Francisco Martins foi um médico e músico de
Coimbra que nos deixou, para além da grande saudade da sua pessoa, uma obra
musical que a todos encanta de que refiro, por mais conhecidas, as Primaveras 1
e 2.
Visando perpetuar a memória de Francisco Martins,
mas também “promover valores musicais na área da composição, com a preocupação
de incentivar a produção e dar a conhecer novas obras que enriqueçam o
património bibliográfico musical”, a Orquestra Clássica do Centro criou o
Prémio de Composição Francisco Martins, cuja segunda edição decorreu este ano
depois de, no ano de 2016, ter sido agraciado, a título honorífico, o
compositor natural de Coimbra Sérgio Azevedo. O concurso acolheu nove
candidaturas, o que só por si diz bem do interesse que provocou no meio musical
e, em particular, entre os compositores portugueses mas reflecte também o
momento de grande dinamismo por que passa a música erudita em Portugal. Quando
muitos de nós imaginamos que a composição deste tipo de música é coisa do
passado, a realidade é que, antes pelo contrário, suscita o interesse de muitas
pessoas, boa parte delas jovens, que se lhe dedicam com o maior cuidado e
capacidade criativa, mesmo em Portugal.
O júri do Concurso era constituído por músicos de
reconhecida competência, desde logo pelo Maestro titular da Orquestra José
Eduardo Gomes e também pelos compositores Sérgio Azevedo e Luís Tinoco com
créditos mais que firmados no panorama nacional da composição na área da música
erudita. O júri seleccionou as obras originais de dois concorrentes, “GRAINS”
de Jorge Filipe Pinto Ramos e “MOSAICO” de Luís Filipe Leal de Carvalho.
No passado dia 17 de Novembro, foi possível ouvir
as duas obras num concerto pela Orquestra Clássica do Centro que teve lugar no
auditório do Conservatório de Música de Coimbra tendo os músicos da orquestra e
o público presente tido oportunidade de votar na obra que colheu a preferência,
logo após a interpretação das mesmas. Ambas as obras, cada uma com a sua própria
personalidade, são bem a prova da inspiração, mas também da capacidade técnica e
profissionalismo dos compositores que negam, na prática, que a música erudita
esteja já toda criada, havendo apenas espaço para a interpretação de obras de
compositores do passado, mais ou menos consagrados. A música contemporânea pode
exigir mais dos ouvintes, dos intérpretes e, acima de tudo, dos compositores,
mas as peças finais deste concurso mostram bem o grande nível a que este tipo
de composição chegou entre nós. Recordo aqui o saudoso Jorge Peixinho que,
decerto, bem apreciaria o trabalho dos novos compositores portugueses.
Enquanto decorria a votação dos músicos, o
público teve a oportunidade de ouvir a Dra. Isabel Santos Lopes, que sublinhou
que "a música e a poesia são duas artes que podem estar em perfeita
harmonia", evocar aspectos da vida do poeta conimbricense Camilo Pessanha
e ler três dos seus poemas mais marcantes, dado que se assinalam este ano os
150 anos do seu nascimento.
Quer os músicos, quer o público escolheram a obra
“MOSAICO” apresentada a concurso pelo compositor Luis Carvalho, que foi depois
novamente interpretada, colhendo uma ovação entusiástica por parte do público
presente. Esta obra, sendo grande contemporaneidade, contém uma harmonia
intrínseca que a torna de fácil adesão por parte de quem ouve.
A prestação da Orquestra Clássica do Centro
regida pelo Maestro José Eduardo Gomes demonstrou novamente o alto nível que
atingiu, colocando a Cultura de Coimbra no que à música erudita diz respeito,
ao nível do melhor que se faz em Portugal, apreciação essa que foi publicamente
feita por Sérgio Azevedo e Luis Tinoco.
A capacidade de realização de um concurso desta
natureza, que se reveste sempre de alguma complexidade, o sucesso no elevado
número de obras originais entregues a concurso e o comprovado valor artístico
das obras apresentadas neste concerto constituem um sucesso da OCC e uma mostra
do que é, indiscutivelmente, COIMBRA NO SEU MELHOR.
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