Seja qual for a perspectiva pela qual se observe a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, não é possível deixar de a considerar como um sucesso completo. Claro que se tratou de um encontro de carácter religioso organizado pela Igreja Católica e esse será o primeiro olhar a ter. Juntar cerca de um milhão e meio de jovens numa iniciativa católica nos dias de hoje é, só por si algo de excepcional. Mais importante ainda, a mensagem transmitida pelo Papa que, a ser seguida pelos participantes só poderá ser muito positivo para o mundo. Mas a forma como decorreram toda a JMJ, desde o comportamento dos jovens até à organização em si foi igualmente exemplar. Outro aspecto muito importante teve a teve com as instalações e as obras que lhe estiveram associadas. Em particular, o enorme espaço ribeirinho junto à foz do Trancão, bem perto da Parque Expo, que se encontrava até agora ainda por recuperar para a Cidade. Em muito pouco tempo as obras feitas proporcionaram a possibilidade de juntar um milhão e meio de pessoas num mesmo local. Toda aquela zona foi beneficiada, ficando agora ligada a um percurso ao longo do rio Tejo com dezenas de quilómetros de extensão, possibilitando ainda a realização futura das mais variadas realizações colectivas, de que a próxima Semana Académica de Lisboa será só um exemplo. Trata-se de mais um exemplo de como os portugueses conseguem superar dificuldades quando a tarefa é urgente, por mais volumosa e complexa que seja.
Tal como Portugal foi capaz de organizar a Expo 98, projecto de grande dimensão que, para além de construir o certame, obrigou a recuperar uma área considerável que se encontrava num estado de degradação e poluição incríveis. Foi possível fazer tudo em tempo e horas e a Cidade beneficiou largamente dessa organização.
Assim como foi possível, a um nível mais reduzido, por se tratar de projectos mais pequenos e dispersos pelo país, levar a cabo os POLIS que foram executados e bastante beneficiaram as cidades que os receberam. Coimbra é bem o exemplo disso com a construção do Parque Verde que finalmente possibilitou uma ligação dos conimbricenses ao Mondego.
Ou os estádios de futebol do Euro2004. Independentemente da bondade da decisão, que não é isso que está aqui em causa, fomos capazes de concluir tudo em tempo, tarefa que não foi nada fácil.
Estes exemplos mostram como temos capacidade para realizar projectos bem definidos no tempo, por maior complexidade de que se revistam.
Algo que contrasta de forma chocante com a incapacidade de levar a cabo tarefas prolongadas no tempo que exijam capacidade de organização, mas também persistência e esforço continuado. Precisamente o que demonstrámos ao mundo durante quase todo o sec. XV. Foram oitenta e poucos anos de organização, capacidade tecnológica, método, aplicação de ciência e essencialmente persistência no foco. Depois tivemos a dominação filipina mas, quando recuperámos a independência com a dinastia dos Bragança, abraçámos o sistema extrativo vivendo das riquezas vindas do Brasil e de África.
Actualmente o sistema político tornou-se novamente extractivo, no que se tornou num verdadeiro vício, conjugando a maior carga fiscal de sempre com a vinda de um milhão de euros de fundos europeus por hora. Será mesmo essa a razão para a total incapacidade para reformar tudo aquilo que é necessário e urgente reformar, desde a Educação à Saúde, da Justiça à Segurança Social, das forças de segurança às Forças Armadas. Tudo o que exige competência, mas sobretudo vontade política e perseverança que promovem crescimento sustentado. Algo muito diferente do nosso famoso “desenrascanço” que, à última hora, nos permite organizar feiras, campeonatos ou encontros e festivais os quais, por mais apelativos e importantes que sejam naquele momento em que são promovidos, rapidamente passam para a categoria de memórias.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 14 de Agosto de 2023
Imagens recolhidas na internet
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