terça-feira, 23 de dezembro de 2025

NATAL

 

Daqui a três dias temos de novo o Natal. O dia que se convencionou ter sido o do nascimento de Jesus Cristo é tradicionalmente especial para as crianças. Todos nos lembramos dos natais da nossa infância e fazemos por que as crianças de hoje, sejam filhos ou netos, se sintam especialmente felizes pelas prendinhas, mas essencialmente pela festa da reunião das famílias.

Celebra-se um evento de inocência e alegria cujas circunstâncias especiais foram sintetizadas no Presépio imaginado por Francisco de Assis, sendo a sua Mensagem tão forte que persiste por séculos e ultrapassa fronteiras geográficas, sociais e mesmo religiosas. Mas o Evangelho de Mateus acrescenta uma nota tragicamente humana a esta festa do nascimento de Cristo. Logo depois a sua família teve de fugir para o Egipto a fim de escapar à matança de crianças levada a cabo por Herodes.

A guerra e os refugiados que provoca estão assim presentes, mesmo no Natal. E este Natal de 2025 não foge ao que parece ser uma regra: a Humanidade não consegue viver muito tempo sem guerra. Os ucranianos vão passar o seu quarto Natal a defenderem-se de um invasor que lhes leva a morte e um sofrimento sem limites, apenas porque pode, ou pensa que pode. Não se percebe como é possível um país invadir outro para o conquistar em pleno sec. XXI, nesta Europa que é também nossa.

Mas a guerra na Ucrânia não é a única a decorrer no mundo neste Natal. A faixa de Gaza ainda não conhece verdadeira paz num conflito que já provocou milhares de vítimas e uma destruição imensa com uma multidão de refugiados sem casa e sem uma vida normal. No Sudão decorre há dois anos um conflito quase esquecido com milhares de mortos e muitos mais refugiados. Em Myanmar continua a guerra civil.

Ainda em África continuam as perseguições levadas a cabo por grupos militares apoiados por potências estrangeiras contra escolas e comunidades cristãs. É o caso da Nigéria, do Mali, do Chade. Mesmo no norte de Moçambique os ataques das milícias muçulmanas têm levado a morte a dezenas de aldeias, provocando a fuga de milhares de refugiados, mal se percebendo a falta de resposta adequada das autoridades.

É também esta a época em que se sente mais o sofrimento dos doentes, sejam próximos ou não. O tradicional Natal dos Hospitais aí está para o provar, e ainda bem. Quando chegamos a uma idade mais avançada, é quase impossível não ter sempre alguém da família ou amigo com problemas oncológicos ou doenças neurodegenerativas. A medicina tem visto avanços ainda há poucos anos impensáveis, a que a inteligência artificial vem dar uma ajuda inestimável, mas a verdade é que ainda há doenças de cura difícil.

No Natal é costume apelar aos “homens de boa vontade” para que façam os possíveis para que a Humanidade viva um pouco mais em paz e que a guerra, a fome e o sofrimento deixem de ter uma presença tão viva num planeta que é só um e de todos nós.

Pensando em todos os que não têm possibilidade de viver esta época em paz e amor em família, formulo a todos os colaboradores e leitores do Diário de Coimbra os votos de Boas Festas, um Feliz Natal e um bom ano de 2026.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 22 Dezembro 2025 

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