Na Quinta das Lágrimas foi hoje homenageado o magnífico Reitor Rui de Alarcão, recentemente falecido. Entre as diversas projecções, foi incluída a foto de uma crónica que escrevi sobre o homenageado, que muito admirava e que fazia o favor de me dar preciosos conselhos, sempre que tínhamos oportunidade de conversar. Saudade imensa.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sábado, 30 de março de 2019
BREXIT
Ontem foi 29 de Março de 2019. A data prevista para a saída do Reino Unido da União Europeia. Saída que não houve. E O Reino Unido está cada vez mais desunido, dando uma imagem lamentável da sua vida parlamentar tão antiga que tem servido de modelo às democracias ocidentais desde há séculos. Se fosse preciso mais uma prova da degradação britânica desde o desaparecimento do seu império, ela aí está. Infelizmente, qualquer que seja a saída da situação criada, haverá sequelas graves no país e em toda a Europa.
sexta-feira, 29 de março de 2019
quinta-feira, 28 de março de 2019
Defesa da intimidade pessoal
Muitas vezes não acreditamos em certas coisas. A não ser quando acontecem connosco. A vigilância que as grandes empresas da internet exercem sobre nós começa a ser aterradora.
Ontem mandei um mail, pela conta gmail, para a editora de uma revista internacional de economia. Zás! Hoje começou a aparecer no meu "feed de notícias" do facebook, como por acaso, publicidade à assinatura da revista. Podia pensar que é uma coincidência, mas não é. Já é a segunda vez que detecto uma circunstância deste tipo.
Ontem mandei um mail, pela conta gmail, para a editora de uma revista internacional de economia. Zás! Hoje começou a aparecer no meu "feed de notícias" do facebook, como por acaso, publicidade à assinatura da revista. Podia pensar que é uma coincidência, mas não é. Já é a segunda vez que detecto uma circunstância deste tipo.
terça-feira, 26 de março de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
CONFIANÇA!
Embora não tenhamos imediata consciência desse facto, a nossa vida depende cada vez mais de algo intangível como é a CONFIANÇA. Durante muitos milhares de anos o Homem teve uma relação directa com a Natureza, que lhe fornecia tudo aquilo de que necessitava. E assim, aproveitando e modificando o que o rodeava, foi evoluindo e desenvolvendo sociedades cada vez mais cultas e sofisticadas. As revoluções industriais clássicas não alteraram a relação com o que nos rodeia em substância, apenas permitiram a construção de cada vez mais objectos que nos foram facilitando a vida e criando melhores condições para enfrentar as dificuldades que a própria Natureza ainda nos cria.
Contudo, houve um momento em que o desenvolvimento
industrial levou a uma alteração radical na relação individual de cada um de
nós com aquilo que nos rodeia e que sofreu uma enorme artificialização. Todos
nós passámos a ser utentes de algo que muda permanentemente, que não conhecemos
em detalhe e que qualquer um de nós nunca poderia replicar, caso disso tivesse
necessidade. Apenas sabemos como utilizar.
É aqui que entra o conceito de confiança. O mundo actual
baseia-se na confiança, que se tornou algo de fundamental. Contudo, como todos
sabemos, a confiança em seja o que for, pode demorar anos a construir-se para
desaparecer em escassos momentos. Desde o que comemos, aos remédios que
tomamos, aos transportes que utilizamos e, mais recentemente, àquilo que
consumimos e partilhamos no mundo digital da internet, só o podemos utilizar
porque acreditamos que são conformes a regras pré-estabelecidas que garantem a
segurança e nos transmitem confiança como utilizadores.
Os recentes acidentes com os novos aviões Boeing 737 MAX
8 são um grave teste a essa confiança. O primeiro ocorreu em Outubro passado na
Indonésia e foi encarado como mais um dos, felizmente, raríssimos acidentes
aéreos que todos sabemos acontecerem de vez em quando devido a diversas causas,
mas que não nos retiram a confiança em entrar num avião. Contudo, um segundo
acidente com um avião idêntico no dia dez deste mês e, sobretudo, em circunstâncias
muito semelhantes às do acidente anterior, provocou ondas de choque por todo o
mundo que levou a deixar em terra todos os aviões daquele modelo.
As primeiras informações sobre as causas dos dois
acidentes apontam para um factor comum, uma falha num determinado sensor que
indica uma falta de sustentação das asas ligado a um sistema que,
automaticamente, obriga o focinho do avião para baixo, para recuperar a
sustentação. Falhando o sensor, o sistema assume a falta de sustentabilidade e
actua como descrito. Sucede que estes novos aviões não prevêem procedimento
manual alternativo em caso de avaria, deixando os pilotos na desgraçada
situação de não poderem fazer nada contrário às ordens dos computadores de
bordo. E assim se despenharam dois aviões novos, matando 349 pessoas.
A evolução da tecnologia é uma constante, e a aviação
comercial não existiria como a conhecemos hoje, se tal não sucedesse. Contudo,
nos últimos anos assistiu-se a uma desregulação no fabrico dos aviões, fazendo
as autoridades americanas, encarregadas da regulação, fé nos relatórios dos
fabricantes. Parece ter sido este o caso, tendo a Agência Nacional de Aviação
dos Estados Unidos aceite sem discussões um relatório técnico da Boeing sobre o
novo sistema.
É evidente que, quer a Boeing, quer a autoridade reguladora
americana, estão agora a estudar o desenvolvimento do sistema para que este
tipo de acidente nunca mais volte a suceder. Entretanto, estes aviões estão
todos no solo aguardando pelas alterações e muitas vendas foram já suspensas ou
mesmo anuladas, causando prejuízos gigantescos a um dos dois maiores
fabricantes de aviões comerciais do mundo.
Mas o maior prejuízo será certamente a perda da confiança
na aviação civil, sendo grave chegarmos ao ponto de não poder confiar nos
próprios fabricantes dos aviões e pior, nas autoridades reguladoras.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Março de 2019
Eça
O busto de Eça de Queirós no Penedo da Saudade, em Coimbra. Está como ar de quem andou a meter o nariz onde não era chamado.
Boas notícias
Mensagem recebida do CHUC:
Vamos dar-lhe uma boa noticia.Hoje ajudou a salvar uma vida!Transfundimos a dadiva de sangue que efectuou para o SSMT CHUC em 12-03-2019.Muito Obrigado
Vamos dar-lhe uma boa noticia.Hoje ajudou a salvar uma vida!Transfundimos a dadiva de sangue que efectuou para o SSMT CHUC em 12-03-2019.Muito Obrigado
quarta-feira, 20 de março de 2019
CHEGADA DA PRIMAVERA
Logo, às dez da noite chega a Primavera. No equinócio da Primavera, a Eclíptica passa para o lado de cima do Equador e, no hemisfério Norte, os dias começam a ser maiores que as noites. É o ponto vernal, importante por servir de referência para as coordenadas celestes e nossa orientação.
Mas, como a Arte sublima a realidade, aqui fica a Primavera que interessa. Deve-se a Botticelli.
terça-feira, 19 de março de 2019
DIA DO PAI
Neste dia, em especial, recordo o meu Pai de quem, à medida que o tempo passa, mais saudades tenho. A falta que um Pai faz não se descreve e suporta-se sabendo que é a lei da vida. Ajuda pensar nos filhos e netos, mas a distância física é também difícil e as fotografias que se observam ao mínimo pormenor apenas ajudam um pouco.
segunda-feira, 18 de março de 2019
A ACADEMIA DE COIMBRA NAS INVASÕES FRANCESAS
A Academia de Coimbra tem uma
longa História, contando com alguns episódios que bem mereciam sair do
esquecimento generalizado. A actuação do “Corpo Militar Académico de Coimbra”
durante as Invasões Francesas constitui um marco histórico e demonstra como a
Universidade pode não se manter alheia da Cidade e, antes pelo contrário,
participar decisivamente na vida colectiva, mesmo nos momentos mais difíceis.
Na primeira Invasão, Junot chegou
a Lisboa à frente do seu “exército da Gironda” em 30 de Novembro de 1807,
apenas para ter a decepção de ver ao longe os últimos navios que, rumando ao
Brasil, levavam a corte portuguesa que assim se furtou a ter que receber os
invasores. Bem depressa as promessas de boa colaboração e respeito por parte de
Junot se esfumaram, sendo o símbolo maior a substituição das bandeiras das
quinas pelas tricolores no Castelo de S. Jorge. E, em 1 de Fevereiro seguinte,
a regência portuguesa foi substituída por um governo em nome de Napoleão. Não
demorou muito para que o povo se começasse a rebelar contra os franceses, um
pouco por todo o país, com início no Porto, mas tendo Coimbra aderido a esse
movimento, logo em 23 de Junho de 1808. A guarnição francesa que se encontrava aquartelada
no antigo Colégio de S. Tomás, ao fundo da então chamada Rua de Sta. Sophia foi
atacada e aprisionada, tendo o povo subido à Universidade e nomeado seu
governador o Vice-Reitor Manuel Aragão Trigoso que designou José Freire de
Andrada como governador militar. Como primeira acção militar foi definido o
ataque ao Forte da Figueira da Foz, onde se encontrava uma guarnição francesa
que dispunha de artilharia que fazia falta para a defesa de Coimbra. O comando
da unidade encarregada do ataque foi entregue a um aluno da Universidade, o
sargento Zagallo que, à frente de uma pequena força composta por algumas
dezenas de voluntários, na sua maioria estudantes, se dirigiu à Figueira da
Foz, tendo-se-lhe juntado uns 3.000 populares pelo caminho. O sucesso total da
operação foi apenas o início de uma notável actuação do “batalhão académico” ao
longo da tragédia que as três invasões francesas significaram para Portugal e
para o seu povo.
No início daquele Verão de 1808
Coimbra preparou-se energicamente para dar luta às forças comandadas por Loison
(o tragicamente célebre “Maneta”) que se acreditava estarem em Viseu preparadas
para vir atacar a cidade. Foi assim que o Lente de Química Doutor Tomé
Rodrigues Sobral transformou o laboratório da Universidade numa fábrica de
pólvora e o Doutor José Bonifácio Andrada e Silva dirigiu uma equipa de
professores e alunos da Universidade para fundir balas, enquanto noutro local
se fabricavam armas e outros apetrechos para a guerra. Formou-se então o “Corpo
Voluntário Académico” que uniu professores e estudantes da Universidade em 6
companhias de infantaria, uma companhia de cavalaria e outra de artilharia. O
comando foi entregue ao Lente de Matemática Tristão Álvares da Costa Silveira.
Estes voluntários foram fardados condignamente, sendo identificados por uma
chapa com os dizeres: “Voluntário Académico” e “Vencer ou morrer por D. João
VI”.
O “Corpo Voluntário Académico” viria
a ter acção destacada nas duas primeiras invasões, tendo participado também na
terceira, na defesa preventiva de Coimbra, perante a retirada das tropas de
Massena.
De entre os numerosos voluntários
académicos que participaram valentemente na guerra das Invasões Francesas, é de
referir dois deles, pelo destaque que viriam a ter posteriormente, durante o
liberalismo: Rodrigo da Fonseca, aluno do 1º ano de Matemática e Filosofia e Joaquim
António de Aguiar, aluno do 1º ano jurídico.
Perante a tragédia, Cidade e
Universidade foram capazes de se fundir inteiramente e responder ao terrível
desafio colocado, provando que unidas são mais fortes. Que nos sirva de lição,
a todos.
NOTA AOS LEITORES: Algum grau de
pormenorização desta crónica só foi tornado possível pela informação preciosa
contida no opúsculo comemorativo do 1º Centenário da Guerra Peninsular
publicado em 1918, da autoria de Fernando Barreiros, intitulado “Notícia Histórica
do Corpo Militar Académico de Coimbra (1808-1811).
