O funcionamento das sociedades actuais exige, para além da tomada de decisões e mesmo da sua execução, uma adequada Comunicação sem a qual os seus destinatários poderão não compreender o seu alcance ou mesmo discordar sem razão para o fazer. A Comunicação tornou-se parte do próprio processo de decisão, permitindo ir aferindo as sensibilidades das populações e mesmo a sua evolução com o tempo e assim ir ajustando as medidas tomadas com determinado objectivo.
É sabido que o mundo se tornou uma aldeia global, podendo também usar-se uma classificação semelhante para os países, independentemente da sua dimensão. A velocidade estonteante a que correm as notícias e a facilidade de acesso de todos os cidadãos a meios que até há pouco tempo estavam reservados a empresas de comunicação social vieram alterar toda a relação entre decisores e os cidadãos em geral.
Esta nova realidade tem aspectos altamente positivos, mas também perigos reais, caso os receptores das mensagens não estejam devidamente preparados e mesmo atentos ao circunstancialismo actual da informação. Perigos esses que têm essencialmente duas origens possíveis, embora haja mais: manipulação das notícias pelos próprios decisores e construção de narrativas paralelas por quem tem capacidade de utilizar os meios para o fazer, dentro do circuito inicial da informação ou mesmo após a sua divulgação. Também as «fake news» são hoje bem conhecidas, fazendo o termo já parte do nosso quotidiano; Quem não se lembra de Donald Trump, mas também do antigo ministro dos estrangeiros iraquiano, para não falar da actualidade trágica de Putin? A Comunicação é ainda muitas vezes confundida, propositadamente ou por ignorância, com publicidade ou mesmo propaganda. Isso acontece com produtos comerciais, mas também na actividade governativa aos seus mais diversos níveis, desde nacional a local.
Por vezes, com uma frequência bem maior do que seria de desejar e mesmo a um nível em que tal é apenas puramente inaceitável, assistimos a governantes que atiram para cima da Comunicação a responsabilidade das suas decisões erradas. O caso recente do Ministro Pedro Santos é, sob essa perspectiva, paradigmático. A sua decisão de avançar de forma voluntarista e sem qualquer base política ou técnica séria para uma solução relativa ao novo aeroporto de Lisboa constituiu, em si mesma, um disparate completo indo mesmo ao arrepio do que pouco antes havia sido dito pelo próprio Primeiro-Ministro António Costa.
Contudo, ao apresentar-se perante o país numa posição de humildade que de tão forçada a muitos pareceu totalmente hipócrita visando apenas a manutenção do poder, lá foi referindo um suposto erro de comunicação como a causa do sucedido. Já o Primeiro-Ministro, ao aceitar a manutenção no Ministro, seja lá por que razão for, mas que os colocou mal a ambos, classificou o sucedido como um erro grave. E não falou em Comunicação, porque não quis branquear a atitude do Ministro, mas também porque se há alguém em Portugal que sabe de Comunicação política é ele próprio e não confunde as coisas.
A Comunicação pressupõe verdade e profundo conhecimento do assunto a que se refere, tal como capacidade para uma eficaz utilização dos meios ao dispor e ainda dos objectivos a atingir e do circunstancialismo do receptor a quem se dirige. Quando isto é esquecido e se utiliza apenas com objectivos escondidos ou hipócritas torna-se em algo muito feio e condenável, sem respeito pela dignidade daqueles a quem se dirige. Os quais, mais cedo ou mais tarde, tomarão consciência disso mesmo e serão eles, que no fundo são quem democraticamente tem a palavra final, a perder o respeito por eles e a dar-lhes o destino merecido.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Julho de 2022
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