Há quem se entretenha a encontrar divisões e mesmo
lutas internas decorrentes dos resultados da eleição interna, das escolhas do
novo líder para a sua Direcção do Partido e até com as eleições internas dos
Deputados eleitos pelo PSD, para a Direcção do seu Grupo Parlamentar. Tudo isso
são manifestações de velhas zangas pessoais mal resolvidas, ódios recalcados e
até, por vezes, afloramentos de uma deficiente formação democrática que só
ficam mal a quem a apresenta, e que não interessam nada para o futuro do PSD e,
fundamentalmente, para o futuro de Portugal, esperando-se que o seu destino
seja o rápido esquecimento.
Desde o desaparecimento de Francisco Sá Carneiro
em Dezembro de 1980, o PSD foi liderado por Francisco Pinto Balsemão, Nuno
Rodrigues dos Santos, Carlos Mota Pinto, Rui Machete, Aníbal Cavaco Silva, Fernando
Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, Luís
Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos
Coelho e agora Rui Rio. Ao olhar para a lista não podemos deixar de fazer
algumas observações. Desde logo, são muitos nomes, tendo a duração média da
liderança sido ligeiramente inferior a três anos, o que não pode deixar de ser
significativo. De todos eles, apenas Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos
Coelho foram primeiros-ministros na sequência de vitórias eleitorais e destes,
apenas Cavaco Silva e Passos Coelho cumpriram mandatos de forma integral, tendo
Cavaco Silva sido também Presidente da República. Dois destes líderes exerceram
o cargo de Primeiro-Ministro por herança, digamos assim, que foram Pinto
Balsemão e Santana Lopes a que se seguiram pesadas derrotas eleitorais do PSD.
Depois, da maioria dos líderes guarda-se apenas uma recordação que se vai
esbatendo no tempo, não tendo deixado marcas sensíveis no país, por mais dignos
de consideração pessoal e política que tenham sido e foram-no, certamente.
A actual liderança do PSD segue-se à de Passos
Coelho que decidiu, por sua própria vontade, afastar-se. Encontra uma situação
invulgar na história do PSD e até da nossa Democracia que exige respostas
diferentes das experimentadas no passado. De facto, a coligação PSD/CDS foi
vencedora nas eleições de 2015, mas um acordo até então inédito entre as
esquerdas permitiu ao Partido Socialista formar Governo de forma estável,
embora seja minoritário na Assembleia da República.
Rui Rio tem uma larga experiência política, não só
como Presidente da Câmara do Porto, mas também como Deputado e ainda como
dirigente partidário, já que foi Secretário-geral do PSD ao tempo em que
Marcelo Rebelo de Sousa foi Presidente do Partido. Tem as suas próprias
características pessoais, que alguns militantes apreciarão mais e outros menos,
sendo isso o que menos importa. É o Presidente eleito do PSD e ganhou o direito
a definir a estratégia partidária para levar o partido à vitória, único objectivo
eleitoral que interessa ao PSD e única maneira de ter oportunidade para
concretizar as suas ideias para a governação do país.
Muitas das suas actuais intervenções,
designadamente no que respeita a encontrar consensos com o Partido Socialista
em áreas importantes para um maior e, fundamentalmente mais sustentado e justo
desenvolvimento do país têm grandes probabilidades de serem votadas ao
fracasso, atendendo aos actuais acordos do PS à esquerda que lhe oferecem a
oportunidade de ocupar todo o aparelho do Estado sózinho, sem ter ganho as
eleições. Mas não será por isso que deverão ser deixadas na gaveta. A
responsabilidade da sua rejeição será de quem prefere outros caminhos e não de
quem manifesta disponibilidade para encontros que não signifiquem caminhos
juntos ao estilo “bloco central”, mas capacidade de olhar estrategicamente para
o futuro comum e não a simples gestão do dia-a-dia, aproveitando circunstâncias
externas momentaneamente favoráveis.
O PSD corre, no entanto, riscos evidentes ao
tentar alcançar acordos com o PS para áreas políticas em que considera isso
necessário, mas que poderão não ser sentidos como prioritários por muitos
eleitores. São os de aparecer como colaborante com um Governo de quem é
oposição e que não precisa disso para nada, ou então de dar a entender que é candidato
a substituir de alguma maneira o BE e o PCP em acordos governamentais, ainda
que tal não corresponda à realidade. Essa é uma ideia que, por um lado irritará
inevitavelmente um vasto eleitorado que, ao fim de quatro anos do actual
governo não poderá deixar de associar o PS àqueles dois partidos e, por outro,
frustrará a natural ambição eleitoral de vitória dos militantes e simpatizantes
do PSD. E, se há alguma coisa que a Democracia exige, é que haja oposição forte
e consistente na afirmação das suas alternativas políticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário