Do Jornal de Negócios:
«...31 de março de 2017, António Costa ladeado por Mário Centeno dá uma conferência de imprensa a manifestar-se confiante na solução encontrada de venda ao fundo Lone Star. Foi com esta comunicação que se encerrou um dossier que durava desde 2014, desde uma resolução bancária do antigo Banco Espírito Santo, imposta pela U.E. num modelo que não voltou a repetir, depois do governo de Passos Coelho ter negado o apoio da CGD ao BES. A Lone Star é considerada uma gestora de fundos “abutres”, ou “sucateiros”, que investe maioritariamente em ativos, dívida ou empresas, complicados ou em stress. Desmantela os ativos, ou parte deles, geralmente vendendo-os a outros fundos “sucateiros”.
Esperar que a Lone Star se comportasse de forma diferente no Novo Banco seria uma ingenuidade, e nem António Costa ou Centeno são ingénuos, nem mal informados. Se a isso juntarmos um livro de cheques em branco no valor de 3,9 mil milhões de euros, do chamado Mecanismo de Capital Contingente MCC, para eventuais imparidades em vendas, temos um convite a que o NB o fosse gastar todo na limpeza, eventualmente com a ajuda de outros fundos “amigos”, dentro do que é a sua prática normal. Este mau regime de incentivos, sancionado por Costa e Centeno, permite que se façam más vendas de ativos porque as perdas são para o MCC cobrir, até o limite considerado, não afetando o banco ou o acionista maioritário. E uma venda a desconto, suspeita para alguns, pode ser uma excelente venda, ao melhor preço possível, ou uma venda incompetente, nunca se poderá saber em concreto para ativos deste tipo. Dolo ou conluio é que dificilmente se conseguirá provar. Resta a fé na ética e nas boas práticas da gestão. Certo que a auditoria dirá isso mesmo e de qualquer forma, se o Fundo de Resolução aprovou as vendas dos ativos, é um negócio simples entre privados onde o Estado e a falsa indignação política não têm lugar face aos contornos da venda.
Resumindo, o Governo PS, com apoio formal e orçamental do BE e PCP, aprovou a venda a um fundo “sucateiro” com práticas necrófagas, normais para ele e legais, com licença para gastar até 3,9 mil milhões. Vamos lá todos abafar este caso e fingirmo-nos todos ofendidos. Alguém em 2046 que pague e limpe…»
https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/mao-visivel/paulo-carmona/detalhe/onde-estao-os-incentivos
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