Ao fim da viagem, os magos chegaram finalmente a
Belém da Judeia. Tinha sido uma viagem longa a que tinham decidido fazer
aqueles que, vindos de locais díspares da Europa, da Ásia e de África, se
tinham encontrado enquanto seguiam a estrela que acreditavam ser o sinal divino
que os guiaria até ao rei dos judeus, o Messias, que tinha nascido em Belém.
Chamavam-lhes reis, talvez mais por respeito pela sua imponência e manifestação
exterior de riqueza; magos seriam, pelos seus grandes conhecimentos dos
movimentos dos astros, conhecimento esse muito importante para a organização da
vida humana e não por praticarem magia. Para a História ficaram os nomes de
três, Gaspar, Baltazar e Melchior, eventualmente os mais importantes, mas
seriam talvez mais, algumas dezenas, não há certezas sobre isso. Segundo a
tradição, Gaspar e Melchior seriam brancos e o outro, Baltazar, negro. A ordem em
que seguiam seria indiferente, mas de pelo menos um menino eu sei que no seu
Presépio colocava sempre Baltazar no meio, para não se sentir tratado de forma
diferente, caso em que seria o último.
Sabendo que tão distintos visitantes haviam
chegado ao seu reino, o rei Herodes deu-lhes as boas vindas, ficando assim a
saber do nascimento do “rei dos judeus” que os magos tinham vindo venerar,
pedindo-lhes que, no regresso, o visitassem de novo com novas do recém-nascido,
para que ele próprio o pudesse ir visitar. Herodes tinha sido nomeado rei dos
judeus pelos romanos uns 40 anos antes, depois de Pompeu ter conquistado
Jerusalém e ficou receoso de que o seu poder fosse ameaçado pela chegada ao
mundo de Jesus Cristo, o messias. O rei Herodes ficou famoso na História por
ter realizado importantes obras em Jerusalém, reconstruindo o Templo de Salomão
que até àquela altura já havia destruído por diversas vezes, em diversas
conquistas de Jerusalém pelos povos mais diversos, desde egípcios a jebusitas,
assírios, babilónios e romanos, passando por Alexandre o Grande, numa contínua
espiral de violência que continua nos dias de hoje.
Os reis magos encontraram o menino que procuravam
embrulhado em panos e deitado numa manjedoura num estábulo, já que os seus pais
vindos da Nazaré a Belém para proceder ao recenseamento ditado pelos romanos
não tinham encontrado lugar na estalagem. Imagem que ficaria marcada na
tradição cristã a que, doze séculos mais tarde, um ecologista radical amante da
simplicidade e dos animais chamado Francisco juntaria dois animais, uma vaca e
um jumento, fixando o presépio como ainda hoje o conhecemos.
Os reis magos prostraram-se
em adoração perante o menino e fizeram as suas oferendas: ouro, incenso e mirra, simbolizando o que na altura havia de mais valioso.
Ao regressarem já não passaram pelo palácio de Herodes que ficou assim sem
saber o paradeiro do menino que receava lhe viesse a retirar o poder. E reagiu
da forma mais violenta, mandando matar os primogénitos de todas as famílias em
Belém com menos de dois anos.
O Pai do menino, que sabia bem não ser o seu pai
biológico como hoje se diz tomou porém, fosse prevenido por um daqueles anjos
que naquele tempo andavam pela Terra a ajudar as pessoas ou por alguém
simplesmente condoído pela sorte que esperaria aquele menino, a decisão de
levar a família para bem longe de Herodes. E assim aqueles refugiados fugiram da
Judeia e se foram abrigar no Egipto, de onde apenas regressaram à sua terra,
Nazaré, após o desaparecimento do rei. Herodes é uma personagem histórica que
acabou por ter o papel fundamental de datar todos os acontecimentos
relacionados com o nascimento daquele Menino Jesus que, ao contrário do que ele
receava seria rei, mas não do reino que era o dele.
E não, não é por a
Natividade se renovar todos anos que nos impressiona. É porque, infelizmente,
os motivos que a tornam numa excepção amorosa e indicadora de caminhos a seguir
se mantêm hoje como há 2.000 ou mesmo mais anos. As diversas formas de
violência, incluindo a religiosa, mas também o racismo, a xenofobia, a
exploração infame e, acima de tudo, a não aceitação do Outro como ele é, exigem
um Natal que não seja uma festa comercial e de hipocrisia, mas sim o natal dos
simples e bondosos de há dois mil anos. E é desta forma que, no dia 25 de Dezembro
de 2017, desejo Feliz Natal a toda a família do Diário de Coimbra, desde quem o
faz a quem o lê.