Texto publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Março de 2019
segunda-feira, 11 de março de 2019
A REGIONALIZAÇÃO, DE NOVO
De uma forma ainda algo
encapotada, a questão da regionalização vai sendo reintroduzida na agenda
política nacional. Vem um pouco à boleia da chamada “descentralização” aprovada
pelo actual governo e que consiste, basicamente, na transferência, para os
municípios, de determinadas competências que hoje são governamentais. Contudo,
as propostas de transferência não foram acompanhadas do envelope financeiro
necessário para que as autarquias possam exercer as novas competências, embora
se prometa que tal se fará mais tarde. Não estando essa despesa prevista no
Orçamento Geral do Estado a desconfiança sobre o processo de financiamento é
inteiramente legítima. Umas por essa razão, outras por não concordarem com as
próprias competências a transferir, uma parte das autarquias recusou a “oferta.
Não certamente por acaso, já se começou a ouvir falar na necessidade de criação
de taxas para tornar sustentáveis as novas competências das autarquias. Ora, tratando-se
de transferência de competências hoje asseguradas e se as autarquias vão ser
compensadas financeiramente para as receber, a que propósito é que os cidadãos
vão suportar ainda mais impostos/taxas?
Todo este processo é um mau
indicador para a discussão da regionalização, que começa a aflorar. Como é
sabido, a criação de regiões administrativas encontra-se prevista na própria
Constituição de 1976. Já houve uma tentativa para criar as regiões em 1998 mas
o respectivo referendo, obrigatório por revisão constitucional de 1997, não foi
vionculativo devido à elevada abstenção; de qualquer forma, a rejeição da
proposta de criação de 8 regiões administrativas por mais de 60% dos votantes
deu uma boa indicação do que os portugueses pensavam então sobre a proposta que
tinha sido aprovada pelo PS, PCP e PEV na Assembleia da República.
As perguntas a fazer pelos
portugueses e que terão de ser respondidas serão: quais são realmente os
obstáculos que têm impedido o crescimento da nossa economia nos últimos trinta
anos, em particular desde o início do século? A regionalização é uma solução
para esses problemas? Será mesmo a melhor solução, isto é a mais eficiente?
Relativamente ao ordenamento do território, há hoje necessidade de criar um
patamar intermédio entre o Estado central e os Municípios e as CIM’s?
Na realidade, o ordenamento do
território não parece hoje precisar de um patamar de decisão política
intermédio. O país já está dotado de um número de equipamentos muito superior
às necessidades pelo que a economia de escala deveria ter sido adoptada há
trinta ou quarenta nos, estando hoje ultrapassada, por excesso. Quando se fala
em regiões pensa-se sempre na distribuição de fundos europeus. Pois bem, mesmo
aí a questão essencial não é espacial e sim funcional. A economia é que
necessita de financiamento porque, com as actuais dívidas monstruosas ao
estrangeiro, o capital é a principal carência do país. Bem podemos alindar as
vilas e cidades que não será isso que criará riqueza, nem atrairá populações
para as zonas interiores.
A criação das regiões
administrativas não irá, por si, resolver os problemas graves que temos a nível
de justiça, de educação, de saúde, de produção económica, de competitividade,
não constituindo, portanto, um ganho de eficiência a nível nacional. Nem sequer
trará a reforma administrativa de que o país necessita a nível de municípios e
freguesias. Tal como não resolverá os problemas do actual sistema eleitoral,
que promove o afastamento dos eleitores dos seus representantes.
As regiões administrativas iriam
criar um novo nível de decisão política, afastando ainda mais os decisores
nacionais dos problemas concretos e das populações. De caminho resolveriam,
isso sim, o problema dos numerosos políticos que hoje já não encontram lugar no
sistema e que teriam acesso a toda uma nova oferta de lugares que se abriria. E
que, não tenhamos dúvidas, necessitaria de mais dinheiro dos impostos, só para
existir.
Por outro lado não deixa de ser
significativo que, mesmo prevista na Constituição, a regionalização administrativa
nunca foi concretizada. E isso devia acender as luzes vermelhas da prudência e
levar a perguntar sobre os verdadeiros motivos que levam a levantar esta
questão.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Março de 2019
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