segunda-feira, 22 de novembro de 2021

LÍDERES ATÉ À MORTE


Na recente reunião à porta fechada do Comité Central do Partido Comunista Chinês foi aprovada, com votos de braço no ar, uma resolução que abre o caminho para que o líder chinês Xi Jinping possa iniciar um terceiro mandato de cinco anos no próximo ano. Em comunicado oficial do PCC, referem-se «as conquistas históricas» alcançadas pela China sob a sua liderança. A agência Reuters adianta mesmo que «o pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características para uma nova era» é assim mesmo ensinado nas escolas às crianças chinesas.

Nada que não se tivesse já visto antes na China comunista. O fundador da República Popular da China, Mao Tse Tung, governou o país durante trinta anos desde a sua fundação em 1946 até à sua morte em 1976. Mao, cujos “pensamentos” foram seguidos acriticamente por grande parte da intelectualidade ocidental como Sartre, promoveu uma reforma agrária com uma brutalidade indescritível e lançou reformas económicas visando a construção do socialismo como o “grande salto em frente” que provocaram milhões de mortos, muitos deles por suicídio, ou à fome. Nos últimos dez anos da sua vida lançou a “Revolução Cultural” que provocou a morte de milhões de chineses e sofrimento brutal a muitos mais.

A tendência para os líderes dos regimes comunistas se perpetuarem no poder pode parecer, à primeira vista, uma incongruência. Na realidade, a simples constatação de que é algo de sistemático, como a História tem mostrado, é a prova de que está na genética desses regimes.


Estaline liderou a União Soviética logo após a morte de Lenin em 1924 até à sua morte em 1953. Exerceu o poder de uma forma despótica através do exercício extremo do terror. A “grande purga” não poupou os camaradas do partido comunista a uma média superior a 300 pessoas executadas por dia durante cinco anos, normalmente com um tiro na nuca. Isto para além dos milhões enviados para os campos de concentração do Gulag em que muitos morreram e ainda dos milhões de russos e ucranianos mortos à fome.

Josep Broz Tito ascendeu à presidência da Jugoslávia comunista alguns anos depois do fim da II Grande Guerra, em 1953, tendo sufocado com mão de ferro as pulsões independentistas das várias nações agregadas na Jugoslávia. Governou até à sua morte em 1980, após o que o país se desmembrou, originando as guerras sanguinárias que se conhecem e ainda hoje não completamente resolvidas.

Ceauscecu foi o líder do partido comunista da Roménia a partir de 1965, acumulando com a presidência do país a partir de 1974. Ficou conhecido pelo seu autoritarismo, mas também pela forma como a sua polícia política, a Securitate, vigiava e controlava todo um povo. A sua mulher Elena acompanhava-o num culto da personalidade, tendo construído um palácio mastodôntico em Bucareste, à medida dos seus egos. O fim de ambos surgiu em 1989 com a queda dos regimes comunistas da Europa de Leste, que ditou o seu assassínio após um julgamento relâmpago.

Henver Hoxha deteve o poder na Albânia comunista ocupando vários cargos desde 1944 até à sua morte em 1985, apesar de problemas graves de saúde o terem seixado diminuído a partir de 1973. De uma forma que hoje nos parece incompreensível, o seu modelo político era apresentado como ideal por forças políticas de esquerda ainda nos anos 70 e 80, apesar do estado miserável em que deixou o seu país.

Fidel Castro liderou a revolução cubana no final dos anos 50, tendo exercido o poder com o partido comunista e sem quaisquer outros partidos até 2008, ano em que, por razões de saúde, passou a liderança ao seu próprio irmão, Raúl Castro, vindo a falecer em 2016.


Kim Jong-un é líder da Coreia do Norte, que exerce desde 2012 através do partido comunista que lá se chama Partido dos Trabalhadores da Coreia. Nascido em 1983, herdou o poder do seu pai Kim Jong-il que por sua vez o recebeu de seu pai e fundador do regime, Kim Il-sung, que reinou de 1948 até à sua morte em 1994. Escrevo «reinou», porque é efectivamente disso que se trata: uma monarquia comunista.

Termino esta crónica com este exemplo, por ser o que mais longe leva o exercício pessoal do poder por parte de líderes comunistas, mas muitos mais tem havido por esse mundo fora, desde que Lenin, Trotsky e seus camaradas levaram por diante a revolução russa de 1917 e a tentaram exportar para todo o mundo.

Tenho amigos comunistas que são excelentes pessoas e cidadãos exemplares mas que, quando confrontados com esta realidade nunca a reconhecem, adiantando explicações que derivam de uma fé de nível religioso, ou então com afirmações sobre as experiências históricas nunca terem sido verdadeiramente comunistas e pertencerem ao passado, aguardando-se ainda pela perfeição. Contudo, o que se está a passar neste momento na China não é passado, é presente, e é importante para todos nós já que a China sempre foi, é e vai cada vez mais um dos países mais fortes do mundo a nível populacional, económico e mesmo militar.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 22 de Novembro de 2021

Imagens recolhidas na internet

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