma constante
ao longo da sua existência. O gosto pela música constrói-se, tocando-a e
levando-a junto dos públicos. Para que tal seja possível é necessária vontade e
o esforço de muitos, porque uma orquestra é um organismo extremamente complexo,
a diversos níveis, incluindo o financeiro. Razões para que a OCC passe
rapidamente a ser uma orquestra regional, garantindo-lhe a estabilidade
necessária para continuar a construir “gosto pela música”.
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