Tendo em conta apenas, aproximadamente, os últimos 150 anos a Europa tem sido palco de diversas guerras que, observadas à distância temporal, acabam por surgir todas encadeadas e com nexos de causalidade entre si, ainda que tenham ocorrido com algumas dezenas de anos de intervalo entre elas.
Entre 1870 e 1871 ocorreu a Guerra Franco-Germânica que, na sua essência, constituía uma consequência das anteriores guerras napoleónicas. Embora de curta duração, a sua importância histórica foi enorme. Por um lado, a vitória dos alemães permitiu a unificação alemã com Guilherme I, incluindo a anexação prussiana da Alsácia-Lorena. Do lado francês ditou a queda de Napoleão III e o início da Terceira República Francesa tendo ainda dado origem à breve Comuna de Paris cujo povo se recusava a aceitar a derrota francesa.
Não passaram muitos anos até que a Alemanha estabelecesse alianças sucessivamente com a Áustria/Hungria e com a Itália na que ficou conhecida como a Tríplice Aliança. Em resposta a França, que alimentava desejos de vingança contra a Alemanha pela guerra anterior, constituiu com a Grã-Bretanha a Entente Cordiale que passou a Tríplice Entente com a adesão da Rússia. Com estas alianças militares no terreno, faltava apenas um detonador para a guerra generalizada. Tal aconteceu com o assassinato em Sarajevo do arquiduque Francisco Ferdinando. A guerra que se seguiu determinada pelos líderes das duas alianças, que eram quase todos primos entre si, veio a ser conhecida como a Primeira Guerra Mundial. Durou quatro anos entre 1914 e 1918, causando mais de 20 milhões de mortos, entre civis e militares. Ditou ainda o fim de quatro impérios europeus, o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Russo e o Império Turco-Otomano. O seu fim coincidiu também com o início da Revolução Soviética na Rússia e com o desenvolvimento e posterior poder das ideologias ultra-nacionalistas: o fascismo e o nazismo.
Os termos do Tratado de Versalhes que fechou a I Grande Guerra viriam a ditar, poucos anos depois, a militarização da Alemanha com Adolf Hitler e uma nova guerra terrível: a II Guerra Mundial entre 1939 e 1945, esta mais próxima de nós, já que terminou apenas nove anos antes de eu ter nascido. Morreram mais de 80 milhões de pessoas.
Seguiu-se o que se costuma chamar Guerra Fria entre o Ocidente liberal e a União Soviética comunista que só viria a terminar com a implosão da URSS em 1991. Após um breve período em que pareceu possível a amizade entre a Rússia e a Europa ocidental, em Moscovo passou a mandar um antigo oficial do KGB que depressa orientou o país para o antigo ímpeto imperialista russo. Assim surgiu a invasão da Ucrânia, que se desenrola desde há três anos.
Nos momentos anteriores a todos estes conflitos bélicos havia dois caminhos possíveis: o da paz e o da guerra. E ninguém podia imaginar as consequências da escolha. Só a História nos informa sobre o que realmente aconteceu, isto é, depois do sucedido.
Estamos novamente num desses momentos com a Guerra na Ucrânia. O que nos trouxe até aqui e o presente, todos conhecemos. Mas o futuro, não.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Outubro de 2025
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